No dia 8 de setembro foi realizado a terceira Live de Open Banking. Neste encontro debatemos a implementação de Open Banking no Mundo e seus cases de sucesso como referência para a chegada da inovação no Brasil.
Para falar sobre o assunto, contamos com a participação de grandes nomes:
Cintia M. Falcão - Advogada especialista em regulatório bancário (moderadora)
Danilo Bordini – vice-presidente Regional da Mulesoft
Bruno Loiola - co-fundador da Pluggy
Leandro Deffente – Executivo de vendas da Technisys
Com o objetivo de exemplificar resultados positivos, nossos apresentadores trouxeram cases de sucesso que foram implementados na Europa, América do Norte e em alguns países da América Latina.
Mudanças de relacionamento com o cliente
Uma das principais funções do Open Banking é permitir que seu sucesso venha através de um bom relacionamento com o cliente. Danilo Bordini, vice-presidente Regional da Mulesoft, fala do Open Banking como uma tempestade perfeita, “A revolução não será gerada apenas por novas demandas. Uma tempestade de disrupção é formada, ao passo como nós usamos a tecnologia e a maneira como nos relacionamos com os clientes”. Danilo destaca quatro pontos na tempestade perfeita:
Expectativa dos clientes
Inovação tecnológica
Nova competição
Mudanças regulatórias
A situação da COVID-19 levou pessoas a consumirem de casa, comprarem e realizem funções em quarentena, isso aumenta a expectativa dos clientes em relação aos serviços utilizados.
Ao mesmo tempo, a inovação tecnológica se tornou quase que obrigatória nas em nossas vidas, não existe mais a possibilidade de não usá-la.
Dessa forma, a competição se tornou mais latente, e empresas novas, como startups, são ágeis na implementação desse serviço.
Para que tudo isso funcione, algumas mudanças regulatórias ocorrem, fazendo com que todos nos preocupemos com nossos dados e como eles são compartilhados.
O que essa tempestade perfeita faz com os clientes?
Todo esse avanço mostra que o consumidor não deseja mais ter uma relação de cobrança com o banco, para ele não existe a necessidade de mostrar serviços que ele não consome.
O cliente deseja a autonomia para escolher aquilo que mais lhe agrada, e o que estiver ao alcance das suas expectativas e necessidades, no tempo certo. O tratamento exclusivo e personalizado é fundamental neste meio, já que o consumidor quer ser tratado como se fosse o único usuário daquele serviço.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Salesforce, 78% das pessoas aceitam trocar de serviços ou produtos se a experiência for melhor. Dessa forma, instituições que ainda não tem o serviço completamente pronto, ou alguns problemas, mas que gerem um tratamento especial para o consumidor é bem aceita.
Em contra partida, é possível notar que os clientes ainda possuem inseguranças, ao que se refere a partilha de seus dados, de acordo com Danilo “os clientes estão preocupados com a segurança. Eles sabem que cada vez mais pessoas querem usar os dados em ataques cibernéticos, eles estão preocupados [...] O cliente está disposto a compartilhar seus dados, mas em prol dele, não em prol de outras instituições”.
Dessa forma, as experiências e a garantia de segurança são os pontos principais para um cliente. Assim, as empresas notam a necessidade de criar um ecossistema para se manterem no mercado. O preço que se paga por isso é alto: é a abertura dos dados, ou seja, o compartilhamento deles destes por meio de APIs.
Aplicando o Open Banking nas instituições financeiras
Quando uma instituição financeira diz que quer criar um ecossistema e aplicar o Open Banking no em seu produto, é preciso analisar e realizar algumas mudanças: modernização do core bancário; visão 360° do cliente; experiência digital; digitalização de processos e, por último, o Open Banking.
Todas essas etapas servem para executar o Open Banking da melhor forma possível para que o serviço seja oferecido ao cliente de forma exclusiva, fazendo com que todos os processos que o usuário possa desejar estejam ao seu alcance em uma única plataforma quando ele tiver interesse.
Não existe a necessidade de uma instituição financeira tradicional se libertar de todo seu sistema antigo, mas devem ocorrer modificações na estrutura para que o que chegue ao cliente seja 100% digital, e que esses processos antigos fiquem por trás sendo aportados por APIs.
Cases de sucesso
O banco HSBC, é um dos exemplos de instituição financeira que sofreu uma transformação na oferta de seus produtos, “Ele criou uma arquitetura moderna baseada no conceito de APIs [...] Cada ponto de entrada de API é onde as equipes ficam mais ágeis e tudo que você faz, pode ser reutilizado. O seu go-to-marketing fica mais rápido, porque você não precisa desenvolver tudo do zero a cada nova iniciativa”, disse Danilo.
O HSBC disponibilizou todas as suas APIs, desta forma, os dados dos clientes podem ser utilizados por outras empresas de maneira segura e controlada. Essa estratégia é movida a partir das novas demandas dos clientes, dados em tempo real, eficiência operacional e crescimento internacional tudo dentro de uma estratégia.
A instituição financeira também fechou uma parceria com uma empresa chamada Dreamove.
Assim que uma pessoa entra no site com a intenção de comprar um imóvel, automaticamente é feita uma conexão através dos dados das pessoas com o banco HSBC, de forma segura, se possuir conta, permitindo que seja possível visualizar um pré financiamento aprovado, ou não. Isso tudo é possível por meio de um ecossistema de APIs que foi disponibilizado pela instituição.
Outro case de sucesso é do Bank Of America (BoFA), uma instituição tradicional que viu no meio digital através de um serviço 360º a necessidade de modificar seus produtos e serviços.
A adoção da solução proposta pela Mulesoft para o BoFA acelerou seus projetos, de 3-5x mais rápidos. A arquitetura foi criada a partir da reutilização da criação de APIs:
Foram desenvolvidos quatro APIs para a resolução de processos de financiamento;
Reutilizando essas quatro, foi possível criar mais três para completar a operação de cobrança;
E no último projeto da plataforma de visão 360º do cliente, foram criadas outras três APIs baseadas nas já existentes.
Todo esse projeto não só facilitou os processos dentro do banco, como permitiu ao cliente notar a atenção da instituição financeira para com seus desejos, sempre ofertando novos serviços, promovendo uma experiência incrível. Dessa forma, aquele usuário fidedigno do banco, é o melhor divulgador da instituição.
O Open Banking no dia a dia do consumidor
Toda instituição financeira vanguardista que está utilizando Open Banking através de APIs, caminhou por esse processo com a intenção de se manter firme no mercado. Desta forma, o compartilhamento de dados bancários proporciona o melhor engajamento dos seus serviços.
Quando um consumidor utiliza um serviço financeiro que é aportado por Open Banking, a instituição usa os dados de forma crítica, analisando todo tipo de consumo produzido pelo usuário para melhorar a experiência dele.
Assim, é possível que esse banco consiga perceber qual a relevância do Open Banking no dia a dia daquela pessoa e ele passa a ser uma resposta a modernidade.
Bruno Loiola, co-fundador da Pluggy, trouxe um exemplo clássico de bancos pioneiros que antes mesmo da regulamentação na Europa, já estava um passo à frente de seus concorrentes. Além disso também demonstrou como o Open Banking pode funcionar em diferentes serviços.
A importância das APIs no Open Banking
O banco BBVA, abriu suas APIs para o mercado em 2017, dois anos antes da entrada em vigor do PSD2, “foi uma decisão difícil para uma instituição tradicional. Então, quando o banco BBVA abriu suas APIs, algumas fintechs as usavam, e poderiam ser consideradas até concorrentes”, diz Bruno.
Entretanto, essas medidas estratégicas renderam ótimos frutos, já que pelo segundo ano consecutivo o BBVA ofertou o melhor aplicativo bancário do mundo, de acordo com a Forest Research.
O grande diferencial do aplicativo é a função chamada de bconomy (gerenciamento financeiro pessoal) que te oferta insights financeiros, e orienta verdadeiramente o cliente a tomar conta das suas finanças. Além disso, no ano de 2018, o BBVA já permitia que dentro do seu aplicativo pudesse conectar outras instituições financeiras para que facilitasse a organização.
Cases de crédito
Empresas que ofertam crédito são as maiores provedoras de Open Banking, sendo então outro case de sucesso e, na situação atual, o consumidor exige rapidez na liberação de crédito financeiro. "O cenário financeiro, em tempos de COVID-19, está colocando pressão neste mercado, que por mais que tenha demanda, ainda corre riscos. O crédito instantâneo já é uma realidade”, diz Bruno Loiola.
O Open Banking apresenta uma oportunidade única para essas empresas, fazendo com que seus serviços sejam 100% digitais e que as análises de crédito possam ser mais rápidas que nunca. O Open Banking pode ajudar essas empresas em três frentes diferentes:
Assertividade dos riscos;
A criação de um processo 100% digital;
Monitoramento.
A assertividade dos riscos permite que as empresas de crédito tenham acesso aos dados financeiros atualizados e instantâneos, não somente antes de aprovarem o crédito. Empresas como a Pluggy podem oferecer informações real time da fonte de renda do indivíduo, transações categorizadas, estresse financeiro, saúde financeira e etc.
A criação de um processo 100% digital proporciona uma eficiência para a empresa. Antes, esse processo demoraria dias, e poderia não ser seguro. Já com as APIs e o Open Banking, esse processo é muito mais rápido, seguro e personalizado.
O terceiro ponto, monitoramento, desde que tenha o consentimento do cliente, os dados podem ser acessados pelo Open Banking pelo prazo de 3 meses na Europa, e no Brasil, o prazo será de 12 meses e Open Banking mudará seu nome para Open Finance. Esses prazos permitem que as instituições possam avaliar e atualizar sempre seu serviço de crédito de acordo com as condições do usuário.
Bruno Loiola cita alguns cases voltados ao crédito que usam os dados de Open Banking ao seu favor, como: Credit Kudos, Volkswagen FS, SafetyNet.
Cases de investimento
Quando se fala de investimento, as instituições que possuem Open Banking usam essas informações para que possam realizar análises das finanças para poder ofertar o melhor para o cliente, como por exemplo, informar quanto pode.
A empresa Silo do Reino Unido é um exemplo de fintech de investimentos que usa o Open Banking. Trata-se de um aplicativo que conecta a sua conta bancária. É feito um investimento automático baseado nos seus gastos mensais e hábitos de consumo de acordo com a sua preferência, dia, semana ou mês.
Cases que abordam verificação de identidade
Qualquer empresa que queria usar o Open Banking atrelado as fintechs precisam ter ciência da necessidade de verificação de identidade. Então, quando existe a autorização e verificação pelo banco, a conexão com outros aplicativos se torna segura, diminui trabalho de back-office, facilita o Onboarding digital e auxilia no projeto de KYC.
O Banco BBVA fechou uma parceria com a Uber, no México. Imagine que o aplicativo da Uber já está integrado com os serviços financeiros do BBVA, dessa forma, o cliente já consegue receber instantaneamente pela corrida que ele fez, antes ele tinha que esperar 30 dias para que o pagamento caísse. Dentro da plataforma, já são oferecidos alguns serviços como seguro de automóvel, financiamentos, cartões de crédito para a família do motorista e etc. Isso proporcionou ao banco, 500.000 novas contas atrelada ao aplicativo.
Outro case interessante é em relação ao controle de assinaturas. Essas empresas em específico verificam por meio do seu extrato todas as assinaturas que você possui, como por exemplo, Amazon, Spotify, Dropbox, Netflix e etc. Em uma única tela, é possível ver todo tipo de assinatura que você possui.
A plataforma então otimiza o tempo do usuário com dados financeiros relacionados aos custos dessas assinaturas, caso ele queria economizar, com um único clique é possível cancelar, ali mesmo, o produto.
A imobiliária inglesa Key Safe criou uma proposta através da verificação de identidade. Quando você faz uma proposta online de aluguel, é possível que você conecte sua conta e você consiga ter o resultado em real time sobre sua solicitação, é possível então você fechar um contrato de aluguel de forma rápida, prática e online.
Lições promovidas pelo Open Banking
Leandro Deffente, executivo de vendas da Technisys no Brasil, vem para fechar o painel contando alguns cases implantados na Argentina, Estados Unidos e Brasil. A Technisys é responsável pela criação do primeiro banco 100% digital da América Latina, o Banco Original.
Para contextualizar todas as lições promovidas durante a implantação do Open Banking, Leandro cita uma pesquisa que está sendo realizada há quatro anos pela Technisys em parceria com a universidade de Stanford, “Essa pesquisa foi realizada com 80 executivos de bancos da América Latina, e traz um panorama interessante [...] Cerca de 90% dos bancos entende que é prioridade o banco digital e a expansão do seu serviço pela internet”.
Entretanto, para que a implantação seja efetiva, é preciso levar em conta três regras básicas de um banco digital:
Sem atrito;
Baseado em necessidades;
Aberto.
Nos próximos 2 anos, 78% dos bancos pretendem adotar o Open Banking, somente 22% não possui nenhum plano sobre isso, ainda de acordo com a pesquisa realizada em 2019.
Outros dados interessantes são referentes as barreiras encontradas para implantar o Open Banking, as principais são:
Regulamentos locais (58,2%)
Questões de segurança (49,4%)
Cultura interna (40,5%)
Riscos associados em ser um Early Adopter (19%)
Rentabilizar os serviços (17,7%)
Somente 5,1% responderam que não encontram barreiras na implementação do Open Banking.
Banking as a Service
O Banking as a Service (BaaS) é uma estratégia de Open Banking onde o banco toma a atitude e começa a expor seus serviços e produtos financeiros para uma fonte externa. É uma grande possibilidade de rentabilizar os serviços oferecidos.
Cases de Banking as a Service
Existem três provedores de BaaS que se destacam nos Estados Unidos atualmente: Galileo, Marqeta e Synapse.
A Galileo tem um conjunto de APIs e parcerias com mais de 20 bancos, oferecendo capacidade de débito pré pago, investimentos e etc. O conjunto de APIs disponíveis permite que essas parcerias sejam feitas, ou, caso a empresa tenha alguma preferência de serviço ela pode ser implementada com alterações.
A Marqeta se concentra em fornecer uma plataforma moderna por meio de APIs, e possui parcerias com pequenos bancos. Seu foco principal é oferecer recursos de controle de cartão, fornecendo uma experiência digital em tempo real.
Já a Synapse entrega serviços voltados a depósitos, pagamentos, empréstimos como APIs para fintechs. Estas podem então construir e lançar suas inovações financeiras através da infraestrutura bancária fornecida pela Synapse.
Lições aprendidas baseadas no Banco Original, Banco Patagônia e a Fintechs Rellevate
O Banco Original já nasceu com a proposta de ser digital, isso se estende não só para o cliente, mas na estrutura interna do banco e seus processos, “desde 2016 o Banco Original possui uma plataforma de Open Banking. Inclusive foi a primeira da América Latina a consumir serviços financeiros através de APIs”, expõe Leandro.
O banco também fechou parceria com o Guiabolso, um app de controle financeiro, o correntista quando baixa o aplicativo faz o login com seus dados bancários e a senha eletrônica para integrar os aplicativos, mas vale lembrar que para colocar a senha, o cliente é direcionado para um espaço do próprio banco. Sendo assim, o Guiabolso não possui mais os dados bancários, mas sim o acesso as informações que foram compartilhadas pelas APIs existentes.
O maior desafio e lição aprendida na execução do Banco Original foi pensar uma maneira de criar todos seus serviços, levando em conta que não existiria uma agência física para resolver problemas.
O Banco Patagônia possui uma origem interessante, apesar de ser argentino, sua maior parcela de investidores é brasileira, em 2018 o Banco do Brasil passou a ter mais de 80% das ações.
A grande iniciativa envolveu o lançamento de cartões de crédito MasterdCard por meio de uma parceria com o Mercado Livre através do conceito de Open Banking como uso de APIs que eram acessadas pelo Mercado Livre. Essa parceria rendeu ao banco mais de 180.000 novos clientes por meio de uma fonte externa.
Todo esse projeto só foi permitido porque a plataforma cyberbank que estava no Banco Patagônia tinha uma arquitetura que permitiu o reaproveitamento de serviços que puderam ser expostos para o mercado livre.
O grande aprendizado foi a criação de APIs que suportaram um grande volume de acessos, com um parceiro de um segmento totalmente diferente e que possuía necessidades que não eram necessariamente ligadas a algum banco.
A Fintech Rellevate, tem como estratégia oferecer serviços financeiros para consumidores americanos de renda média e baixa. Os serviços oferecidos vão desde a conta digital a cartões de débito e crédito internacional.
Entretanto, o mais interessante é um produto chamado Pay Any-Day, ele permite que o banco antecipe uma parte dos vencimentos aos funcionários de uma empresa, mais popularmente conhecido no Brasil como vale, um adiantamento do salário.
Para que esses serviços fossem oferecidos, a Rellevate decidiu construir um ecossistema com parceiros, através de uma plataforma digital e aberta. Os principais aliados foram o Sutton Bank, que fornece a licença bancária e segurança bancária aos clientes em caso de falência, a visa dps, a própria Technysis que fornece a plataforma cyberbank, e outras.
Todo esse projeto só foi possível porque a Rellevate viu a importância de fechar parcerias de alguns segmentos para criar uma plataforma abrangente, esse ecossistema de processos interligados.
As lições principais
Todos esses cases citados pelo Leandro Deffente passaram por estruturações e arquiteturas baseadas em APIs, mas ainda assim, não foi suficiente, é preciso expandir seu projeto, dessa forma as principais lições são:
Criação de processos e serviços 100% digitais;
Criação de um ecossistema digital (Multiplayers);
Integração com parceiros de segmentos diferentes.
O Open Banking é a evolução
Os cases apresentados pelos palestrantes abordam pontos cruciais para implementação do Open Banking no Brasil, não é somente abrir suas APIs, é necessário um plano estratégico para conquistar clientes, mantê-los firmes dentro das instituições. É trazer uma revolução através da facilidade para o usuário e buscar parcerias interessantes que possam render frutos.
“O Open Banking no Brasil tem a oportunidade de ser o maior do mundo, em relação ao impacto. Se as medidas forem tomadas da forma certa a expressão do Open Banking vai ser muito maior do que no resto do mundo”, diz Loiola.
Comece pequeno, analise um cenário, um estudo e então veja como a tecnologia do Open Banking se aplica na área de negócio e, então, expanda.
Este artigo foi escrito por Renato De Stefano e publicado originalmente em Prensa.li.