Sobre escrever
Às vezes, você precisa escrever para expelir alguma coisa de você.
Para tentar entender, para ver algo de um outro ângulo. Para cuspir o veneno, para tomar o antídoto. Às vezes, você precisa escrever para se transformar, para se recriar, para o simples nada. Para apenas respirar.
Escrever parece ser fácil. Colocar uma palavra à frente da outra. Mas não é! Muitas vezes, é como cavar em si mesmo. É jogar fora a terra através das palavras.
(Você não está sentindo o cheiro de terra agora? Eu sempre sinto, ele sempre está aqui.)
Quanto mais se escreve, mais fundo cavamos, tentando achar a raiz do problema ou da solução. Tentando olhar para esse buraco escuro e se achar nele. Escrevemos e seguimos cavando cada vez mais. Não é fácil! Muitas vezes, é por isto que deixamos de escrever por alguns dias. Pois não é fácil. Mas uma força nos puxa para isso. É louco e eu sei que é. Mas alguns são terrenos muito vastos para apenas uma cavada. É preciso cavar e cavar e cavar. Continuemos a cavar.
Há uma necessidade, uma urgência de escrever. Em suma, vomite as palavras de você.
Só então tu vai poder respirar. É um desespero! Há muito o que escrever. Existem muitos assuntos a serem abordados. Preciso escrever para aliviar, afrouxar as mãos que seguram meu pescoço a cada minuto do dia.
Enquanto não se escreve, não há como viver.
Eu preciso escrever para que as palavras aliviem um pouco e me deixem respirar por um breve momento. É a asma, que só para depois de a bombinha ser usada, que é a escrita.
Eu preciso escrever desesperadamente, como quem corre para o hospital em um carro quebrado. Entre os solavancos, entre as paradas necessárias do sinal desse trânsito, e empurrar o carro para pegar a partida, a gente corre o mais rápido que pode.
Quero escrever algo que me mate a ansiedade
Quero escrever algo que me cale por séculos
E controle minha compulsão de escrever
Quero escrever algo que falará por minha alma toda
E meu espírito que vagueia
E minha carne que me queima
E meus ossos que jubilam
Quero só uma palavra, meu Deus,
Para, me aquietar.
Que luta! Que luta é escrever um livro, um conto, uma boa prosa, uma boa história.
Transformar o pensamento em palavras. Palavras que cheguem perto do pensamento que você teve. (O que escrevemos nem se compara ao que a imaginação inventa.) Palavras que possam passar a imagem mais precisa da imaginação que tu teve. Que luta é!
Se eu pudesse parar de vez, viver sem a palavra escrita, sem a imaginação infinita, eu pararia. Mas não posso, eu sou isso. Eu sou a palavra, o pensamento, a ideia.
Preciso escrever como o desespero de alguém a beira da morte que quer viver.
Eu respiro/vivo ao decorrer de uma frase. A palavra é a extensão do que sou.
Que luta é meus caros. Mas preciso dessa luta para viver/sobreviver/ser!
Quantas vezes serei nocauteado e levantarei e tentarei arduamente acertar um golpe, também, com a minha caneta.
Que luta é!
Mas essa luta é a minha luta e é de tantos outros irmãos de escrita.
Então vamos lutar!
Kaique Britto
Este artigo foi escrito por Kaique Britto e publicado originalmente em Prensa.li.