Seguimos descobrindo o Brasil
A Tovomita Cornuta. Foto: Layon Oreste Demarchi
Descobrimos uma nova planta genuinamente brasileira! A Tovomita Cornuta, ainda sem nome popular, vive basicamente em ecossistemas específicos. Já “nasce” ameaçada de extinção.
A região amazônica é mesmo um oásis ecológico. Para além da última descoberta, a expectativa dos pesquisadores do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) é que haja muitas espécies a conhecer.
A Tovomita faz parte da família botânica Clusiaceae, caracterizada em maior parte por árvores e arbustos de flores com seiva leitosa e frutos em forma de cápsula. Ela integra a região mais rica em biodiversidade do mundo! Do México Central ao Sul do Brasil.
A história de sua descoberta é curiosa. Um botânico americano, estudando a Amazônia em 1973, encontrou um exemplar dessa espécie, supôs tratar-se de outra e encaminhou a planta ao INPA.
Quase 50 anos depois, pesquisadores excursionam nas Reservas do Uatumã e do Tupé e encontram mais de 30 “indivíduos”. Coletam e comparam por três anos até chegar a conclusão do ineditismo.
Junto à descoberta de sua existência, vem o conhecimento de sua ameaça. A espécie é tratada como criticamente ameaçada. As áreas que a planta vive sofrem impactos humanos - expansão da malha urbana e atividades de garimpo ou mesmo incêndios.
A Tovomita Cornuta reside em ecossistemas conhecidos como Campinaranas, formadas por solos arenosos e vegetação mais baixa – popularmente, essas áreas são chamadas de “caatinga”.
As Campinaranas ocupam, de maneira esparsa, aproximadamente 5% da floresta Amazônica. Uma característica desse ecossistema é a pobreza do solo.
Entender como a Tovomita se desenvolve em solo pobre e arenoso, em plena Amazônia, pode ser importante para estudos de impacto da ação humana sobre o equilíbrio de nutrientes no substrato terrestre.
É sabida a possibilidade real de crise de nutrientes na formação das vegetações em geral. Desgastamos o solo na monocultura e utilização, cada vez maior, de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
O Húmus, resultado da decomposição, por vários organismos, de matéria orgânica, além de fertilizar ecologicamente o solo é um aliado no combate ao aquecimento global, armazenando carbono.
Integrar esses diferentes conhecimentos pode ser uma das saídas para a crise ambiental.
Mas voltemos à novidade.
O resultado da pesquisa* está publicado na edição outubro-dezembro da revista Acta Botanica Brasilica, impressa pela Sociedade Botânica do Brasil. O que chama a atenção nessa publicação é a dificuldade de divulgação de algo tão extraordinário.
O artigo produzido pelos pesquisadores brasileiros está em inglês!
Traduzir a linguagem acadêmica já é, por vezes, uma equação complicada. A tradução da tradução em nada facilita as coisas. É urgente rediscutir na academia brasileira as formas de divulgação do conhecimento científico produzido.
A quem interessar possa, mais informações sobre a Tovomita Cornuta aqui.
Este artigo foi escrito por Matheus Dias e publicado originalmente em Prensa.li.