Quiet Quitting, LifeStyle e Mercado
Com a pandemia, as relações sociais se modificaram, inclusive as de emprego.
Depois, um estudo da plataforma estadunidense Joblist mostrou que 42% dos trabalhadores lá dos EUA se arrependeram de ter abandonado o emprego, o que foi chamado de Grande Resignação, e teve até uma música feita pela Beyoncé.
Os principais fatores desse arrependimento foram: 1) na prática, o mercado se mostrou mais complicado do que o esperado; 2) perda de contato com colegas do trampo anterior. Agora, do lado das empresas está rolando demissão em massa ou congelamento de contratação. Junto a isso, surge o temor do aumento da “hustle culture”.
Hustle o que?
Na tradução literal, a expressão significa “cultura da agitação”, tendo relação com aquela velha romantização de ser workaholic, ou seja: quanto mais você trabalha, mais chances terá de receber reconhecimento.
Até mesmo o Elon Musk já correlaciona o sucesso com ser workaholic (isso pode ser visto até pelo nome dos filhos dele).
Contudo, pesquisadores vêm alertando sobre essa prática, que, além de não garantir o “retorno” esperado (ou seja, você, na realidade, não tem um reconhecimento devido), gera perigos tanto nas relações interpessoais (principalmente familiares) quanto na saúde dos colaboradores (veja esse Ted sobre casais, trabalho e carreira).
Sociedade do Cansaço, Burnout e Suicídio
Um estudo de 2017 publicado na revista científica “Occupational Medicina” mostra a relação entre longas horas de trabalho e cargos de confiança.
Entretanto, essa mesma pesquisa trouxe à tona os reflexos negativos desse tipo de rotina à saúde das pessoas, que apresentaram sintomas como: ansiedade, depressão e distúrbio do sono. Nos últimos anos, ficou evidente que o excesso de trabalho gera, ainda, burnout e pedidos de afastamento, podendo ser fatal, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Inclusive, esse é um tema que já foi alvo da teoria filosófica do Sociólogo coreano Byung Chul han. O ponto nodal é: A coreia do sul tem a maior taxa de suicídio feminino no mundo, e uma das maiores do masculino. Logo, fica comprovado que a hustle culture tem um grande viés negativo.
Quiet Quitting e Saúde Mental
O quiet quitting virou top trend no TikTok (a hashtag já tem +41 milhões de visualizações), com diversas pessoas falando negativamente sobre a hustle culture.
O assunto é tão sério e tem tanto impacto que já virou artigos dos principais veículos jornalísticos do mundo, como Wall Street Journal, The Guardian e The New York Times.
Mas o que isso gera? Muita gente começou a perceber que o excesso nesse caso não trazia qualquer benefício nem financeiro, nem para a saúde, somente gerava ansiedade, burnout, cansaço, depressão, e até mesmo, “perda” da vida, por passar anos fazendo horas extras para os outros.
Aliás, o sentimento mais comum é de ansiedade: há uns anos, é comum vermos alguém checando o e-mail corporativo em casa, respondendo cliente no WhatsApp enquanto está jantando fora e deixando de relaxar porque tem a sensação de não ter esse direito. Tanto é que nos últimos tempos “detox digital” foi um tema bem comum e aliado à saúde mental (seria isso derivado da quiet quitting culture?)
E o que muda com essa revolução?
Um usuário do TikTok, chamado Clayton Ferris, trouxe a seguinte experiência: “A parte mais interessante disso [quit quitting] é que nada mudou”, disse. “Eu ainda trabalho duro. Apenas não me estresso e me despedaço por dentro [como antes]”, completou.
Maria Kordowicz, professora especializada em educação interprofissional da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, em uma entrevista, disse ao The Guardian que isso tem relação com uma forte tendência de insatisfação no trabalho. “Havia a sensação de mortalidade durante a pandemia, algo bastante existencial, enquanto as pessoas pensavam: ‘o que o trabalho deveria significar para mim?”, argumentou a expert.
Em resumo…
Vale a pena viver pelo trabalho ou simplesmente fazer aquilo que é inerente ao seu cargo? Essa é a pergunta basilar nessa nova cultura.
O fato é que, existem diversos movimentos, como a Grande Resignação, além do trabalho de 4 dias por semana, que prediziam o quiet quitting.
Claro, nem todos podem adotar essa prática — como professores, profissionais de saúde, trabalhadores braçais, entre outros. Porém, as dinâmicas laborais estão se transformando e devem continuar assim à medida que a tecnologia avança (são as hipóteses trazidas por novas teorias da área econômica).
Será que essa nova cultura irá se expandir? Fica a questão.
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Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.