RG Digital : você sabe com quem está falando
Sou catarinense. Minha certidão de nascimento é de lá. Meu primeiro RG tirei na adolescência, quando morei em Santo André, SP. Voltei para Santa Catarina. Renovei, casei, tirei outro por lá. Número diferente. Divorciei, renovei, outro por lá também. Mudei para São Paulo, e casei de novo. Mais um número. Agora mudei para Minas Gerais e preciso renovar. E adivinhem, o número deve ser diferente de novo.
Como pode um documento que seria nacional ter jurisdição estadual? Não é pra se pensar ou enlouquecer? Sou uma pessoa de múltiplas identidades… pelo menos no que tange a números.
Mas, como diriam as saudosas Organizações Tabajara, parece que seus (meus?) problemas acabaram. Ou estão perto disso.
Mais digital que a impressão
No final de julho, experimentalmente no Rio Grande do Sul, passou a ser emitido o RG Digital. Que ao contrário do que o nome sugere, não usará o número do seu velho RG, e sim seu CPF. Este sim, válido em todo o país há muito tempo.
O RG Digital, oficialmente chamado de “Carteira de Identidade Nacional”, virá em duas versões, morango e abacaxi, digo, física e virtual. De brinde, cada cidadão terá um QR Code, para ser lido por qualquer aplicativo do mercado, em qualquer smartphone ou sistema de escaneamento.
Mas aí, você questiona: como garantir que o usuário do código do RG Digital é a pessoa que o carrega? O governo garante que uma série de validações biométricas será realizada antes da emissão do documento, além de todo um cruzamento de dados com as informações já disponíveis na rede. Convenhamos, é para isso que serve toda santa vez em que você vai usar algum serviço ou comprar algo, cadastrando-se no site; desta vez, os tais cookies irão trabalhar em seu favor.
Muita calma nessa hora
A emissão do novo documento será padrão nas Secretarias de Segurança a partir de 2023. Mas se você é do tipo que deixa tudo para a última hora, não esqueça. Muito. O RG analógico que você tem aí na carteira continua valendo até 2032. Porém, se a validade do seu RG atual termina antes disso, faça a troca normalmente. A diferença é que você sairá de lá já com seu RG Digital.
Além do Rio Grande do Sul, estão aptos e autorizados a emitir o novo RG os Estados do Acre, Goiás, Minas Gerais, Paraná e o Distrito Federal.
Aqui dentro e quase lá fora
Não apenas o uso do número nacional do CPF como identificação principal ajudará a permear a bagunça, como expliquei lá no início, como também haverá a inserção de alguns dados interessantes. Além das informações que são de praxe no documento atual e do já falado QR Code, também receberá um código MRZ, padrão internacional de identificação que é inserido nos Passaportes.
Mas se você é dos que viajam à torto e à direito por aí, não comemore. No momento, o código dos RGs brasileiros são aceitos apenas na região do Mercosul. Os demais países deverão ir liberando a entrada de brasileiros assim que acordos internacionais foram firmados com este fim. Mas é meio caminho andado.
Tudo certo, senão nada feito!
Se você é do tipo que adora uma novidade, e quer seu nome num novo RG, saiba que os demais Estados estão autorizados a proceder sua emissão a partir de março de 2023.
No entanto, atente para uma informação relevante: seu CPF precisa estar, como diziam as campanhas do Carnê do Baú, “rigorosamente em dia”. Senão, nada feito. Acesse o site da Receita Federal e confira. Caso algo esteja irregular, precisa passar aqui e regularizar. Costuma ser rápido e evita muita dor de cabeça futura. Digo por conhecimento de causa.
Eu volto. Logo, com RG Digital.
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.