Sobre a arte
A arte é o reflexo do que sentimos, do que vivemos, do mundo no qual estamos inseridos.
Violência, desigualdade, miséria, fome, questões do fim do mundo, fé, amor e todas as grandes questões que afligem a cada um de nós. Tudo isso é matéria para criar arte – se não usar essas coisas como combustível para a criação de arte, qual é o sentido então? Vamos fazer arte através de quê se não do que nos torna seres humanos, se não do que nos desperta a alma e o que nos faz sofrer, sonhar e amar?
Toda boa arte nasce de um sentimento que nos aflige! E tudo nos toca a pele, a alma de nossa existência e queima ou gela com esse contato. É a partir desse momento em que construímos aquilo a que se dá o nome de arte.
Muitas vezes não sabemos nem o que é que estamos a criar ou o que chegamos a criar. Algumas vezes só entendemos melhor depois de um tempo, outras vezes nunca entendemos ou iremos entender.
A arte, para mim, é o espelho da vida. Do que vivemos, do que passamos. Do que sonhamos.
Criamos arte para mostrar a nós mesmos o que muitas vezes não enxergamos bem, o que passamos, muitas vezes despercebidos; muitas vezes para fazer sonhar, para ser um tapa nas nossas caras, um grito de socorro, de “olhe como o mundo está”.
Olhe para onde estamos caminhando. Por mais que você não goste, a vida é assim! Por mais que você queira esconder algo e assim ache que vai passar. Por mais que você não queira saber, e só queira ver a sua realidade, a utopia da sua visão.
A distopia da visão alheia você não quer enxergar?
A arte não deve ceder somente aos seus caprichos. A arte tem o dever de mostrar a nós mesmos o cru, o visceral, o que estamos vivendo nesse século e nos mostrar do século passado, e do século que virá, do século que está se aproximando, cada dia que vivemos, do futuro, do que pode acontecer se não tomarmos alguma iniciativa.
A arte é, muitas vezes, a visão do futuro, é um alerta do que pode ocorrer. Somos feitos de arte, a arte é feita de nós.
Nossos sentimentos são matérias para a arte, nossos anseios e nossos sonhos. Criamos a partir de uma revolta, de uma chama dentro da gente que custa a se apagar enquanto não incendiamos o mundo com ela, de um anseio por mundo melhor, para nos fazer sonhar e nos fazer continuar caminhando.
E caminhamos a partir do momento em que essas artes nos empurram para frente. Muitas vezes quando nem sabíamos para onde ir.
Precisamos da arte para construir a nós mesmos, seres informes, seres de argila, sendo moldados numa constância, enquanto estivermos vivos.
A arte é a mão que nos dá a forma.
Se falarmos apenas de amor e de esperança na arte e fingirmos que tudo será apenas flores e amores e todos os problemas do mundo serão resolvidos, estaremos mentindo para nós mesmos. Estaremos ocultando o mal que existe, enquanto ele nos devora lentamente.
Kaique Britto
Este artigo foi escrito por Kaique Britto e publicado originalmente em Prensa.li.