Respira, é pânico
Eu experimento crises de pânico. No momento atual não tenho absolutamente nada a reclamar dele. Sério, semana passada por exemplo ele veio me visitar. Chegou de um jeito completamente inesperado. Eu, crente que tava sentindo os efeitos da chegada do meu ciclo lunar, quando na verdade era essa espécie de curto circuito.
Por que a sensação é um pouco essa né, obvio que em cada pessoa a experimentação é diferente mas, independente do como, basicamente o que ele faz é mudar a configuração momentânea de como a natureza geralmente se manifesta na gente. É o clássico da mocinha que tinha que sair pela porta mas, ela sobe as escadas e produz na gente aquela mesma reação de sempre “nãooooo, ali, o mascarado com a faca em punho tá aí …. não, sai” enfim pânico. Em mim por exemplo, é uma sensação completamente eufórica, adrenalinica. Já tive outro tipo de episódios, mas geralmente é assim. Em você é?
Krishna enquanto cura Arjuna de sua arjunose, ou pânico, diz assim : ""os órgãos da percepção agitados aprisionam, à força, a mente mais instruída"". E que o caminho de libertação passa por manter uma postura de asana firme diante dele, que só é possível através do domínio dos órgão do sentidos, cessando assim toda a perturbação mental. Mas, foi observando minha gata Gênia, não que ela seja gênia, não, na real ela é sim … um nome que combina muito bem com seu significante. Além do mais pra alguém que iria se chama Tapete, Gênia é melhor que Tapeta.
Tapete porque o plano era completar o trio Aladim, claro, é o primeiro, depois o Abu, que já compartilharam comigo tantas e tantos ensinamento, mas outro dia eu conto a história deles, e o Tapete que já tinha ganhado meu coração pela foto do site da ONG Adote um Gatinho, mas ele já tinha outro tutor. Então apareceu uma fêmea, que eu já mais tinha pensado, já tinha dois de três.
Meu, Tapete é um nome muito legal para um gato que terá por trio o Aladim e Abu. Se me perguntassem, como chamam seus gatos? Eu responderia Jacknicholsomente - Aladim, Abu e Tapete e jogaria o cabelo pra trás do ombro como se nem tivesse percebido o que acabei de dizer. Então pensar na obviedade dela se chamar Jasmim era muito empobrecedor pra existência daquele serzinho que nessa altura já havia acertado no meio da minha emoção e essa já tinha convencido a razão de justificar que nome daríamos a aquela gata que nós nunca pensamos em ter. Enfim Gênia. Acredite (leia com a melodia, aproveite e seja lúdico com você mesmo) eu nunca ti-ve amiiiiiga aaaaaaaassimmmmmmm ….
Mas enfim o pânico. Logo que a Gênia chegou, me encontrou no meio dessa revolução namastê, tipo isso mesmo, gente que fala gratidão, que fala sobre expansão de consciência, medicinas sagradas, yoga, plantas de poder e tals, sou dessas, não nego. E uma semana depois eu doei minha cama, e fiquei só com o necessário colchão. Mas embaixo da cama, havia se tornado pra ela muito pequenina e recém chegada, um lugar de conforto.
Então eis que no mesmo dia a noite estávamos todos no quarto Aladim, Abu, ainda se socializando com ela, Gênia e eu, e passa um avião muito baixo e muitooooooo barulhento tipo um jato e a minha percepção se deu na diferença da reação dos dois mais velhos e ela. Porque eles são experientes em maquinas voadoras barulhentas e que não tem hora para romper SP, gatos paulistanos meu amor que já incorporaram a banalidade das motocas do céu, mas a Gênia não.
E aí enquanto ela em sua arjunose tentava sem sucesso se enfiar debaixo do vão da cama que agora não estava mais lá, eu tive um daqueles momentos. Sabe quando você conclui um obviedade e se sente genial? Pois é: o pânico é um avião muito barulhento que passa e te assusta, porque você não sabe que aquilo é um avião e de repente o lugar o qual te protegia já não está mais lá. Como lidar com isso?
Se quiser compartilho aqui o que a Gênia me ensinou naquele dia. Eu sei ,não sou medica, nem terapeuta e nem vou me valer daquela citação de Jung que eu guardo na manga para parecer interessante. Não, não falo desse lugar. Tô falado do lugar de quem já foi e continua indo quando consigo, no mergulho profundo onde só eu posso nadar sem precisar de oxigênio.
Marie L. Von Franz disse que “Levar o inconsciente a sério é, afinal de contas, uma questão de coragem pessoal e integridade.” Então sempre que esse Jordão se impõe no minha travessia, tento seguir o conselho dos mais experientes e aqui vão alguns passos incríveis pra você comprar meu curso no final dessa história.
Brincadeira ….
- Ser forte e corajosa, vai passar. Assim como o avião veio e passou, vai passar e você não vai morrer. Não por isso, porque óbvio vamos morrer, todos vamos mas, falamos disso outra hora …
- Respira. sério, respira. Gurmukh Kaur Klalsa, diz no documentário Yoga: Arquitetura da paz, do fotografo Michael O’Neill, que o jeito como você respira é o jeito como você vive. É difícil pra mim também mas, a respiração é o guia q vai te ajudar a sair do labirinto.
- Aceite a situação e diga isso em voz alta se precisar, mas diga, ""(seu nome), estamos experimentando uma crise de pânico que vai passar."" Parece bobo, mas assim como a Gênia não sabia o que estava acontecendo, parte de você também não sabe porém, como nós somos os super seres supremos do universo chamando humanidade, podemos fazer isso conscientemente, ela não.
- Agora que já respiramos e aceitamos onde estamos, olhe em volta. Como chegamos nessa situação? É muito importante sabermos onde estamos no meio da crise, como disse Lewis Carroll pela boca do gato a menina e perdida Alice, “Para quem não sabe para onde vai, qualquer estrada serve”.
- Bom, agora que já estou familiarizada com sensação, tento ficar o mais confortável física e mentalmente que consigo, ache o seu vão embaixo da cama, e de lá recolho algumas pedras antes de sair do Jordão.
Por muito tempo, como talvez muitos e muitas, eu tinha muita vergonha de passar por essa situação. Me sentia ainda pior se tivesse que pedir ajuda para outras pessoas e pior ainda se mais alguém soubesse daquela abominação que estava destinada única e exclusivamente para eu passar. Porque como não compartilhamos essas histórias, a sensação é sempre dessa exclusividade que facilmente eu trocaria por qualquer pneu velho nessas brincadeiras lá dos tempos do Gugu e Sérgio Malandro, prefere esse pinico velho e usado ou barra de ouro que vale mais que dinheiro?
Então pegue pedras, aprendizados, conhecimento de si mesmo, tente se observar enquanto o avião passa, perceber as barreiras da energia do som que ele vai rompendo com seu peso metálico pelo céu enquanto ele se vai. Essas pedras servirão, primeiro para você, se lembrar que chegou do outro lado a seco.
Por mais surreal, difícil e longo que sejam aqueles minutos eles passaram e a vida continua pulsando. Sempre continua e sempre vai continuar. E depois elas podem servir, para alguém que passe por lá e precise saber que ela não está só. Outros passaram também e as pedras são o memorial de que saíram e tem o que contar. E se conseguir agradeça.
Imagem de capa - Satira do vilão do personagem "Ghost Face" do filme Pânico ao telefone. Still do filme Todo Mundo em Pânico - Imagem - Divulgação - Via IMDB
Este artigo foi escrito por Gabriela Dias e publicado originalmente em Prensa.li.