Scooby-Dooby-Doo!
A equipe reunida: tom mais realista | Imagem: Divulgação
Há mais de cinquenta anos, a vida não vem sendo fácil para fantasmas, demônios e assombrações em geral, que teimam em causar perturbações na pequena Coolsville. Isso, muito antes da chegada dos Caça-Fantasmas ou Buffy, a Caça-Vampiros.
O grande erro destas entidades sobrenaturais é cruzar o caminho de quatro adolescentes e um cachorro: Fred, Daphne, Velma, Salsicha, e é claro, Scooby-Doo.
A turma: cinco décadas de mistérios | Imagem: Warner
Franquia de maior sucesso dos estúdios Hanna-Barbera, suplantando até mesmo Os Flintstones, a turma do Scooby-Doo faz sucesso até hoje. Atualmente, sob controle da Warner, os personagens continuam estrelando novas séries de animação, longa-metragens, live actions, quadrinhos e muito mais.
Entretanto, ninguém havia pensado numa série de TV com atores em carne e osso, formato em alta nos dias atuais. Oficialmente, isso ainda não aconteceu, ao menos dentro do conglomerado que tem aquela enorme caixa d’água com as iniciais WB.
Porém, como diria o lendário Chapolim Colorado, não contavam com a astúcia dos fãs. Em 2020, surgiu na plataforma de financiamento coletivo Indiegogo a campanha para a produção da série Mystery Incorporated, cujo episódio piloto foi disponibilizado recentemente no YouTube. E o resultado é surpreendente.
Sobrenatural e realista
Produzida sem as bênçãos da Warner, como uma fanfic televisiva, o filme é melhor do que muitas adaptações oficiais. Mais que isso, é extremamente respeitoso com todo o cânone dos personagens.
Salsicha, Velma, Daphne e Fred: realistas, sem perder a essência | Imagem: Divulgação
Mystery Incorporated tem um tom mais realista, vez por ora lembrando Supernatural ou até a versão de Sabrina realizada pela Netflix. No entanto, não parece que desta vez os vilões serão bandidos usando máscaras de fantasmas, mas sim espíritos irritados e um tanto mal-intencionados.
E é aqui que o roteiro brilha. Cheio de citações a episódios da série de animação, tem fan services a torto e à direito, nos deixando antever passagens com Jonathan Jacobo (o Pterodáctilo), o Cavaleiro Negro, e como a grande ameaça neste piloto, o Mineiro de 49. Todos muito bem inseridos na história. Nada aparece de modo gratuito.
Cidade pacata, mas nem tanto assim
Como poderíamos esperar, as aventuras ocorrem nas cercanias da high school de Coolsville. A história começa com uma tragédia, atingindo a família de Fred; Daphne se prepara para a eleição da Rainha do Baile; Velma, mergulhada nos estudos, pensa em ajudar de algum modo a mãe, em depressão profunda após a morte do marido; e Salsicha se vê bem próximo de problemas com a Justiça. Agravados pelo fato de seu pai ser o delegado da cidade.
Dade Elza, que também é o editor da série, interpreta Fred Jones com muita personalidade; Jessica Chancellor, apesar de parecer um pouquinho mais velha do que a personagem original, tem todas as características da Daphne Blake que conhecemos; Dayeanne Hutton, a Velma Dinkley desta versão, mesmo levemente diferente, emana a personagem da animação nos menores detalhes; E Salsicha (Chris Villain), mesmo sendo o mais diferente em relação à animação, tem todo o jeitão gaiato do original, inclusive mostrando um lado que antes apenas imaginávamos, mas era só sugerido.
Percebam que não falei sobre o cachorro, que é o grande destaque do desenho animado. Já que a pegada aqui é bem mais realista, o Scooby Doo aqui é um cachorro real, interpretado por Thor Von Shultz, um dogue alemão muito bem treinado. Não fala, como nas outras adaptações, mas em determinados momentos rouba a cena, como no momento em que falha em defender Salsicha de uma agressão.
Salsicha e Scooby: cachorro sendo cachorro | Imagem: Divulgação
Nada fica de fora
Outros elementos originais estão presentes, como a famosa van Máquina do Mistério, que nesse piloto ainda é uma van normal, mas durante a série deverá se transformar no carro que conhecemos. As Hex Girls, conjunto musical que apareceu em alguns episódios do desenho, pela primeira vez é retratado em live action, e pelo que se percebe, deverá ter papel importante no decorrer da série.
E mesmo com a pegada mais séria e mais moderna, pode-se antever que diversos detalhes concebidos pelo desenhista Iwao Takamoto, lá em 1969, irão dar as caras aqui. O modo como os personagens investigam as situações, até o modo de como utilizam lanternas, e mesmo a paleta de cores de cada personagem vai surgindo no decorrer do episódio piloto.
O longa é dedicado à memória dos roteiristas Joe Ruby e Ken Spears, os verdadeiros pais da ideia de Scooby-Doo, junto com Takamoto. A produção, feita em 4K, é bem cuidadosa. Não faz feio perto de nenhuma outra série profissional. Inclusive a trilha sonora, com músicas incidentais e canções, foi composta especialmente.
Novos mistérios a caminho
Não se sabe ao certo como vai o financiamento, mas 14 dias depois que foi disponibilizado, o filme já contava com mais de um milhão e meio de views. Ah, e já está legendado (com bastante qualidade) em português brasileiro.
A ideia da equipe é começar a disponibilizar os episódios quando toda a série estiver pronta. Espero que em breve. Não vejo a hora de ouvir a famosa frase “eu teria conseguido se não fossem esses adolescentes e esse cachorro idiota”.
Merecem um biscoito Scooby, meu filho!
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.