A saúde mental retratada na Literatura
Setembro é nacionalmente conhecido como o mês de prevenção ao suicídio. Desde 2014, a ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria – organiza uma campanha nacional que, além de prevenir e reduzir o número de suicídios, visa informar à população a respeito dos cuidados e importância da nossa saúde mental.
De acordo com dados da OMS, o Brasil é o segundo país das Américas com o maior número de pessoas depressivas, ficando atrás apenas dos EUA. Durante a pandemia, a situação piorou: estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) revelou um aumento de 90% nos casos de depressão.
Assim, considerando o mês da campanha e o momento que estamos, que tal nos atentarmos para a nossa saúde mental?
Uma das formas de nos cuidarmos é através da leitura, que serve de local de refúgio e pode se tornar uma grande parceira. Associando a saúde mental à literatura, escolhemos 5 obras que podem nos ajudar a refletir sobre o tema.
1. O quarto branco – Gabriela Aguerre
Finalista do Prêmio de SP de Literatura (2020), este livro conta a história de Gloria, jovem uruguaia criada no Brasil, que sofre um aborto espontâneo, ao mesmo tempo em que vivencia momentos conturbados, e aos 40 anos, sua vida parece desmoronar e escorrer pelos dedos.
Num ímpeto de desejo, ela decide largar São Paulo e ir até o Uruguai, seu país de origem, para buscar respostas para suas complexidades, e um pouco de paz. Voltar às suas raízes é abrir uma porta para enfrentar seu passado que a perturba até hoje.
Apesar da carga pesada no enredo, Gabriela Aguerre escreve com uma mão leve e poética uma narrativa que segue um fluxo de consciência, e as páginas se transformam em um desabafo carregado de alívio. Uma leitura intensa que envolve o leitor, pois a personagem enfrenta com energia e emoção alguns dos temas mais difíceis para o ser humano.
2. A ridícula ideia de nunca mais te ver – Rosa Montero
Rosa Montero, escritora espanhola, escreve sobre o luto - em todas sua complexidade - e sobre a vida. Após perder seu companheiro e inspirada na vida da cientista Marie Curie, que também viveu um luto, Montero escreve um livro autobiográfico que mistura ficção, memória e passagens de diários.
Uma leitura fluida, inteligente e vertiginosa a respeito da morte, do amor e sobretudo, dos laços que nos unem ao extremo da vida.
3. Veronika decide morrer – Paulo Coelho
Paulo Coelho escreveu “Veronika decide morrer” em 1993, época em que pouco se falava sobre saúde mental. O assunto ainda era tabu e os hospitais psiquiátricos eram chamados de manicômios e encarados, preconceituosamente, como lugares para malucos.
Coelho dá seu lugar de escritor e voz a Veronika, uma jovem de 20 e tantos anos que, no auge de sua breve vida decide dar um fim ao seu sofrimento. No entanto, seguindo o curso da vida e de seu destino, nem sua última decisão é sucedida, e ela acaba parando em um hospital psiquiátrico. O livro acontece a partir daí e tem o hospital como cenário da história toda.
O leitor se depara com diversos assuntos relacionados à saúde mental, como crise do pânico, desvio de personalidade, ansiedade, depressão e esquizofrenia. Uma leitura comovente, que coloca em questão a necessidade de sermos iguais ou diferentes, e de nos opormos ou aceitarmos a sociedade.
Uma bonita e breve história sobre nosso lugar no mundo e o que fazemos dele. Torna-se mais bonita ainda quando pensamos que foi escrita em uma década em que questionar o tema loucura era considerado sinal de insanidade por boa parte da sociedade.
4. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu – Oliver Sacks
Oliver Sacks foi um famoso neurologista que publicou diversos livros ao longo de sua vida. Em “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, publicado no Brasil em 1992 pela Companhia das Letras, Sacks narra histórias de seus pacientes com distúrbios neurológicos que vivem em um mundo próprio de percepções e imaginações.
O leitor encara na obra personagens em situações que à primeira vista parecem bizarras, como o caso do homem que leva o título da obra, e confundiu sua mulher com um chapéu.
Uma leitura muito rica e com a capacidade de levar o leitor leigo ao conhecimento da complexidade de nosso cérebro, e o que ele é capaz de fazer e se transformar para conviver com algumas doenças.
5. A redoma de vidro – Sylvia Plath
A redoma de vidro não é um livro fácil, tampouco superficial. Com uma escrita extremamente poética e bela, Sylvia nos conta a história de Esther, uma jovem promissora e talentosa que ganha um estágio numa famosa revista de moda em Nova York.
Lá, em meio ao glamour, ela se vê presa em uma redoma de vidro, sufocante: Esther tem depressão e entra em colapso, justo em um momento de ascensão profissional. Neste romance autobiográfico, Sylvia vai além de um relato detalhado de depressão: ela nos conta sobre amadurecimento, saúde mental e descoberta sexual, além de refletir sobre o papel da mulher na sociedade.
A redoma de vidro, junto com Plath, se tornou um símbolo feminista, mas é preciso deixar claro que o livro vai muito além da temática da época, escrito em 1963, e aborda intensamente o tema saúde mental.
Sylvia Plath deixou muito de si nesta obra e semanas após o seu lançamento, a escritora cometeu suicídio. O livro é um retrato muito fiel e doloroso de sua depressão, e por isso é importante ressaltar que a leitura pode gerar alguns gatilhos emocionais; é um livro que incomoda e nos faz refletir.
Sylvia Plath, postumamente, se tornou símbolo feminista e seu trabalho ficou conhecido mundialmente: “A redoma de vidro”, seu único romance, é um clássico da literatura.
Imagem de capa - Cottonbro - via Pexels
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Este artigo foi escrito por Mayra Rodrigues e publicado originalmente em Prensa.li.