A saúde mental nos tempos de Covid
Foto: envato
(Este artigo não contém assuntos que possam desencadear gatilhos)
Inspira. Expira.
A respiração é um truque importante durante crises de ansiedade e pânico, ou simplesmente para quando você estiver se sentindo sobrecarregado (a) – o que tem sido cada vez mais comum durante pandemia do COVID-19.
Não temos costume de falar sobre e cuidar da nossa saúde mental. Existe uma cultura intrínseca em nós de que “doenças mentais são doenças de rico”, depressão não existe e suicídio é fraqueza ou egoísmo. Se formos falar sobre profissionais como psiquiatras e psicólogos então, aí é que entra a generalização mais absurda: são médicos para gente maluca.
Desde 2020, o nosso mundo virou de cabeça para baixo. Precisamos reaprender a viver em uma realidade que parecia ter sido retirada de um filme pós-apocalíptico. Regras foram impostas. Máscaras se tornaram obrigatórias. Estabelecimentos fechados. E fomos forçados a ficar em casa – home office afetou 8,2 milhões de trabalhadores no Brasil em 2020.
Algumas coisas mudaram desde então. Vivemos um “novo normal”. Uns aprenderam novas habilidades, outros fizeram cursos e maioria de nós teve que se adaptar a uma rotina de home office.
A separação entre trabalho, lazer e descanso não existe mais. Pelo menos não para quem não precisa trabalhar presencialmente (e ainda respeita as regras de uma pandemia que perdura).
Como toda essa mudança abrupta não poderia afetar a nossa saúde mental?
Taquicardia, falta de ar, dor no peito, tremores e suor excessivo. Esses são alguns dos sintomas mais comuns de uma crise de ansiedade. Talvez você já tenha passado por uma e nem sabia. Existem vários motivos que podem desencadear esses sentimentos. E um deles é o estresse.
A ansiedade é o transtorno mais comum no Brasil. Mas existem outras condições que têm se tornado cada vez mais frequentes e que podem estar ligadas à nossa nova realidade.
Vamos falar sobre o Burnout
Burnout é, literalmente, esgotamento em inglês. A Síndrome de Esgotamento Profissional é caracterizada por sintomas de estresse, depressão, sentimento de incapacidade, insônia, esgotamento físico e exaustão extrema causados exclusivamente pelo desgaste do trabalho.
Se você se considera um workaholic, alguém viciado em trabalho, é possível que vá sofrer com essa síndrome em algum momento, pois, o fator que desencadeia essa condição é exatamente o excesso de trabalho.
O Burnout cria uma constante necessidade de provar o seu valor, enquanto impossibilita o desligamento total do trabalho. Preste atenção se você não consegue parar de checar e-mails ou mensagens do trabalho até mesmo antes de dormir ou enquanto está entre amigos e familiares.
Você consegue evitar trabalhar durante o final de semana ou sente que precisa sempre mostrar que sabe fazer o que está fazendo?
Talvez você esteja se distanciando da sua vida social, mudando de comportamento, sentindo um vazio ou até mesmo entrando em depressão. A Síndrome de Burnout faz com que a pessoa reavalie outras atividades da sua vida fora do trabalho, como se não fossem importantes.
Esses são alguns dos sinais mais comuns entre pessoas que apresentam uma possível Síndrome de Esgotamento Profissional. O resultado dessa combinação de comportamentos e sentimentos é um grande acúmulo de estresse, tensão emocional e de trabalho, isolamento, dificuldade de concentração e, consequentemente, um “desligamento” da mente.
(Se você se identifica com um ou mais desses sintomas, procure ajuda de um profissional para um diagnóstico correto.)
Mas como pode ser possível evitar esse esgotamento profissional se todas as áreas das nossas vidas foram misturadas em uma só?
A casa, que antes era lugar de descanso, conforto e até de lazer, se tornou em um escritório e, com a quarentena, uma prisão. Não existe mais separação entre essas atividades para quem trabalha em casa. Até exercícios físicos foram incentivados a serem feitos com ajuda de vídeos no YouTube, como yoga.
Transitamos entre telas. Da do computador para a do celular para a da TV.
Como encontrar formas de se desligar dessas telas e descobrir prazer em outras coisas?
Quantos streamings existem? Quantos filmes e séries são lançados toda semana? Quantas vezes você parou para assistir algo, mas continuou verificando o seu celular o tempo todo?
De acordo com a pesquisa da Kantar IBOPE Media, 30% dos participantes disseram que estar mais tempo em casa foi fator determinante para assinatura de streaming. Enquanto isso, 58% disseram ter consumido mais conteúdo dos serviços, como Netflix, que atingiu a marca de 200 milhões de assinatura no fim de 2020.
Paralelo a isso, um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), constatou que casos de depressão aumentaram em 90% e relatos de ansiedade e estresse agudo mais do que dobraram no primeiro semestre de 2020.
A TV não é mais o suficiente para nos entreter, relaxar ou até causar inspiração. Ir à museus e cinema, andar pela cidade ou conhecer novos lugares faz tremenda falta na nossa rotina. Fazer essas atividades - ou outras - sem se preocupar com uma possível contaminação é quase impossível, e cria um estrago na nossa saúde mental.
Quando foi a última vez que você leu um livro sem se preocupar com o tempo, ou deixar notificações do celular te atrapalhar? Quando foi que você ouviu uma música nova – ou aquela sua favorita –, fechou os olhos e adormeceu?
Talvez o segredo para não enlouquecer nesses tempos de Covid é se entregar a experiências novas.
1.Pinte. Compre uma tela, não importa o tamanho. Compre uns pinceis e algumas tintas nas cores que você goste. Não importa o quê ou se vai ficar esteticamente bonito ou não. Você pode buscar inspirações em outras artes, mas faça melhor: apenas pinte. Não se preocupe com a bagunça ou com o resultado. Tire um tempo para experimentar algo novo.
2.Escreva. Sobre o seu dia, seus sentimentos, qualquer pensamento que vier a sua cabeça. Diários não foram feitos apenas para adolescentes. E você não vai escrever um best seller. Crie o hábito de anotar o que você sente. Talvez ajude em momentos de ansiedade e depressão.
3.Faça uma playlist com as suas músicas preferidas e ouça sempre que estiver se sentindo sobrecarregado, frustrado ou triste. Coloque bem alto, dance, deite-se no chão e feche os olhos.
4.Cultive um jardim. Isso talvez faça com que você recorra à internet para se informar sobre todo o processo, ou você possa apenas tirar suas dúvidas com o florista de onde você comprar as plantas. Tirar um tempinho do seu dia para cuidar do seu jardim pode tirar um pouco do estresse do dia a dia.
5.Leia muito! Você pode ler por 20 minutos todo dia se não já não tiver o hábito. Existem plataformas de leitura por assinatura que você pode receber em casa, todo mês, um livro escolhido por curadores – como a TAG e a Dois Pontos. Ler exige paciência e comprometimento, além de melhorar o vocabulário e a escrita.
6.Saia de casa todos os dias para pegar um pouco de sol. Ande pelas ruas do seu bairro ou do seu condomínio e tente prestar atenção dos detalhes desses lugares, em coisas que antes você não notaria. Escute os sons de cada movimento e não suprima os seus pensamentos.
7.Descubra podcasts que você se identifique. Existem muitos hoje em dia, cada um sobre um tema diferente. Isso também vai exigir que você faça uma pesquisa rápida sobre o assunto, mas em aplicativos como Spotify você vai poder encontrar vários. Escute notícias, debates, conversas, entrevistas e histórias sem precisar ler em um site ou portal de notícias.
8.Se exercite ao ar livre. Para evitar esportes coletivos, comece caminhando, se você deseja correr. A endorfina liberada causa uma sensação de bem-estar e ajuda com o estresse, depressão e outros sentimentos ruins que deterioraram a saúde mental.
9.Tire um tempo para cuidar de você. Seja com uma skin care, preparando uma comida especial ou se presenteando. Essas dicas não são exclusivamente para mulheres.
10.Adote um animal. É cientificamente comprovado que ter pets em casa diminui sintomas de ansiedade, estresse e depressão. A sensação de solidão causada pelo isolamento também diminui com a companhia de um animal de estimação.
Experimente. Mesmo que pareça não ser para você, ou algo que você não consiga fazer. Se der errado, qual é o problema? Definitivamente é melhor do que deixar a sua mente se esgotar.
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E reflita sobre o entretenimento durante a pandemia.