Sobre a paz mundial
“Eu sou pela paz, mas, quando falo, eles são pela guerra.” Sl 120,7
A parte dos livros de história que certamente desperta mais interesse, admiração e curiosidade na maioria das pessoas que gostam de história russa é aquele capítulo que trata da vitória daquele povo contra os nazistas em 1945.
Ora, o 9 de maio, isto é, o dia da vitória serve como exemplo inconteste de que o povo russo, historicamente, sempre buscou estar do lado certo da História e que a busca por justiça, portanto, é parte mesmo da história daquele país.
No entanto, o que pensar sobre o que se desenrola entre russos e ucranianos, ou melhor dizendo, entre a OTAN e os russos?
1º A guerra causa prejuízos econômicos de que nem o povo russo nem mundo ocidental podem suportar mais durante este já problemático momento pandêmico;
2º De que estes prejuízos econômicos além de provocar uma terrível instabilidade alimentar, demonstram que é urgente por um ponto final ao conflito entre estados;
3º E que também o modo como a OTAN e os membros da comunidade europeia e americana têm agido falharam até o momento na medida em que só alimentam o conflito enviando mais armas aos ucranianos.
É preciso ter humildade para constatar que alimentar o conflito com mais armas e sanções não está resolvendo a situação assim como não se apaga um incêndio com gasolina.
Os exemplos históricos de figuras como King, Russell e principalmente Angell – e sobretudo as lições que legaram – não serviu para nos ensinar que as guerras são um grande engano e que a paz além de mais lucrativa é, sobretudo, uma atitude racional e civilizada?
Ora, Angell já demonstrou em brilhante argumento o seguinte:
Que em nossos dias a única linha de conduta possível para o conquistador consiste em deixar a riqueza do seu território em mãos dos indivíduos que o habitam, e que, por conseguinte, há uma ilusão ótica e uma falácia lógica na idéia alimentada hoje na Europa de que uma nação aumenta a sua riqueza ao expandir o seu território.
Mesmo nos casos em que o território não é anexado formalmente, o
conquistador não se pode apoderar das riquezas correspondentes, pois
o que impede é a própria estrutura do mundo econômico, baseado no
sistema de créditos e bancos que tornam a segurança industrial e financeira do vencedor solidária com a segurança industrial e financeira de
todos os centros civilizados, com o resultado de que qualquer confisco
ou prejuízo considerável do comércio no território conquistado repercute desastrosamente sobre os interesses do conquistador. Este se acha
reduzido assim à impotência econômica, o que significa que o poderio
político e militar é economicamente fútil, ou seja, não pode influir em
absoluto na prosperidade e bem-estar daqueles que o possuem.
Desta forma, em nome da razão e do bom senso, este texto não deseja outra coisa senão apelar à razão dos diligentes russos para que retornem as suas consciências para o ano de 1945 e recordem que é tradição deste povo reivindicar justiça e não apenas gerar violência gratuita.
Ademais, quantos negócios deixaram de ser feitos? Quanto dinheiro está sendo perdido? Quantas vidas de inocentes já foram dissipadas? Basta.
Referências
ANGELL, Norman. A grande ilusão. Tradução Sérgio Barh. São Paulo: Editora Universidade de Brasília, 2002.
CARSON, Clayborne. A autobiografia de Martin Luther King. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
Este artigo foi escrito por Gilson Santos e publicado originalmente em Prensa.li.