Reta Final para o Open Finance: conheça as últimas diretrizes sobre a padronização de APIs
Sabemos que o conceito de Open Finance paira sobre a idealização de um sistema onde o usuário figura no centro das atenções, autorizando o compartilhamento de suas informações com instituições financeiras e terceiros. Desta forma, o cliente possui controle sobre a divisão de seus dados, abandonando um papel social passivo diante dos serviços financeiros oferecidos e assumindo seu posto como figura disputada pelas empresas.
Isso ocorre, pois com a implementação deste novo sistema financeiro aberto, ganha o cliente, e consequentemente seus dados financeiros, a empresa que apresentar melhores condições e propostas. Caso o serviço ofertado não satisfaça as necessidades daquele usuário, o mesmo pode revogar o acesso da instituição às suas informações financeiras e, tendo a portabilidade de seus dados, transferi-los para uma companhia que atenda às suas exigências.
Assim sendo, o Open Finance estimula a livre concorrência e gera de forma automática mais competição no mercado, criando um ajuste na relação de poder entre instituições e usuários do sistema financeiro.
Claudio D. Maia, Pre Sales Senior Consultant pela Axway, afirma que hoje em dia, o Open Banking, mais do que liberação de dados, é uma nova forma de movimentação financeira, com opções inéditas e onde o cliente passa a ter um total controle sobre suas informações.
No entanto, Carlos Kazuo Missao, engenheiro industrial e Head of Customer Innovation Solutions na GFT Brasil, conta que este novo ecossistema econômico tem por base o compartilhamento de informações entre os participantes através de interfaces padronizadas. Sendo este um sistema regulamentado pelo Banco Central do Brasil (BACEN), os princípios que estão por traz da implementação desse novo sistema, possuem o intuito de promover:
Inovação do sistema financeiro;
Competição;
Democratização do acesso.
O que esperar do Open Finance
As expectativas para a implementação do Open Finance no Brasil são altas, aguardando-se uma revolução na forma como as pessoas interagem com as instituições financeiras, em um âmbito geral. “Temos visto isso acontecer ao redor do mundo, porém em um ritmo gradual. Assim sendo, percebe-se que é muito mais uma evolução do que uma revolução”, afirma Carlos.
Paulatinamente, as pessoas vão entendendo, as empresas vão se engajando e o ecossistema começa a crescer. O que o engenheiro industrial explica é que o que irá permitir que essas transformações ocorram é o acesso, pelo usuário final, a melhores produtos com preços e condições que lhe sejam mais favoráveis, ou seja, a possibilidade de desfrutar de uma experiência diferenciada.
No entanto, quando o Open Finance passa a movimentar toda essa estrutura de engenharia de dados, entram os órgãos reguladores competentes que, no caso do Brasil é o BACEN, que procuram assegurar a implementação justa e padronizada do sistema.
A esse respeito, Fernando S. C. Ferreira, Alliances & Channels pela Axway, afirma que o Open Finance tem a ver com tecnologia, regulamentação, serviços e produtos. “Podemos dizer que este é um movimento global e com mais informação disponível no ecossistema, espera-se uma maior personalização e sofisticação de ofertas”, afirma o especialista.
Open Finance e o viés de serviços e produtos
Conforme as diretrizes e regulamentações que estão sendo feitas, o BACEN divide as aplicações deste sistema financeiro aberto em duas linhas:
Eficiência: fala-se em melhoria de serviços e produtos financeiros, como linhas de crédito e diminuição do spread bancário;
Inovação: permite explorar modelos utilizados em outros países e a implementação de novos modelos de negócio;
De acordo com Carlos, o surgimento de novos modelos de negócio permite e viabiliza a implementação dos conceitos de Banking 3.0, ou seja, a realização de uma transição na qual o usuário depende de estrutura física das instituições financeiras e adota um sistema que se adapta a hora e ao lugar que seja mais conveniente para o cidadão.
Desta forma, o Open Finance permite a abertura e o compartilhamento de dados financeiros e facilita a entrada para novos players integrarem esse ecossistema. Apesar da figura do banco se manter central dentro dessa cadeia, a chegada de novas figuras permite não só o aumento da gama de produtos que devem ser oferecidos, mas a forma como são apresentados e ofertados ao consumidor final.
A tendência é a chegada de produtos os quais chamamos de life services, modelos de negócios que exploram o momento de vida do cliente. Intercepta-se a necessidade do usuário em um determinado ponto da cadeia onde, atualmente, os bancos e instituições financeiras não conseguem atingir.
“O exemplo mais clássico aqui é o do financiamento imobiliário. Com a ajuda de parceiros, o banco consegue aumentar seu marketplace e conseguindo interceptar na cadeia usuários que estão em um momento de vida e que interessam por serviços de financiamento imobiliário”, explica Carlos.
No entanto, ao invés de apenas fazer a oferta, ele propõe realizar o sonho da pessoa em ter a sua casa, seja comprando ou alugando. Interceptar essa necessidade do usuário demanda de uma utilização grande de dados, personalizando um serviço e entendendo o momento de vida do usuário final.
Diretrizes para a padronização de APIs no Open Finance
Assim como outros órgãos e institutos reguladores ao redor do mundo, o BACEN está normatizando o Open Finance através do uso de APIs. De acordo com Carlos Kazuo, este trabalho foi realizado com o apoio de um grande grupo de trabalho, o qual foi capitaneado pela FEBRABAN e que juntos conseguiram calcar nove princípios e questões técnicas
Segurança: Mecanismos de segurança no design e na implementação de APIs para o Open Finance no Brasil. Esse processo ocorrerá em fases, sendo a primeira chamada de “Open Data”, que diz respeito aos dados das instituições. As fases seguintes são mais críticas, pois estão diretamente relacionadas a segurança de dados dos usuários finais;
Construção de um conceito de Restful, pois é um padrão adotado e reconhecidamente no mercado;
Obedecer a padrões;
Seguir a norma da ISO 20022, que trata a respeito dos elementos e componentes de mensageria;
Extensibilidade;
Código de status;
Identificadores;
Categorização dos requisitos: requisitos categorizados entre obrigatórios, condicionais e opcionais;
APIs agnósticas e independentes da forma como elas serão consumidas e da plataforma será implementada.
O especialista explica que o conceito aqui trabalhado é o de API-first, onde tudo será disponibilizado via API e seguindo a lista de nove princípios anteriormente elencados. Assim sendo, efetivamente, passa-se a falar dessas interfaces como produtos. De acordo com Fernando, “um foco muito grande na criação desses APIs, mas 100% voltados para funções de negócio”.
Claudio Maia esclarece que, a palavra mágica para o Open Finance é padrão, ou seja, a busca de um padrão. “Atualmente, muitas empresas falam que já trabalham com APIs, mas apenas trabalhar com APIs ainda não é Open Finance. Pois para se chegar nesse sistema aberto, é preciso ter um padrão adotado por todo o ecossistema”, explica o consultor sênior da Axway.
Em sua opinião, será preciso mudar o espectro de análise e visão em relação as APIs, passando a enxergá-las a partir do conceito de API-first ou de API as a product. Olhando as APIs a partir desse conceito e com o foco no cliente, é possível prover uma melhor experiência para os usuários e estimular a adoção desses novos serviços, garantindo o sucesso de modelos inéditos de negócio.
Este artigo foi escrito por Fernando S.C. Ferreira e publicado originalmente em Prensa.li.