Shyamalan e Hajime Isayama – A vila e Attack on titan
Em 2021, M. Night shyamalan lançou seu novo longa que carrega o título “Tempo”, ainda não tive a oportunidade de apreciar o filme. Alguns dias atrás li sobre a produção dele, o filme é uma adaptação de uma História em Quadrinho chamada “Castelo de areia”.
Nela, um grupo de 13 pessoas fica preso em uma praia onde o tempo passa de forma diferente do normal, as pessoas ali começam a envelhecer de forma acelerada. A HQ é voltada para o público adulto e tem como uma de suas referências o escritor Stephen King.
Indo para o outro lado do mundo, pensando em HQ, no caso mangá. Existe um que está se destacando cada vez mais aqui no Brasil, Attack on titan. A trama de Attack on titan começa com o jovem Eren Yeager questionando o que existe além das Muralhas que cercam o reino em que ele vive.
Mesmo expostos a uma condição violenta, a humanidade vive ali há muitos anos de forma acomodada, apenas se escondendo sem buscar de forma efetiva uma solução externa.
Observando essa premissa, podemos enxergar características semelhantes ao Mito da Caverna, ou a alegoria da caverna, narrado por Platão no capítulo 7 do livro A República. Este que pretende exemplificar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão, que o aprisiona, por meio da luz da verdade.
Além disso, a narrativa do mangá também é inspirada no pensamento que o jovem Hajime Isayama, criador do mangá, tinha quando criança. Ele cresceu no distrito rural de Oyama, um vale cercado por montanhas e durante anos Hajime questionou o que havia além delas. Segundo uma entrevista dada pelo autor, outra grande inspiração foi O Nevoeiro, de Stephen King.
Dos filmes que vi de M. Night Shyamalan, um dos meus preferidos sem dúvidas é “A vila”. O filme conta a história de um grupo de pessoas que vivem em uma vila. Ao longo da narrativa, os jovens da vila descobrem que foram enganados pelos mais velhos, que criaram uma vila fictícia isolada do restante da civilização, impedindo-os de descobrir a verdade transmitindo a ideia de que haviam monstros perigosos para além da floresta, a fim de manter a farsa velada.
Tal premissa acaba lembrando também o texto de Platão, mas aqui dentro de um ambiente familiar. Família que é um assunto recorrente no cinema de Shyamalan. Provavelmente vindo de memórias pessoais, é cabível, tendo em vista que o diretor começou a amar o cinema quando ganhou uma câmera de seu pai.
É muito interessante observar como pessoas de realidade muito diferentes, vindas de lugares distintos, seguem caminhos semelhantes na hora da criação, tomando para si referências similares no âmbito da literatura e filosofia. Tudo isso sem abdicar de suas visões de mundo e de sua bagagem cultural.
Este artigo foi escrito por Gabriel Oliveira e publicado originalmente em Prensa.li.