Sistema Swift - A arma nuclear financeira contra a Rússia
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Com a invasão da Rússia à Ucrânia no final de fevereiro o mundo vem assistindo uma série de ações e mobilizações em torno da guerra, que foi motivada, entre outras coisas, pelo receio da entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Um país tão próximo cultural e geograficamente da Rússia ingressando na aliança militar foi considerado um risco para o país.
A guerra de agressão contra a Ucrânia mobilizou o mundo levando vários países, incluindo as potências da União Europeia e os Estados Unidos a se posicionarem contra a guerra e contra a ação russa.
Esse apoio à Ucrânia, no entanto, não se traduziu em alianças ou apoios militares em grande escala. Os motivos que impedem esse apoio são muitos, mas especialmente o receio de iniciar uma guerra que envolva potências nucleares. Uma guerra aberta contra a Rússia representaria o risco de uma nova guerra mundial e consequências inimagináveis para o mundo.
Sanções econômicas
As potências mundiais não declararam guerra à Rússia do ponto de vista militar, mas as relações econômicas e a interdependência dos mercados internacionais permitem que se trave outro tipo de guerra: a econômica.
Logo que o ataque à Ucrânia foi confirmado, a União Européia, os Estados Unidos e outros países passaram a se mobilizar para atacar o sistema financeiro da Rússia. Com a expectativa de estrangular a economia russa e forçar o país a encerrar o conflito, muitas medidas foram implementadas. Congelamento de ativos russos em bancos estrangeiros, retirada de empresas do país, encerramento de atividades financeiras, retirada de investimentos e confisco de propriedades governamentais e pessoais foram algumas dessas medidas.
Sistema Swift
Quando as sanções começaram a especulação era se as grandes potências iriam propor a retirada dos bancos russos da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Mundial (SWIFT na sigla em inglês). A rede Swift é uma organização que congrega mais de 11 mil instituições financeiras, em mais de 200 países.
Criada para facilitar a comunicação entre as instituições e países, a rede processa mais de 70% das transações financeiras no mundo. Mesmo não sendo um sistema de pagamentos, garante e organiza e troca as informações de transações de transferências e ordens de pagamento entre empresas, bancos e países no mundo.
O sistema foi criado na Bélgica em 1973 como uma sociedade autônoma para facilitar a globalização da economia, permitindo uma rede de comunicação unificada entre as instituições financeiras do mundo. Apesar do SWIFT ser a principal rede financeira do mundo, ela não é a única. Países como China, Índia e a própria Rússia criaram sistemas similares. O Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços (CIPS) da China merece destaque por ser uma rede que vem crescendo e já processa mais de US $20 bilhões por dia.
Considerada um equivalente econômico a uma bomba nuclear, a exclusão da maior parte dos bancos russos do sistema SWIFT representa um grave impacto nas transações internacionais, isolando a economia russa e desvalorizando sua moeda. Apenas dois bancos russos não foram excluídos, por serem as instituições responsáveis pelas transações de exportação de petróleo e gás natural para a União Européia, que é muito dependente desses insumos russos.
Impacto na Rússia
Como previsto o impacto na economia russa é enorme e aponta para um retrocesso econômico, impedidos de usar o sistema, o comércio internacional fica mais inseguro e lento, reduzindo exportações e consequentemente desvalorizando a moeda russa, e aumentando a inflação. Os impactos econômicos não se limitam à Rússia, uma vez que os países que dependem do comércio com o país também serão afetados.
Apesar da medida ser um duro golpe financeiro, não necessariamente ele será capaz de estrangular a economia russa. A Rússia já previa que seria alvo de sanções antes da invasão à Ucrânia e criou medidas de sobrevivência econômica. Desde a anexação da Criméia pela Rússia, em 2014, o país já vinha sendo ameaçado de exclusão do sistema SWIFT, e de lá pra cá investiu em medidas que reduzem sua dependência da rede.
Entre as medidas para reduzir a necessidade está a criação do Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS, na sigla em inglês) um sistema próprio de transações econômicas.
A situação econômica russa em si também pode aguentar por algum tempo essas sanções, as reservas econômicas do país são altas, em ouro e moedas estrangeiras, garantindo um lastro significativo e proteção da moeda. Também com possíveis sanções em mente, o país vem tentando reduzir sua dependência do dólar, preferindo transações e reservas com moedas européias e a chinesa.
A aproximação com a China é um ponto importante, as relações intensificadas com o gigante econômico ampliam as opções comerciais e o país pode ser um bom substituto para a exportação dos insumos hoje comercializados com a União Européia.
A aproximação de Rússia e China conta ainda com um fator de interesse mútuo, a redução do dólar como principal moeda comercial mundial, a “desdolarização”.
Consequências
Embora as sanções não sejam novidade no cenário econômico internacional, mesmo a exclusão do sistema SWIFT já tenha sido utilizada contra o Irã, o contexto atual promete ser um divisor de águas na política e economia mundiais.
Muitas especulações estão sendo feitas sobre o posicionamento da China nos acordos econômicos e qual será o papel das potências no conflito.
Podemos esperar como consequências profundas mudanças no comércio internacional, impacto nos consumo de combustíveis fósseis e uma configuração geopolítica diferente ao final do conflito.
As discussões econômicas são parte importante do debate acerca da guerra na Ucrânia, porque impactam a vida de todas as pessoas, no entanto é importante destacar que as piores consequências são humanas. Independente do desfecho econômico desse conflito a perda de vidas humanas é irreparável.
Este artigo foi escrito por Paula Giampietri e publicado originalmente em Prensa.li.