Qual é a relação entre tecnologia e memória ?
A tecnologia sem dúvida mudou e continua mudando significativamente a vida da maioria das pessoas. Nem é preciso alistar os benefícios que as inovações tecnológicas trouxeram. Mas certas questões relacionadas à tecnologia são assuntos de discussão em diversos níveis. Uma delas é o impacto negativo que o uso da tecnologia pode ter na memória.
A internet e as várias formas de armazenamento digital garantem acesso fácil a todo tipo de informação, com poucos toques ou cliques. Isso dá segurança de que as informações necessárias estão armazenadas online e podem ser acessadas a qualquer momento. Mas em que sentido isso pode realmente influenciar na memória das pessoas?
Quais são os impactos da tecnologia na memória humana?
De acordo com um estudo realizado em 2015 por uma empresa de cibersegurança no Reino Unido, o uso cada vez maior de tecnologias digitais pode prejudicar a capacidade de memorização. E a causa é justamente essa - as pessoas estão cada vez mais dependentes da Internet e de aparelhos eletrônicos para recordar informações importantes.
A pesquisa, que contou com a participação de seis mil adultos em oito países da Europa, constatou que mais de um terço dos entrevistados prefere pesquisar as informações desejadas diretamente em seus dispositivos digitais, em vez de consultar a memória. Durante esse estudo, os entrevistados também relataram que conseguiam lembrar-se dos números de telefone que aprenderam em sua infância, mas tinham muita dificuldade em lembrar-se dos números de telefones atuais.
Em nosso cotidiano podemos ver exemplos parecidos. Na era digital, pouquíssimas pessoas lembram o número de um amigo. Lembrar datas importantes também costuma ser um problema.
Quando a facilidade se torna dependência?
É óbvio que é impossível guardar absolutamente toda e qualquer informação na memória. Sim, os meios digitais são ferramentas bastante importantes. O que se discute atualmente é o excesso, ou seja, a dependência no uso desses meios para o armazenamento de informações importantes.
Segundo uma pesquisadora envolvida no estudo acima, Maria Wimber, da Universidade de Birmingham, Inglaterra, usar máquinas para encontrar informações impede a construção de memórias a longo prazo. Assim, embora o fácil acesso à informação seja útil, é importante que não atrapalhe a aprendizagem a longo prazo, ou seja, a construção de memórias permanentes.
A dependência da internet e outros meios eletrônicos para acessar informações se manifesta em outras áreas, como por exemplo na educação. Enciclopédias online, portais de educação, videoaulas e outros materiais podem ser acessados facilmente, na hora em que é necessário. Essa facilidade pode resultar em uma perda significativa de retenção dos conteúdos aprendidos a longo prazo, impedindo uma aprendizagem real, que é tão importante nos estudos, trabalho, bem como na formação social e cívica.
Além disso, quando há uma falta de acesso temporária a esses meios, um conteúdo importante que já foi estudado não é lembrado. Ou seja, a dependência desses meios digitais para guardar informações pode impedir o desenvolvimento de memórias permanentes, que são absolutamente necessárias em diversas áreas. Assim, parece ser necessário achar um ponto de equilíbrio entre o uso saudável dos meios tecnológicos e os estímulos à memória de longo prazo. Mas qual seria esse ponto de equilíbrio?
Ponto de equilíbrio entre o uso da tecnologia e memória - é possível?
Segundo um artigo publicado em 2014 pelo site Exame, evitar fazer muitas atividades ao mesmo tempo e prestar atenção plena ao que estamos vendo, lendo ou escutando pode colaborar para a construção de uma memória mais profunda. Prestar atenção ao contexto das informações e procurar criar conexões entre ideias ajuda para que o conhecimento seja transferido para a memória de longa duração.
Outra coisa que colabora é aprender a lidar com o estresse do dia a dia. Uma vida cheia de estresse leva à baixa concentração e esquecimento corriqueiro. Além disso, pode resultar em outros males mentais que afetam a memória, como ansiedade generalizada e depressão.
A tendência é que os meios tecnológicos avancem cada vez mais, oferecendo respostas na palma da mão. Mas e na mente, o que fica? Eis a questão.
Este artigo foi escrito por Dani Sousa e publicado originalmente em Prensa.li.