Revisitando o Batman de William Dozier
Imagem de Capa: Reprodução
Divulgação - Obs: Iremos focar apenas nas versões Live Action e cinematográficas.
Apesar de Adam West ser bastante reconhecido, ele não foi o primeiro a interpretar o Batman. Antes dele, dois atores assumiram o manto do morcego.
Origens "Secretas"
Em um período pré Televisão, mais especificamente em 1943, quem inaugurou a capa e o capuz foi Lewis Wilson. Ele estrelou uma série para o cinema composta por 15 capítulos chamada The Batman produzida pela Columbia Pictures.
Nela, Batman é um agente secreto do governo dos EUA que enfrentava Dr. Daka (J. Carrol Naish) e seus agentes japoneses com ajuda de Robin (Douglas Croft) e de Alfred (William Austin).
Divulgação/Douglas Croft e Lewis Wilson, respectivamente, como Robin e Batman
Por ter sido feito nos anos 40, pouco depois da estreia do personagem nas HQs, e durante a Segunda Guerra Mundial, as histórias dessa série destoavam muito do que conhecemos do Batman hoje. Sem falar de uma considerável dose de racismo em relação aos japoneses.
Mas foi essa série que deu origem a batcaverna e a sua entrada pelo relógio de pêndulo. Além disso, o visual icônico do mordomo Alfred também surgiu na mesma produção.
Houve uma sequência em 1949, chamada Batman & Robin, também com 15 episódios produzidos pela Columbia Pictures.
Aqui, Batman (Robert Lowery) e Robin (Johnny Duncan) enfrentaram o misterioso vilão Mago (Leonard Penn) que roubou um aparelho que era capaz de controlar todos os veículos da cidade.
Divulgação/Robin (Johnny Duncan) e Batman (Robert Lowery).
O diferencial dessa série é que as histórias são mais próximas às HQs, apesar do vilão ter sido criado especialmente para a série, assim como o Dr. Daka.
O que tinham em comum era o fato de ter narrações em off e cada episódio terminava com um cliffhanger.
Contexto da Época
De 1939 até meados dos anos 50, a liberdade criativa dominava as HQs e, principalmente, o gênero de Super-Heróis que estava em ascensão.
Isso viria a mudar com a publicação do livro Sedução Do Inocente, do psiquiatra alemão Fredric Wertham.
Desde 1948, quando já estava morando nos Estados Unidos, ele se juntou a uma campanha contra as HQs. Ele se aproveitou do Macartismo, com a sua caça aos comunistas e toda aquela onda de "American Way Of Life" ao lançar o seu livro, em 1954, que acusava as HQs de influenciarem a delinquência juvenil, entre outras coisas.
A mais famosa dessas acusações foi a de "apologia a homossexualidade" no conteúdo das histórias de Batman e Robin. O livro e as críticas de Wertham levaram o Congresso norte-americano a abrir um inquérito.
As editoras grandes como Marvel, DC, entre outras da época, se uniram e criaram o Comic Code Authority (Código de Autoridade dos Quadrinhos, em tradução literal) como resposta.
Dessa forma, as próprias editoras regulavam e censuravam suas histórias, tornando-as mais infantis e moralmente aceitas para a época. Personagens como Batwoman, Batgirl, Ace - O Batcão e Bat Mite, o Duende da Quinta Dimensão, foram criados para dar outro tom às histórias do Homem-Morcego.
Reprodução/A Bat-Família no início dos anos 60
E essas histórias se tornaram uma das bases para a próxima incursão do Batman em Live Action.
Batman em Cores
William Dozier começou a carreira como roteirista para TV e depois se tornou produtor. Uma de suas mais famosas produções foi a série do Batman para a TV.
Sua produtora, a Greenway Productions, juntamente com a Fox compraram os direitos e criaram a série, que foi exibida na emissora ABC. Com três temporadas, de 1966 a 1968, engana-se quem acha que o humor nela foi acidental.
A série é claramente uma paródia das séries antigas feitas para o cinema, com narrações em off (aqui, feitas pelo próprio William Dozier) e as atuações canastronas de Adam West no papel de Batman e Burt Ward como Robin, por exemplo.
Soma-se a isso ao estilo camp misturado com Pop-Art da época e as próprias HQs com suas histórias bem simplistas, temos uma série que é lembrada até hoje.
Essa versão do Batman foi a primeira a ir ao cinema como um filme propriamente dito. Inicialmente idealizado como o ponto de partida para a série de TV, foi filmado e lançado após a primeira temporada, aproveitando o lucro que a série deu para investir no filme.
Diferente de suas antecessoras, a série tinha a presença dos vilões mais icônicos do Batman, como Coringa (Cesar Romero), Pinguim (Burgess Meredith), entre outros.
Também foi responsável por criar novos personagens que acabariam indo para as HQs, como Chefe O'Hara (Stafford Repp), Cabeça de Ovo (Vincent Price) e Batgirl.
A Batgirl da série, interpretada por Yvonne Craig, era completamente diferente das HQs da época. Enquanto a Batgirl dos quadrinhos se chamava Betty Kane e era sobrinha da Batwoman original (Irei falar mais sobre elas em um futuro artigo), a da série se chamava Bárbara Gordon e era filha do Comissário Gordon, interpretado por Neil Hamilton.
Quando Barbara Gordon foi para as HQs, ela se tornou um grande sucesso e ofuscou completamente a anterior. Para muitos, até hoje, ela é a Batgirl original.
Divulgação/Yvonne Craig como Batgirl
A série foi cancelada após a terceira temporada por causa da baixa audiência e, muito provavelmente, por causa das mudanças culturais.
O mundo estava ficando mais sério com a Guerra do Vietnã e a luta por Direitos Civis. Os quadrinhos estavam se encaminhando nesse mesmo sentido ao abordar assuntos como abuso de drogas e racismo em suas histórias na década seguinte.
Isso levou a série se tornar datada, apesar de ter se tornado o ponto de partida para o personagem por muitas crianças dos anos 80, 70 e, principalmente, dos anos 60. Mas tornou- se cult, alvo de memes e até outras paródias, como a famosa redublagem brasileira, Feira da Fruta.
A meu ver, a série cumpriu o seu papel como paródia tanto dos seriados de cinema quanto das HQs, a ponto dos quadrinhos reformularem o personagem, retornando, aos poucos, a temática sombria de suas origens.
Essa abordagem mais séria e sóbria iria evoluir e influenciar a encarnação seguinte do Batman nos cinemas.
Mas esse é um assunto para um próximo bat-artigo.
Este artigo foi escrito por Fabio Farro de Castro e publicado originalmente em Prensa.li.