Sandman – Os pequenos perpétuos
Introdução
Sandman é uma história em quadrinhos escrita por Neil Gaiman e voltada ao público adulto, publicada pela DC Comics sob o selo Vertigo. Suas histórias acompanham Morpheus (Sandman, Senhor dos sonhos, etc.), o governante do Sonhar, o reino/mundo dos sonhos. O protagonista faz parte da família dos perpétuos, estes que são representações antropomórficas de elementos comuns aos seres vivos, são entidades responsáveis pelo ordenamento da realidade. A família é composta por: Sonho, Morte, Delírio, Destino, Destruição, Desejo, e Desespero, cada qual com sua personificação dos aspectos do universo.
Uma série de Sandman está em desenvolvimento pela Netflix, a primeira temporada acompanhará o arco intitulado Prelúdios e Noturnos, porém modificando para a atualidade. Sabendo que as expectativas crescem conforme o mercado midiático estabelece novos conteúdos e métodos, este escrito é um convite para que se conheça além de Sandman, também outros membros da família e outros meios que atingem outros públicos.
Convinha estabelecer o postulado acima devido a variedade de leitores que este artigo pode assumir, alguns já familiarizados com a temática outro não. Este texto foca na personagem Delírio (Delirium) da família dos perpétuos, porém na versão infantilizada dos mesmos, conforme encontrada no quadrinho Os pequenos perpétuos (2013), produzido por Jill Thompson, distribuído pela Panini Books sob o selo Vertigo, da DC Comics, no Brasil. Esta edição, capa dura, contém esboços originais e a história do desenvolvimento da obra.
Delírio é a caçula da família dos perpétuos e sua aparência está em constante mudança, com seus olhos que contém estrelas é capaz de ver o mundo segundo sua própria e única maneira. Tal qual sua personalidade, seu reino é uma mistura de cores e estranhas combinações de formas que estão em movimento o tempo todo, além disso contém a frase Tempus Frangit (O Tempo Quebra). Delírio já foi conhecida como Deleite, porém não foi abordado nas histórias de Sandman como essa mudança ocorreu, deixando apenas interpretações possíveis a partir de Noites Sem Fim. Na versão de Thompson, seu cão protetor, Barnabás, deve cuidar de Delirium por ser uma criança distraída e que se perdia ao caminhar.
A narrativa
Convém deixar o aviso de spoiler na sequência da leitura. A história acontece após Delirium e Barnabás se separarem, ela, ao achar que seu cão está perdido, decide ir atrás do cachorrinho. Barnabás, ao retornar para onde ela estava, percebe que ela se perdeu novamente. Então o filhote decide visitar os seis irmãos de Delirium para tentar encontrá-la, iniciando por Destruição. De forma valente e com o espírito protetor que era, parte para a floresta densa e perigosa atrás de informações, tendo que escalar uma montanha rochosa para que pudesse chegar a casa do irmão de Delirium. Então ele, que estava pintando quadros, lhe dá um amuleto de espada para que ajude na jornada.
Passando por um labirinto tortuoso, Barnabás chega a Destino, porém nem mesmo seu livro indicava onde ela poderia estar, então o cão ganha mais um amuleto, desta vez de um livro, para o caminho. Em seguida, em meio a uma névoa e em um local repleto de espelhos, encontra Desespero, que diz que Delirium tem alegria no coração, então não está com ela, porém lhe dá um amuleto de espelho para que siga rumo à sua busca.
Subindo uma escadaria gigantesca, entra em uma porta no formato de coração, chegara ao reino de Desejo, irmão/irmã de Delirium. Porém sem informações quanto ao seu paradeiro, também lhe dá um artefato, agora no formato de coração. Ao descansar por um momento, o cãozinho encontra-se no Sonhar, o reino de Morpheus. Ainda sem entender em como os artefatos ajudaria em sua busca, recebe mais um, desta vez era uma estrela.
Após caminhar no vazio e sem saber por quanto tempo, Barnabás fica de frente com a irmã mais velha de Delirium, a Morte. Dialogando que teria medo de ter perdido sua pequena Lady Delirium, a irmã lhe responde que sua irmã mais nova não está com ela, então não a perdeu para sempre. Agora recebera o amuleto de um ankh.
O cãozinho, ao ficar feliz em saber que ela está viva, começar a perseguir sua cauda – que suspeitava ser alguém lhe seguindo – e rodopiar por cinquenta voltas acontece o fim de sua busca. Após ficar tonto e com a sala girando, ficou delirante e perguntando onde estava sua “coisinha cintilante?”, Delirium respondeu “bem ao seu lado”. Dos amuletos foi feito um colar quase como coleira, o qual Barnabás usava para não perder mais Delirium.
Conclusão
A obra sobre os pequenos perpétuos abre um leque de possibilidade de público, pois ao ser uma versão infantil das entidades que facilmente agrada aos jovens leitores, também agrada aos olhos dos mais experientes e/ou maduros, seja pela estética, seja pela simplicidade, é, de toda forma, um presente ao público geral. Destaco, além da beleza da simplicidade da narrativa, a qualidade das artes empenhadas na obra, pois as ilustrações em aquarela, as manchas que a própria tinta e técnica fazem fornecem um quê especial, algo como um cuidado em mostrar o processo de produção. Junto a isso, a mescla de mundos e recortes ou estilos quando se está no reino de Delírio, podendo notar a complementação – e não o contraste excludente – da aquarela trabalhada com o fundo “infantil” na forma de pintar árvores, nuvens, recortes de folhas de caderno, etc.
É, em suma, um belo quadrinho que vale a pena ser lido e conhecido pelo público geral, de crianças e sua descoberta com a nona arte aos mais estabelecidos e acostumados aos diversos gêneros de leitura.
Referência bibliográfica
THOMPSON, Jill. Os pequenos perpétuos. Barueri, SP: Panini Books, 2013.
Este artigo foi escrito por Maurício Brugnaro Júnior e publicado originalmente em Prensa.li.