'A primeira regra do Fuchsia é você não fala sobre o Fuchsia'
Imagem: Canva/Logo Fuchsia
O Google tem despertado por anos curiosidade sobre o desenvolvimento – quase – secreto do sistema operacional Fuchsia.
Descoberto em 2016, o projeto foi construído do zero com código aberto, ou seja, a comunidade de desenvolvedores pode ver seu código fonte e propor melhorias e alterações. Pensado para rodar em qualquer dispositivo, seu uso está sendo mais aplicado em sistemas embarcados, os famosos dispositivos inteligentes, como o Google Nest Hub.
Quem tem a 1ª geração do dispositivo Nest Hub provavelmente já está usando o Fuchsia OS e ainda nem percebeu. Isso porque, de acordo com o The Verge, a intenção do Google é fazer uma transição sutil entre os sistemas operacionais, de forma que a experiência do usuário seja basicamente a mesma.
Uma cor e um mistério
O Fuchsia é um projeto no qual o Google vem trabalhando sorrateiramente há mais de 5 anos, criando especulações e gerando dúvidas sobre a finalidade da plataforma. Seria o Fuchsia OS um novo sistema para substituir o Android em celulares e tablets?
De início, o que a internet sabia era que esse seria um novo começo para o Google, usando um sistema operacional que não usa Kernel Linux – núcleo de código básico que sustenta o Android e o Chrome OS.
Dessa forma, qualquer um pode utilizá-lo para criar sua própria distribuição do sistema operacional, seguindo seus termos de uso e distribuição. Ao invés do Google ter desenvolvido o Fuchsia em cima desse Kernel, eles usaram outro microkernel chamado Zircon.
Com alta escalabilidade em sua estrutura, o Fuchsia OS é altamente versátil, podendo funcionar tanto em dispositivos avançados, como celulares e computadores, quanto integrar hardware em dispositivos de carros, relógios e até sinais de trânsito.
Em 2017, Dave Burke, vice-presidente de engenharia do Android, comentou que o Fuchsia era um projeto experimental assim como vários outros projetos interessantes que estão em desenvolvimento no Google. Ele continuou dizendo que “Temos algumas pessoas muito inteligentes nisso. [...] Então, é um pouco emocionante ver o que vai acontecer.”
Na época, Burke ainda afirmou que o projeto era definitivamente diferente e independente do Android.
A internet continuava sem entender por inteiro o propósito do software e o que representaria para o futuro do Google. Então, em 2018, Travis Geiselbrecht, um dos desenvolvedores da equipe do Fuchsia, foi contra o comentário de Burke, dizendo: "[O Fuchsia] não é um brinquedo, não é um projeto de 20%, não é uma lixeira para jogarmos algo morto, que não nos importamos mais."
E, com isso, o Fuchsia hibernou.
Em dezembro de 2020, a gigante da internet anunciou que o sistema operacional de código aberto do Fuchsia estaria recebendo contribuições do público. Disse ainda que “O Fuchsia foi projetado para priorizar a segurança, capacidade de atualização e desempenho.”
Um site próprio foi criado para a plataforma, onde todos que se interessassem poderiam acompanhar a evolução ao longo dos anos. Também foram abertos canais para receber o feedback da comunidade (por e-mail e por um portal “issue tracker”).
Com tamanha empolgação, especulações sobre o potencial do Fuchsia continuaram a ganhar força, questionando se o sistema seria o novo Android ou o novo Google OS. Com isso, Hiroshi Lockheimer, chefe de equipe do Android e Chrome, esclareceu que “O Fuchsia é sobre empurrar o avanço em termos de sistemas operacionais e coisas que aprendemos com Fuchsia e que podemos incorporar em outros produtos.”
Ainda cercado de muito mistério, algumas peculiaridades do sistema foram sendo descobertas por internautas curiosos. Entre as descobertas, houve um suposto vazamento que sugeria uma futura fusão entre a Samsung e a Fuchsia, com a Google implementando suporte nativo para aplicativos Lunix e Android no Fuchsia; e os preparativos da Samsung para adotar o sistema no futuro.
A grande estreia do Fuchsia OS
Para surpresa de todos que estavam acompanhando avidamente o crescimento do Fuchsia, e imaginando quando iria finalmente ficar disponível para o público, o sistema não chegou primeiro para os smartphones.
Foi com a 1ª geração da tela inteligente que dá corpo ao Google Assistant que a empresa, discretamente, introduziu o Fuchsia OS. A mudança quase imperceptível é uma estratégia do Google, que pretende testar o sistema em cenários limitados, colocando-o como uma troca nada chamativa para testar sua versatilidade em casos de uso específicos.
Imagem: Dan Seifert/The Verge/Reprodução
É cedo demais para dizer se o Fuchsia irá substituir o robozinho. Como o próprio site do sistema descreve “Fuchsia é um esforço de código aberto para criar um sistema operacional de nível de produção que prioriza a segurança, capacidade de atualização e desempenho. Fuchsia é a base para os desenvolvedores criarem produtos e experiências duradouras em uma ampla gama de dispositivos.”
Ainda existe muito tempo e espaço para que o Fuchsia se desenvolva e amadureça, antes de pensar em uma possível substituição do sistema Android, que está em constante evolução.
O que o Fuchsia tem é potencial para oferecer muito mais do que ainda podemos imaginar. E os internautas curiosos certamente vão cobrar.
*Dave Burke: The first rule about Fuchsia is you don’t talk about Fuchsia.