Salve Jorge Ben Jor!
O grande Mano Brown diz que ele é o fã número 1 do Jorge Ben Jor, só se for o número 2, depois de mim. Na minha modesta opinião, a capa desse disco é a melhor da história da música e musicalmente é um dos seus mais belos trabalhos. Esse álbum é conhecido como "Jorge Ben 69", "Jorge Ben Flamengo" ou só "Jorge Ben".
Os detratores do Ben o criticavam por não fazer "música de protesto". No entanto, uma capa de disco em que um negro genial está quebrando as correntes e, portanto, se libertando, no auge da repressão da ditadura militar em seu país racista, vale mais que mil palavras de protesto.
A simbologia dessa capa, com muitas cores, símbolos de brasilidade e universais, reflete sua época de muita psicodelia nas artes e do advento do Tropicalismo no Brasil - embora os tropicalistas fossem mais influenciados pelo Babulina (comos os íntimos conhecem o Jorge Ben) - do que o contrário. E claro, o amor do Ben pelo futebol em geral, e em particular pelo Flamengo.
Sonoramente, esse disco talvez seja a consolidação do ritmo afro-brasileiro que ficou conhecido como "samba-rock", embora o próprio Jorge não simpatize com o termo.
Os seus 3 primeiros discos eram mais voltados para bossa nova, também pudera, João Gilberto é o seu maior ídolo. Eu li uma entrevista do Ben da época do lançamento do Samba Esquema Novo, em que o Babulina dizia que o que ele fazia era "afro-bossa nova".
Os seus quarto e quinto álbuns, respectivamente, Big Ben e O Bidú, já forjam esse ritmo conhecido como "samba-rock", mas no Ben 69 é sua consolidação. Essa obra-prima tem uma orquestração característica à música psicodélica dos anos 1960, alguns efeitos sonoros que nos remetem à tropicalidade, e, obviamente, um suingue avassalador. Esse negão tem as manhas.
Quando ouvi esse disco pela primeira vez era muito jovem, mas já era um grande fã do Ben, quando vi as faixas com tantas músicas que já conhecia: Bebete Vãobora, Cadê Tereza, País Tropical, Charles Anjo 45, Que Pena, Domingas, Criola, Take it Easy. Pensei se tratar de uma coletânea, mas era tão somente mais um disco extraordinário do Rei da música preta brasileira.
"Domingas" talvez seja a mais bela melodia que já ouvi do Jorge. A inspiração não poderia ser maior, a canção é inspirada no grande amor da sua vida e esposa até hoje, a Domingas Terezinha Menezes. A personagem "Tereza" é uma homenagem ao seu amigo Simonal e sua esposa Tereza. "Barbarella" foi feita para sua musa inspiradora de filme homônimo, interpretada por Jane Fonda.
O Charles Anjo 45 é uma reverência a um malandro que o Jorge conhecia, que portava uma pistola 45 na cintura. Segundo o Babulina, ele ainda estava vivo e velhinho nos anos 1990. Essa canção não é uma referência ao Che Guevara ou Marighella, como alguns especularam. Eu sempre cantava a música "Quem foi que Roubou a Sopeira" para minha amada vó, uma das prediletas da minha velha senhora.
Enfim, se o que o George Clinton fazia nos EUA dos anos 70 era "funkadelic", o que o Jorge Ben fazia por aqui nos anos 60 era “sambadelic”.
Referências Bibliográficas:
Imbatível ao Extremo: Assim é Jorge Ben Jor! Rio de Janeiro: Rádio Batuta, ims.com.br/radiobatuta, 15 de novembro de 2021.
A obra e a vida de Jorge Ben Jor. Roda Viva. São Paulo: TV Cultura, 18 de dezembro de 1995. Programa de entrevista em TV.
Este artigo foi escrito por Célio Roberto e publicado originalmente em Prensa.li.