São Paulo e a cultura que visita milhões
São muitos os paulistanos que nunca entraram no museu do Ipiranga, ou não sabem do que se trata o Museu da Imagem e do Som. Mas são pouquíssimos, quase nenhum, que não conhecem e não entendem expressões como passinho do romano, meia na canela ou então, Baile do Helipa, basicamente onde muita coisa começou.
Uma das cidades mais populosas do mundo completa 468 anos de muita história e grandes transformações. Dentre muitos de seus aspectos, a cidade — considerada em 2021 pelo Boston Consulting Group uma das quarenta e cinco melhores para se viver no mundo — carrega também a condição de polo cultural, no Brasil.
Quem decide fazer um tour pela cidade de São Paulo não consegue conhecer tudo em um único dia, tampouco em um final de semana. Mas não importa quantas horas se passe visitando pontos turísticos de SP, é possível receber uma enxurrada de cultura.
É possível, também, encontrar — espalhado por estes mais de 1.500 metros quadrados geográficos — museus de arte, imagem e som, futebol, museu afro, da língua portuguesa, e muitos outros.
Mas nem só entre quatro paredes (nos museus) está representada a riqueza de São Paulo. Pelos bairros, encontramos a Liberdade, a Lapa, o Ipiranga e muitas histórias possíveis de serem visitadas entrando em um ou mais ônibus.
Diante da diversidade histórica e cultural que cada um pode visitar, existe uma potência cultural expressa, ambulante e dinâmica, que todo residente ou visitante de São Paulo tem acesso visitando ou sendo visitado por ela.
Os precursores dessa cultura viajam todos os dias longas distâncias da cidade para trabalhar, estudar, para sobreviver. São mais de 1.700 favelas que acolhem famílias e, principalmente, jovens que estão mudando os rumos da cultura e do mercado na cidade.
Muitas dessas favelas são bem conhecidas até mesmo por quem nunca colocou o pé na quebrada. Antes, eram (para alguns) apenas palco de tragédias em notícias de final da tarde. Hoje, são citadas em músicas como já foi a Lapa e a Estação da Luz.
O funk espalha para o centro, para as mais periféricas e mais nobres regiões da cidade, os relatos, sonhos, alegrias e tristezas, de personagens reais que dividem espaço nos bancos, nas universidades, nas empresas, nas ruas e avenidas.
Em 2022 fazemos a comemoração do centenário da Semana de 22, quando a arte ganhou um novo espaço em nosso país, um momento revolucionário da história. Mas, dentro deste centenário, há pelo menos mais de vinte anos a arte continua sendo revolucionária e falando de outra margem, e não uma margem mínima, mas imensa, da população paulistana que canta, dança, vende, veste e registra a favela em todos os cantos de SP.
Em São Paulo, você não precisa pegar um ônibus para visitar a favela, muitas vezes, ela está do seu lado.
Este artigo foi escrito por Bruno Aparecido e publicado originalmente em Prensa.li.