Sentir, saber sentir e construir-se
Foto: Daria Tumanova
A vida é um eterno sentir, desde o primeiro toque ao nascer, o aconchego da mãe emocionada em conhecer o filho, os tombos e tropeços, os sabores experimentados, o vento que bate no cabelo, a tristeza da perda, a fome que nos deixa irritados…
Os sentimentos são infinitos, mas nem sempre compreendemos o que eles querem dizer ou o porquê deles aparecerem.
Alegria, angústia, tristeza, compaixão, divertimento, surpresa…
Hoje em dia conseguimos viver tudo isso em poucos minutos assistindo aos Reels ou vídeos no YouTube.
E em meio a tantos estímulos não há tempo de nomear cada sentimento, de entender a razão deles aparecerem.
Normalmente, no fim do dia, acumulamos uma carga pesada, indefinida e que é descontada nas pessoas ao nosso redor.
Uma vez estava assistindo a um vídeo e o professor e psiquiatra Ítalo Marsili comentava que muitas brigas ocorrem porque as pessoas estão com fome e isso facilita a vulnerabilidade e o sentimento da ira. Na mesma hora eu concordei.
Você já pensou? Uma necessidade física básica é capaz de destruir a conversa com alguém que você ama e o pior, muitas vezes você nem se dá conta do que está acontecendo.
Depois dessa descoberta tão óbvia, mas tão necessária, dá para entender a real importância de conhecer os próprios sentimentos para, a partir disso, moldar-se em alguém mais presente, constante e instalado na realidade.
Afinal de contas, é apenas na realidade que as coisas realmente acontecem.
Por isso, o primeiro movimento interior que precisamos fazer é nomear nossos sentimentos. Entender o que está se passando no nosso coração. E tem algumas formas de fazer isso. Confira as que eu selecionei:
Falando em voz alta
Não é para sair gritando: “estou com raiva! Estou animado!” Mas falar para si mesmo:
> Esse momento me deixou feliz!;
> Agora estou com fome ou estressada?;
> Por que estou me sentindo incomodada aqui?
Escrevendo sobre seus sentimentos e reações diante dos acontecimentos do dia
Essa é uma técnica que uma psicóloga me indicou no tempo de faculdade. No dia de hoje, o que você sentiu e o que provocou isso? Exemplos:
> Uma conversa mal terminada gerou confusão;
> Prazos apertados geraram ansiedade;
> A descoberta de uma ótima notícia gerou felicidade genuína.
Depois de escrever, observe e tenha um parâmetro do seu dia, a partir dele, você poderá fazer algumas mudanças que te tornem a pessoa que deseja ser.
Reflexão no final do dia
Muitos de nós já praticamos isso, ao deitar, rememoramos o dia e pensamos nos pontos positivos e negativos. Alguns fazem isso em forma de oração, outros como um balanço do dia. De qualquer forma, é eficaz! Você dedica alguns minutinhos para compreender o dia e propõe melhorias para a semana.
Através da arte
Essa é a forma mais abstrata, mas que funciona para muitas pessoas também. É possível conhecer-se através da poesia, da composição de músicas, da fotografia, pintura, desenho…
Pela expressão autêntica do ser, é provável que os principais sentimentos vividos transbordem nas peças criadas.
Desafios
Essa é uma maneira mais competitiva, o que pode motivar mais na execução das tarefas e do autoconhecimento. Exemplo: fique uma semana sem reclamar; pergunte como as pessoas estão; saia do celular 2 horas antes de dormir; deixe a sobremesa de lado três vezes por semana…
Pela dificuldade ou facilidade em cumprir os desafios você perceberá sentimentos e reações internas que não imaginava ter. Exemplo: a mania de reclamar de tudo e como é difícil não fazer isso, a indiferença em relação a vida dos outros, a ansiedade de ficar sem celular ou o alívio de ver que sobrou tempo no dia…
Estas são 5 formas que, em meio a leituras, estudos e vivências, eu me deparei e considerei relevantes.
Você pode mesclar elas e criar o seu próprio método de autoconhecimento, mas não deixe de sentir, de se emocionar, de se alegrar e até de se decepcionar.
Faz parte da sua história e da construção da sua personalidade que, segundo o filósofo Olavo de Carvalho, é a única força que importa.
Este artigo foi escrito por Raquel Carolina Pedrotti e publicado originalmente em Prensa.li.