A real história por trás de Round 6
A série Round 6 ou Squid Game, produzida pela Netflix, se tornou um verdadeiro fenômeno no último mês. Em tão pouco tempo, a produção sul coreana desbancou Bridgerton e tomou o posto de série mais assistida da história na plataforma de streaming, conquistando milhares de fãs pelo seu enredo peculiar.
À essa altura é muito improvável que você não tenha pelo menos ouvido falar em Round 6. A série de 9 episódios, criada pelo diretor e roteirista Hwang Dong-Hyuk, é basicamente a história de 450 pessoas que aceitam participar de jogos mortais em troca de um prêmio milionário em dinheiro, a fim de quitarem suas dívidas.
A inspiração por trás da série
Mas afinal, qual foi a inspiração do criador por detrás desta ideia um tanto violenta? Se você pensou na franquia Jogos Mortais ou Jogos Vorazes ー apesar de ter uma certa relação com esses filmes ー, essa suposição está equivocada. O diretor Hwang já admitiu que há sim uma certa influência dessas produções americanas, porém a verdadeira inspiração nasceu dos famosos animes e mangás japoneses.
Hwang conta que certo momento em sua vida, quando era pobre e trabalhava em empregos comuns, ele passava a hora do almoço lendo animes e foi assim que conheceu as duas obras japonesas que vieram a ser a maior influência sobre a série: Battle Royale e Liar Game.
Battle Royale, escrito por Koushun Takami, conta a história de uma classe de alunos do ensino médio que são forçados pelo regime totalitário que comanda o mundo a lutar uns contra os outros até a morte. Esse mangá causou uma grande polêmica na época de seu lançamento por causa de sua violência extrema, sem contar as cenas de abuso sexual. Daí veio a influência sangrenta da série coreana.
O segundo mangá, Liar Game, lançado em 2005, foi escrito e ilustrado por Shinobu Kaitani. A história acompanha uma estudante colegial que um dia recebe 100 milhões de ienes e uma carta a selecionando para competir em um jogo, onde os participantes devem roubar o dinheiro uns dos outros a qualquer custo. No fim, o vencedor ficaria com os 100 milhões e o perdedor estaria em dívida com a organização do jogo.
No caso de Liar Game, não são os jogos em si que pesam em sua influência, mas sim uma característica importante da série que foi, sem dúvidas, um dos fatores de seu sucesso: a verossimilhança. Os personagens de Round 6 são pessoas comuns que podemos nos identificar facilmente. Assim como em Liar Game, onde a protagonista é inocente e acredita em qualquer coisa. Com certeza, em algum momento de nossas vidas já fomos ingênuos.
Já o protagonista da série coreana, Gi-Hun, é um homem fracassado, demitido do último emprego e cheio de dívidas. Desesperado para conseguir dinheiro, ele rouba da própria mãe. Apesar de não ser correto suas ações extremas, podemos nos identificar com seus problemas, já que na sociedade atual, muitos já passaram ou passam por situações complicadas de necessidade, criando assim uma certa empatia pelo personagem. Outro fator de seu sucesso é a metáfora da produção, sobre uma sociedade capitalista de hoje.
Por que jogos infantis?
Depois de explicado as influências por trás da série, a pergunta que não quer calar: por que usar jogos infantis nas competições? Segundo o diretor Hwang Dong-Hyuk, esses animes e mangás que influenciaram sua obra, continham provas complexas e muito elaboradas, o que o deixava confuso demais. Para facilitar, Hwang escolheu brincadeiras infantis.
Entretanto, essas brincadeiras não são apenas brincadeiras. De acordo com o roteirista, elas também servem como analogias para a vida adulta e como preparamos as crianças para um mundo extremamente competitivo. Para representar essa metáfora, Hwang escolheu o jogo da lula (ou Squid Game). O jogo da lula é uma brincadeira difícil mas muito comum entre as crianças sul coreanas, apesar de ser um jogo físico e relativamente violento.
Não é apenas essa brincadeira, mas todos os jogos escolhidos para compor a competição possuem esse aspecto de disputa, onde contamos com apenas nós mesmos. O jogo da batata frita, é um outro bom exemplo, onde os participantes só podem andar enquanto uma pessoa não está olhando. Em Round 6, os competidores conquistam espaço ao empurrar, se aproveitar e trair quem estiver na sua frente. Tal qual a vida real.
A série sul coreana é inegavelmente um grande fenômeno, sendo reproduzida em mais de 100 milhões de residências no mundo. O sucesso foi tanto que pressionaram o criador a escrever uma segunda temporada, que felizmente foi confirmada. A sequência ainda está em processo de desenvolvimento, mas Dong-Hyuk promete: “Gi-Hun vai voltar e ele fará algo pelo mundo”.
Este artigo foi escrito por Bruna da Cruz Souza e publicado originalmente em Prensa.li.