Sem Volta Para Casa: Quando o produto é melhor que a publicidade
Imagem: Divulgação Marvel Studios
A maior estreia cinematográfica da história do Brasil. Os números foram realmente impressionantes e entre a pré-estreia e a estreia nos dias 15 e 16 de dezembro foram 1,7 milhões de espectadores e R$34 milhões em bilheteria. Nos Estados Unidos, só ficou atrás da estreia de Vingadores: Ultimato: US$121,5 milhões, ultrapassando Star Wars: O Despertar da Força (2015).
Estamos falando de um cenário ainda de pandemia, com obrigatoriedade de uso de máscara na maioria dos lugares, sem a possibilidade da boa e velha pipoca com refrigerante.
Quem começou a me acompanhar por aqui, deve ter lido meu primeiro artigo que falava justamente do marketing do filme, com o mito do vazamento de informações, que fez o seu nome se repetir por meses, repleto de teorias e expectativas. É uma tática incrível para atrair consumidores mas que, normalmente, acaba decepcionando boa parte dos conquistados pelo mecanismo publicitário.
O desafio de atrair uma grande quantidade de curiosos, de forma agressiva e manter uma alta taxa de satisfação é quase impossível. Mas Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa conseguiu o impossível. Aliás, o filme conseguiu vários impossíveis, coisas que pareciam inimagináveis.
Daqui em diante, se você não viu o filme e não gosta de spoilers, é melhor parar a leitura e retornar após a experiência. Vá, assista e volte para ler!
Faço parte do público que é o foco principal dos desenvolvedores do filme: Nasci em 1984, assisti as três versões do herói nos cinemas. Vi Tobey Maguire arriscar viver o personagem numa época em que o único filme de super-herói que conseguiu algum sucesso era Batman. Foi incrível! Pode-se dizer que foi quem abriu as portas para tudo que viria em seguida, pela própria revolução criada pela Disney com a Marvel.
Mesmo dentro de um cenário de grandes dificuldades burocráticas, que envolviam os estúdios detentores dos direitos de produção, reflexo dos problemas financeiros pelos quais a casa dos heróis passou, a terceira versão do aracnídeo, agora com Tom Holland, chegou no final de sua trilogia.
Mas já não era mais uma trilogia, não. Uma trilogia se encerrou na versão "emo" do primeiro, lá nos anos 2000 que foi tão criticado. O filme que está sendo analisado neste artigo é a sequência de número de 27, dentro desse Universo, acompanhado de outras 3 séries, fora outras obras paralelas, animadas, como Homem-Aranha no Aranhaverso e What If... Sem contar os próprios filmes do Homem-Aranha e do Venom.
A ousadia de criar um filme e dizer que todas essas precedências fazem parte desse Universo. E a maioria das pessoas da minha idade, dentre as que sempre gostam de super-heróis, tinha essa frustração.
Poxa, e tudo que já foi feito? E tudo que ficou pra trás? Como você constrói algo tão grandioso, tão significativo e simplesmente resolve enterrar e recomeçar do zero? Não é só uma burrice egocêntrica, seja dos estúdios, seja dos diretores, mas um desrespeito com os fãs.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é a redenção para nós. É olhar para esse público e dizer: Eu entendo vocês!
É demonstrar que, acima de dinheiro, os criadores queriam a satisfação de seus clientes.
E não falta nada! Está tudo lá!
A história, talvez, possa ter algumas ressalvas, como o fato da cura para os vilões passar por um conceito muito abordado para os heróis, até mesmo como pano de fundo em Capitão América: Guerra Civil, sobre identidade e autonomia. Os vilões acabam sendo forçados para a tal cura, algo que os heróis deveriam passar também, por um ponto de vista igualitário.
Nos filmes dos X-Men, essa história de cura já foi muito discutida com mais profundidade e merecia ter um debate maior no futuro, para coroar com chave de ouro o enredo.
Mas todos os outros elementos têm dificuldade de se integrarem e o desafio é superado com maestria. Os personagens são bem construídos, bem apresentados, representados com excelência e magistralmente costurados entre si. A força de personalidade do protagonista de Tom, sendo constantemente jogado com conceitos que precisavam ser superados das versões anteriores é incrível.
E as referências são o ponto alto. A chegada dos heróis dos filmes anteriores (sim, eles estão lá, acho que já ficou claro) é engraçada e emocionante, assim como toda a participação deles.
No fim, assim como o primeiro filme do Homem-Aranha, Sem Volta Para Casa parece ser um grande marco para uma nova Era, não só da cinematografia de Super-Heróis, não só para a indústria cinematográfica como um todo, mas para toda produção cultural e quem sabe até para a produção mercadológica. Levar em consideração a bagagem acumulada, toda sua história e dar sentido para esse conteúdo nos lançamentos, deve ser a nova lógica a ser seguida.
Este artigo foi escrito por Eder B. Jr. e publicado originalmente em Prensa.li.