Sobre a obra aberta
(Imagem: Pixabay)
Quando eu era menor, eu me sentia confortável enquanto assistia algum filme ou lia algum livro, porque de certa forma eu carregava uma certeza de que ia ficar tudo bem no fim da história (é, eu demorei para ler as versões originais daqueles contos). De qualquer forma, no meio de toda a magia das histórias infantis, o final feliz talvez seja a parte mais fantasiosa. Mas é uma fantasia muito cativante, é preciso admitir.
Acho que o primeiro choque com histórias que terminam mal quem me deu foi um filme. Eu só não lembro qual. E sim, eu até senti uma desesperança, mas também vi algo se expandir ali. Se a história não é obrigada a se encaminhar para um final feliz, as possibilidades narrativas são muito maiores (óbvio que naquele momento eu não coloquei isso em palavras, apenas senti a Arte ficando um tiquinho maior, e isso já foi bem mais importante do que decorar qual filme era).
Mas acho que foi a Literatura quem revirou outra falsa certeza que eu costumava carregar, e fez a Arte se expandir mais um tantão: nem todos os finais dão as respostas para as dúvidas que a história me fez levantar.
– Certo, então nem sempre vai terminar bem e nem sempre vai fazer sentido?
– Exato! Não é magnífico?
Sim!
Eu amo encontrar os elos nas histórias, mas acho que hoje os fios soltos são a parte que mais me atrai. Eu já não me sinto confortável, e eu adoro isso.
Eu diria que no arremate eu enxergo a obra. A coesão me mostra a construção, e isso é extremamente fascinante. Mas os pontos que ficam perdidos me mostram a intenção. São as falhas que revelam o autor. É ali que as metáforas mais sutis se infiltram, e essas são as mais legais de tentar significar.
Talvez soe clichê, mas é verdade: os livros geniais não terminam na última página, e um bom filme não termina na cena do último corte. As boas histórias continuam martelando na minha cabeça e repercutindo no meu peito. E se reformulando, e se completando, e aumentando e transformando seus sentidos. Não dá para evitar repetir: não é magnífico?
E mais uma coisinha: poucas coisas são tão boas quanto um final que me tira o chão.
Este artigo foi escrito por Giovana Lucas e publicado originalmente em Prensa.li.