Primavera fintech: o que está crescendo no setor financeiro?
Depois do hype, as flores. Tecnologia, inclusão e confiança moldam um novo ciclo de inovação no setor financeiro brasileiro e global.
Em meio a um cenário de amadurecimento digital, regulamentações mais abertas e maior penetração de inteligência artificial, o setor financeiro global — em especial o brasileiro — vive o que muitos estão chamando de uma “primavera fintech”.
Não se trata de um boom repentino, mas de uma fase de florescimento contínuo, após anos de experimentação tecnológica e mudanças de comportamento no consumo de serviços financeiros.
Na Prensa Open de hoje, analisamos como esse movimento tem três motores principais:
o avanço da inteligência artificial generativa nas finanças,
a consolidação do embedded finance;
e o fortalecimento da agenda de inclusão e segurança digital.
A era da IA generativa: personalização em escala
A inteligência artificial já era uma aliada de bancos e fintechs na automação de processos e na análise de risco. Mas em 2025, o setor dá um salto qualitativo com a entrada da IA generativa, capaz de criar experiências hiperpersonalizadas. O Itaú Unibanco, por exemplo, anunciou um assistente financeiro com IA generativa que será lançado ainda neste semestre, capaz de fornecer sugestões de investimento e gerenciamento de gastos com base nos hábitos do cliente. (O Globo)
Segundo a McKinsey, a IA generativa pode adicionar entre US$ 200 bilhões e US$ 340 bilhões por ano ao setor bancário global. O desafio, agora, é equilibrar automação com transparência e controle ético, principalmente em mercados emergentes como o Brasil, onde a base de clientes é extremamente diversa.
Embedded finance: quando o banco está em todo lugar
Outra grande tendência consolidada em 2025 é o chamado embedded finance — a oferta de serviços financeiros por empresas que não são, em essência, instituições financeiras. Apps de delivery com contas digitais, e-commerces com crédito direto ao consumidor e plataformas de gestão de freelancers com contas e antecipação de recebíveis são apenas alguns exemplos.
De acordo com a consultoria Bain & Company, esse mercado pode atingir US$ 7 trilhões globalmente até 2030. No Brasil, onde a informalidade e a bancarização parcial ainda são desafios reais, o embedded finance tem sido essencial para ampliar o acesso ao crédito e aos meios de pagamento.
Inclusão financeira na prática (e não só no discurso)
A promessa de democratizar o acesso aos serviços financeiros finalmente começa a sair do campo do marketing. Startups como a Pomelo e a Clip têm estruturado soluções voltadas para empreendedores de baixa renda e populações desbancarizadas na América Latina, enquanto o open finance e o Drex (o real digital) pavimentam novas possibilidades de participação.
No Web Summit Rio 2025, representantes dessas empresas reforçaram a importância de desenhar soluções financeiras que respeitem contextos sociais e econômicos locais. A primavera fintech só será completa se essa inclusão se traduzir em autonomia financeira e estabilidade para os usuários.
Segurança, confiança e o papel da regulação
Com o aumento da digitalização, cresce também o risco. Em 2024, o Brasil foi o segundo país com mais tentativas de fraudes digitais no setor financeiro da América Latina, segundo a empresa Veriff. A resposta das fintechs tem sido investir em biometria, IA antifraude e verificação descentralizada, enquanto o Banco Central avança com regulações sobre identidade digital e o uso ético da inteligência artificial.
O futuro da inovação passa, necessariamente, por um pacto de confiança entre tecnologia, usuários e reguladores.
A metáfora da primavera fintech não é à toa: o setor floresce após um longo inverno de incertezas regulatórias. Mas o momento também exige cuidado, observação e preparo para os desafios das próximas estações. A tecnologia por si só não é garantia de justiça ou inclusão — ela é a ferramenta.
2025 nos mostra que o futuro financeiro será cada vez mais inteligente, integrado e, espera-se, mais justo. Mas como toda primavera, esse florescimento é transitório se não for sustentado por raízes profundas em ética, propósito e responsabilidade.
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