A escalada da tecnologia no setor financeiro representa, acima de tudo, uma mudança no modelo de negócio bancário.
Uma transformação dessa magnitude não é um processo linear, mas uma jornada que começa na digitalização e evolui para o estabelecimento de conexões entre os ativos digitalizados, tanto internamente quanto com a cadeia de valor.
O grande desafio aqui é estabelecer essas mudanças ao mesmo tempo em que se desenvolvem novos produtos bancários com a rapidez que os clientes precisam.
E se velocidade é a exigência do momento, ela existe não pela escalada dinâmica da tecnologia, mas por causa das demandas que partem dos próprios clientes, que já estão acostumados aos serviços bancários na tela do celular.
Essa conveniência, aliás, é a maior semelhança entre as fintechs e os bancos digitais. Ela atrai nativos digitais, pessoas de até 40 anos. E mesmo assim, a familiaridade com os bancos continua a ser um fator ainda mais decisivo do que a praticidade dos aplicativos para smartphones.
Nos últimos anos, essa familiaridade vem se desenvolvendo em parceria justamente com a praticidade. Muito por causa da pandemia, hoje grande parte da população nessa faixa etária está acostumada a fazer compras de roupas e mercado online, por exemplo.
E se tudo é resolvido pelo celular, a ideia de operações bancárias serem feitas pela telinha é cada vez mais aceita.
Implementação paralela
As mudanças digitais precisam ser feitas com o banco funcionando. Por isso, Asanka Abeysinghe, chefe de tecnologia da WSO2, recomenda que operações não essenciais sejam escolhidas como piloto, para que as lições aprendidas com as implementações sejam aplicadas em outros produtos, conforme a necessidade do banco.
Segurança, confiabilidade e alta disponibilidade são partes essenciais nesse processo, bem como a busca por atualizações constantes por parte da equipe envolvida.
A percepção de que a experiência do cliente deve ser o foco de todos os serviços também chegou ao setor bancário. Para otimizar essa experiência, é preciso usar de todos os recursos para proporcionar uma resposta rápida e satisfatória ao consumidor.
Mas não adianta querer dar um passo maior do que a perna: a empresa deve reconhecer o seu estágio atual e implementar somente as mudanças que cabem em sua estrutura. Para isso, é interessante receber avaliações externas.
E se a evolução tecnológica tem como foco as pessoas, não se pode esquecer do papel delas em todo esse processo, que requer uma liderança próxima para decidir sobre investimentos e dedicada na mesma proporção ao aprendizado financeiro e tecnológico.
Nessa jornada, também é importante garantir espaço para que os funcionários comentem os problemas observados e promover trocas de ideias sobre oportunidades e dificuldades entre os executivos - que podem até ser de empresas diferentes.
E, tão importante quanto a escolha dos gestores, é estruturar todo um ecossistema para que a tecnologia esteja presente dos produtos oferecidos às campanhas de marketing.
Como se trata de banco, é óbvio que a segurança é primordial. Para garanti-la, se faz necessária uma plataforma integrada com ferramentas, padrões, processo de governança, modelos de negócio e canais de comunicação.
Para uma implementação de sucesso, front-end e back-end devem ser trabalhados simultaneamente, mas não se esqueça que as APIs estão no back-end. Também é imprescindível saber o momento de adotar no-code, low-code e full-code, e estabelecer limites para o usuário.
Na elaboração de produtos, por exemplo, é mais vantajoso optar pelo desenvolvimento próprio de soluções de front-end em vez de buscar parcerias com fintechs.
Lembre-se que embora tenham produtos parecidos, a proposta de um banco é bem diferente.
Dicas para uma implementação de sucesso
A metodologia de transformação digital Gartner tem cinco fases: refino, escala, entrega, projeto e ambição. É claro que cada banco tem a sua realidade, mas essa metodologia pode ser de grande ajuda com algumas adaptações para o seu contexto.
Para obter a organização ideal, lembre-se que a eficiência das APIs é muito mais importante do que o número de APIs criadas. Então selecione os melhores profissionais para essa função e garanta que eles terão tempo para focar exclusivamente nesse desenvolvimento.
Pensando na otimização de tempo e recursos, considere usar desenvolvimentos no-code, low-code e até mesmo código aberto. Os desafios a seguir serão muitos, então vale a pena facilitar tudo o que for possível.
Quanto à entrega de produtos, menos é mais. Sem grandes rodeios: use os dados que você tem dos clientes para ter novas ideias de produtos que possam agradá-los, e não perca tempo adicionando etapas desnecessárias a esse processo. Uma resposta rápida pode gerar mais satisfação e ainda por cima diminuir os custos de operação.
A realidade
O processo de transformação digital nunca vai ser exatamente finalizado. De agora em diante, é uma tarefa contínua e que nem sempre vai acontecer na velocidade que se deseja - e tudo bem.
O importante é oferecer soluções inovadoras e que verdadeiramente façam a diferença na vida dos clientes, sempre dentro das possibilidades do seu banco.
Este artigo foi escrito por Maria Rinaldi e publicado originalmente em Prensa.li.