Pra quê servem os amigos?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Todo mundo já ficou na mão, foi arrastado para uma furada, ficou no prejuízo ou ajudou na mudança do colega pão duro.
Eu, por exemplo, quase fui preso por causa daquele que deveria zelar pelo meu bem. Isso porque o camarada, no primeiro ano de direito, sim no primeiro, falou demais, na hora errada, com o tom errado, para o policial errado. Aos curiosos: mantive o réu primário e não cometi nenhuma ilicitude.
Não só isso. Quem nunca terminou um relacionamento e ouviu um surpreendente “Ufa, finalmente”. Até o término, mudez, depois, verborragia. Minha solidariedade aos que ficaram a espera de um milagre, ou seja, aguardando o infeliz chegar ao compromisso marcado.
A mesma amizade já me fez alimentar um gato por motivo de viagem, double date com gente chata, ser assaltado na marginal e quase perder carro em enchente. Suspeito que eu não seja o único com amigos assim. Desconfio que essa seja uma uma experiência realmente humana, duvido que suricates tenham surpresas em relacionamentos não familiares.
O curioso é que a pandemia resolveu essa situação como um todo. Nada favores ou furadas. Com todo mundo em casa em parte considerável em 2020 e, com todas as restrições de 2021, os rolês foram minguando e as histórias rareando. Tanto é que não tenho nenhum dedo para apontar ou acusação a fazer.
O Netflix me serve com perfeição e a Alexa só diz o necessário. Nenhum silêncio constrangedor porque alguém falou mais do que devia na frente da sua namorada(o) . De incomodo mesmo, só o perene vazio aqui de casa.
A mesma casa que já cansei. Já não aguento o som do silêncio, não suporto o trajeto quarto-banheiro-cozinha, “happy” hours patrocinados com as mesmas pessoas das calls. Meu cachorro que me perdoe, mas ele também já faz parte da rotina pandêmica.
Pra que servem os amigos? Eu não sei. Só queria continuar a descobrir na mesa do bar ou assustado com um policial com as algemas na mão. Se nada apocalíptico acontecer (bate na madeira), seguirei com as minhas deficitárias porém acompanhadas pesquisas.
Imagem de capa - O tipo de imagem enganosa que a Globo mostra sobre as amizades - Photo by Jed Villejo on Unsplash
Este artigo foi escrito por Daniel Manzano e publicado originalmente em Prensa.li.