Quais os desafios do afroempreendedorismo no Brasil?
Atualmente, há um movimento crescente de afroempreendedores trabalhando para criar oportunidades para si e para sua comunidade.
Mas, nem tudo é tão simples. Apesar de alguns avanços realizados nos últimos anos, os empreendedores negros ainda enfrentam uma série de desafios, por exemplo: preconceito, financiamento e falta de apoio do governo.
Por isso, é importante entender quais são essas dificuldades, a fim de tentar minimizá-las e contribuir para o avanço do afroempreendedorismo no Brasil. Saiba mais neste artigo.
Afroempreendedorismo: qual o significado?
O termo “afroempreendedorismo” refere-se à propriedade e gestão de empresas por pessoas negras.
No Brasil, os afroempreendedores enfrentam muitos desafios, incluindo acesso ao capital, falta de redes de negócios e discriminação racial.
Apesar desses obstáculos, há um número significativo de afroempreendedores no país. Inclusive, muitos estão usando a tecnologia e as mídias sociais para se conectar com os clientes e construir suas marcas.
Como o afroempreendedorismo surgiu no Brasil?
A primeira onda do afroempreendedorismo no Brasil, remonta ao início do século XIX, quando afroamericanos livres começaram a estabelecer negócios no Rio de Janeiro e em outras cidades.
De fato, esses empreendedores prosperaram, abrindo uma variedade de negócios, incluindo mercearias, padarias e salões de beleza. No entanto, eles enfrentaram desafios significativos devido à discriminação racial.
Já a segunda onda do afroempreendedorismo surgiu em meados do século XX como uma resposta às políticas racistas do governo brasileiro.
Desse modo, surgiu uma nova geração de empreendedores afroamericanos que criaram negócios para promover a cultura e o orgulho negro.
Essas empresas tiveram sucesso apesar das difíceis condições operacionais, mas muitas acabaram sendo forçadas a sair do mercado devido à concorrência de grandes corporações.
Hoje, há um número considerável de afroempreendedores no Brasil. No entanto, essas empresas ainda enfrentam muitos desafios e um dos maiores é o acesso ao capital. Igualmente, a falta de mentores e modelos para empreendedores negros também é um problema.
Embora existam algumas iniciativas de apoio, como o Movimento Black Money, a maioria ainda é voltada para empresas de propriedade branca.
Sendo assim, torna-se mais difícil para os empreendedores negros conseguirem os recursos necessários para serem bem-sucedidos.
Porém, mesmo com essas adversidades, há vários afroempreendedores encontrando maneiras de superá-las e construindo negócios de sucesso.
Quais os principais desafios do afroempreendedorismo?
Ausência de capital
Sem dúvida, um dos principais desafios dos empreendedores negros é o acesso ao capital. No Brasil, a maioria dos bancos reluta em emprestar dinheiro para pequenas empresas, e os afroempreendedores geralmente não têm as garantias ou conexões necessárias para garantir um empréstimo.
Pouco apoio do governo
Por certo, não existem muitos programas ou incentivos governamentais específicos para afroempreendedores no país. Dessa maneira, isso contrasta com outros países com grandes populações negras, como os Estados Unidos e a África do Sul, onde têm agências e iniciativas dedicadas a apoiar afroempreendedores.
Falta de confiança
Além da falta de apoio governamental, os negros também enfrentam a falta de confiança da população em geral. Por certo, dificulta o início das empresas de propriedade negra. Aliás, leva a vendas mais baixas, pois os clientes são mais propensos a adquirir produtos de empresas que consideram mais confiáveis.
Excesso de trabalho
Em uma sociedade tão desigual, afroempreendedores geralmente precisam trabalhar duas vezes mais em relação às pessoas brancas para serem bem-sucedidos.
Devido à falta de oportunidades financeiras e recursos disponíveis, eles precisam dedicar mais horas do seu tempo ou assumir vários empregos para manter seu negócio. Como resultado, leva ao esgotamento e cansaço, impactando tanto a vida profissional quanto a pessoal.
Níveis mais baixos de educação
De acordo com a UNESCO, estudantes negros têm quase três vezes mais chances de abandonar o ensino médio comparado a estudantes brancos. Portanto, essas disparidades educacionais resultam em empreendedores negros tendo menos oportunidades e visão de negócios.
Desigualdade
Os negros no Brasil ainda experimentam uma desigualdade econômica significativa, limitando sua capacidade de iniciar e expandir um negócio.
Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas, um negro ganha metade do que um brasileiro branco ganha. E embora os negros representem cerca de 54% da população do Brasil, eles detêm apenas 1% da riqueza do país.
Discriminação racial
O racismo se manifesta de várias formas na sociedade brasileira, desde discriminação nas interações cotidianas até políticas institucionais onde favorecem os brancos em detrimento dos negros.
Nesse sentido, os afroempreendedores podem encontrar resistência de fornecedores, clientes e funcionários que não estão acostumados a fazer negócios com empresas de propriedade negra.
5 iniciativas brasileiras de afroempreendedorismo
Afropolitan
A startup Afropolitan tem como propósito conectar vendedores e compradores interessados em produtos da cultura negra.
Hoje, mais de 100 empreendedores negros fazem parte da plataforma e o catálogo coletiva da Afropolitan já conta com mais de 10.000 produtos para venda.
Coletivo Meninas Mahin
O principal objetivo do Coletivo Meninas Mahin é fomentar o empreendedorismo da mulher negra e combater as desigualdades sociais.
As Meninas Mahin também realizam feiras fixas e itinerantes, oficinais e mentorias para afroempreendedoras.
Alfabantu
O Alfabantu reúne educação e tecnologia em um aplicativo inovador para ensinar a língua kimbundu, incentivando um diálogo entre o Brasil e África.
Ademais, outros serviços como formação de professores, livros bilíngues e atividades recreativas também são oferecidos.
Geledés
A Geledés é uma organização que já existe há 30 anos em prol da igualdade social de mulheres e negros.
Outras ações políticas e sociais da Gelédes são: questões raciais e de gênero, direitos humanos, educação, saúde, comunicação, mercado de trabalho, pesquisa acadêmica e políticas públicas.
Amora Brinquedos
A Amora visa estimular uma educação antirracista por meio de materiais lúdicos pedagógicos, oficinas, contações de histórias e palestras de especialistas.
Além disso, os brinquedos Amora também fazem parte de um projeto social, sendo doados para algumas escolas. Assim, promovem a inclusão das crianças negras e um futuro com menos discriminação.
Este artigo foi escrito por Adriana Wiechorek e publicado originalmente em Prensa.li.