Setembro Amarelo é uma iniciativa para o ano inteiro
Imagem: Canva
Mais de 13 mil pessoas perdem a vida para o suicídio todos os anos no Brasil. A OMS estima que, no mundo inteiro, a cada 40 segundos uma pessoa cometa o mesmo ato. Existem fatores de risco e sinais de alerta, mas, infelizmente, há também muita ignorância e negligência.
Chegando ao fim do mês de setembro, refletimos sobre a importância dessa iniciativa para a saúde mental do brasileiro durante os outros 11 meses do ano.
É para combater preconceitos, informar a população e dar apoio a quem está sofrendo que o Setembro Amarelo existe. Organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, e em parceria com o Conselho Federal de Medicina, a campanha atua desde 2014 na prevenção ao suicídio – cujo dia mundial é em 10 de setembro.
“Agir salva vidas”
Essa é o tema do oitavo ano da campanha que preparou diversas ações de conscientização sobre saúde mental. Dentre elas: eventos online, iluminação de espaços públicos e monumentos com a cor da ação (amarela) e campanha nas redes sociais.
No site do Setembro Amarelo também é possível encontrar a cartilha “Comportamento suicida: Conhecer para Prevenir” direcionada à imprensa com orientações sobre como noticiar casos de morte por suicídio.
O papel da imprensa é fundamental na luta conta desmistificação sobre saúde mental e, consequentemente, suicídios. A cartilha apresenta dados sobre o tema, exemplos bons e ruins de matérias que reportaram o ato e reforça a importância de proteger a vida.
“Uma boa reportagem pode evitar o contágio”. Enquanto uma irresponsável pode gerar o “Efeito Werther”. O escritor alemão Goethe (1749-1832) publicou em 1779 o seu livro “Os sofrimentos do jovem Werther”. Logo após, gerou-se uma onda de “contágio” com a morte de centenas de jovens que se vestiram como o personagem e adotaram o método de suicídio retratado na obra.
O mesmo aconteceu com os 22 casos de suicídio em um metrô em Viena, após uma cobertura sensacionalista da imprensa. A Associação Austríaca para a Prevenção ao Suicídio iniciou, então, uma série de projetos para debater o assunto e desenvolveu um manual para profissionais da mídia sobre como relatar esses casos.
As iniciativas diminuíram a taxa de suicídios para 75% nos 5 anos subsequentes.
A cartilha da campanha explica detalhadamente de que forma a imprensa deve relatar casos de suicídio a fim de não romantizar o ato e, consequentemente, influenciar pessoas com idealização suicida.
É possível ajudar a salvar vidas com as palavras. Da mesma forma que o “Efeito “Werther” pode contagiar negativamente, o “Efeito Papageno” pode ter um efeito de salvação e prevenção.
Papageno é um dos personagens principais de “A Flauta Mágica” (1791) de Mozart, uma ópera em dois atos sobre um homem humilde que tenta tirar a sua própria vida durante o trabalho. Mas três espíritos, ou goblins, o convencem a abandonar essa ideia, mostrando alternativas e possibilidades.
Com 28 páginas, a cartilha disponível no site oficial do Setembro Amarelo é bastante didática. Ela demonstra aos profissionais da imprensa exatamente como se comportar e quais palavras ou termos não usar durante uma reportagem.
É possível reportar sobre uma pessoa que tirou a sua própria vida e aproveitar para falar sobre prevenção, canais e lugares onde pode-se encontrar ajuda. Esse tipo de matéria jornalística tem o potencial de ajudar a diminuir comportamentos idealistas.
Não se fala sobre suicídio sem falar sobre saúde mental
No Brasil, falar sobre saúde mental ainda é um tabu. Mesmo se tratando de um país em que os casos de depressão e ansiedade aumentaram durante a pandemia, em comparação a outros países, segundo pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP).
O suicídio, como muitas pessoas dizem, não é um ato de covardia. A decisão de tirar sua própria vida pode estar associada a inúmeros fatores de risco, como genéticos, ambientais, socioculturais e, principalmente, a existência de um transtorno mental.
Estudos apontam que em mais de 98% dos casos, o suicídio foi causado por transtornos mentais não tratados corretamente ou não identificados/acompanhados.
Os transtornos mais relacionados ao suicídio são: depressão, bipolar, dependência de álcool e outras drogas psicoativas. O risco ainda pode ser maior quando há a existência de duas ou mais dessas condições, como depressão e alcoolismo.
Imagem: Cartilha "Comportamento Suicída: Conhecer para Prevenir"
Além dos principais fatores de risco que são tentativas prévias ao suicídio e a presença de um transtorno mental, a cartilha da campanha alerta a alguns outros comportamentos que devem ser observados:
• Uso de álcool e outras drogas;
• Desesperança e desespero: busca de sentido existencial, razão para viver, falta de habilidade para resolução de problemas;
• Isolamento social, falta de interação com amigos íntimos;
• Possuir acesso a meios letais;
• Impulsividade.
É importante conhecer e saber lidar com esses comportamentos para auxiliar uma pessoa que esteja passando por um momento difícil e tendo idealizações suicidas.
"Precisamos orientar e conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio, por isso, neste mês de setembro, nós concentramos os nossos esforços na prevenção efetiva. A morte por esta causa é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base", afirma o presidente da ABP, Dr. Antônio Geraldo da Silva.
Este é um cenário preocupante que há anos tem sido um alerta para que a saúde mental seja tratada como um tema mais importante na saúde pública.
Só por meio da educação sobre saúde mental, com informações corretas e responsáveis, que nós, como sociedade, conseguiremos evitar que os números alarmantes de mortes por suicídio continuem a crescer.
Clique aqui para mais informações sobre a campanha Setembro Amarelo 2021.
Se você se identifica com os fatores e comportamentos de risco, ou conhece alguém que tenha idealizações suicidas, procure ajuda! Ligue para 188 - Centro de Valorização da Vida – e fale com um profissional.
Alerte pessoas próximas a você sobre os seus sentimentos. Sua vida importa!