Robert, o robô aspirador espião
Que os dados são o novo petróleo, ninguém pode negar. Em 2018 essa frase inicial era o título de um artigo publicado pelo Cesar (empresa de tecnologia) e que pode ser lido aqui. Desde lá, com a implementação da LGPD e de outras leis de proteção de dados ao redor do mundo, ficou bem evidente de que o data set é bem valoroso.
Alguns dias atrás a Amazon fez uma compra: adquiriu o IRobot, empresa de aspiradores robôs por 1,7 bilhão de dólares. Para alguns, foi somente mais uma ampliação do nicho de mercado da Amazon mas, para os experts em segurança de informação, foi automático o pensamento de que: a empresa quer acumular uma quantidade exorbitante de dados de usuários.
Pesquisadores, como Ron Knox, da Institute for Local Self-Reliance, uma ONG de assistência de negócios, já estão notando o desdobramento dessa compra. Ele tuitou que a compra poderia “ser a aquisição mais perigosa e ameaçadora da história” da big tech.
“[Na] verdade a Amazon é uma empresa de vigilância. Esse é o núcleo de seu modelo de negócios e é isso que impulsiona seu poder de monopólio e lucro”, já disse Evan Greer, diretor da ONG de direitos digitais Fight for the Future, em entrevista à Wired (famosa por “vazar” histórias envolvendo as big techs).
O que é IRobot?
A IRobot é uma empresa que iniciou sua marca com a criação de robôs para o exército militar dos EUA. Nas últimas décadas, ela notou que seria muito mais lucrativo ingressar no mercado doméstico com os robô-aspiradores da linha Roomba. Para atuarem, os aparelhos utilizam de sensores, criados com a finalidade de mapear todas as áreas de casas ou outros empreendimentos. (Opa, notou o perigo aí?)
Portanto, o robozinho, que a primeiro momento é super fofo e útil, consegue reunir uma quantidade de dados extremamente privados de seus usuários — desde número de cômodos, se há pets, rotinas de limpeza e outras atividades particulares de cada um - que obviamente servirão para algum propósito futuro.
Em uma entrevista à Reuters em 2017, Colin Angle, CEO da IRobot, sugeriu que no futuro esse volume de informações poderia ser compartilhado com outras empresas, especializadas em smart homes e dispositivos baseados em IA. (Mais uma venda de dados dos usuários…)
E a Amazon com isso?
Bezos está nos últimos tempos aumentando suas rotas de comércio. Em 2018, a companhia adquiriu a Ring, empresa de campainhas, e, logo depois, lançou no mercado seus speakers das linhas Dot e Echo - as famosas Alexas (ah! Vale lembrar que o robôzinho aspirador também terá uma Alexa acoplada, ok?).
Alguns meses atrás, foi lançado o Astro, seu robô doméstico com foco em segurança e pessoas de baixa mobilidade. Sim, eles estão investindo em todos os públicos, desde idosos com baixa mobilidade até pessoas de 30 anos que não têm tempo de limpar sua casa.
Ainda é importante falar da Amazon Care, que inclui uma loja virtual de medicamentos, como autotestes de Covid e, também, da aquisição da One Medical, uma rede de consultórios dos EUA com foco em telemedicina.
O que, afinal, eles querem?
Pesquisadores e ativistas têm alertado sobre vasto número de dados de privacidade que todas essas tecnologias estão coletando nos últimos tempos. A Ring (empresa de campainhas), por exemplo, esteve envolvida em controvérsias nos últimos anos, como acordos de compartilhamento de dados de usuários com as polícias dos EUA e do Reino Unido.
Fora o viés preconceituoso, tendo em vista que “rotula” a pessoa em uma certa caixinha, dado a sua rotina privada e doméstica, ainda existem testes que comprovam que a campainha (da empresa Ring que foi comprada pela Amazon) captura imagens e sons ao seu redor, os gravando na nuvem. Eu também falo aqui sobre como a Alexa está realizando compras sem o consentimento do usuário.
O Problema Real
No caso da compra da One Medical o problema foi bem mais a fundo. As pessoas notaram que seus dados médicos são sigilosos e ninguém quer que sejam utilizados como moeda de troca pelas big techs. Isso porque agora elas poderão saber se alguém ficou doente, se ficou grávida (ou teve aborto), sua média de gastos com exames e remédios etc. Inclusive, eu falo aqui sobre como os aplicativos menstruais estão coletando dados e os exportando.
Não podemos esquecer das descobertas já ditas como antigas. A CIA já adentrava nos dispositivos de IOT ainda em 2017, o que pôde ser notado no projeto Weeping Angel. Só que agora as big techs estão fazendo isso. A própria Alexa já gravou conversas e as enviou para alguém de maneira acidental. Já uma matéria da Bloomberg revelou que um time da Amazon usou amostras de conversas de usuários para ensinar seus algoritmos a responderem melhor a comandos.
Resumindo…
A famosa frase que diz “se você não paga pelo produto, o produto é você” (Andy Lewis) é bem evidente atualmente. O importante é: rever seus conceitos e suas compras, sempre relembrando que a iniciativa de se proteger vem de você mesmo.
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Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.