Sobre escrever um livro.
Escrever um livro não é a coisa mais difícil do mundo, mas também não é a mais fácil de todas. Vai depender muito da pessoa que o escrever. Tudo está na sua mente, no poder da sua imaginação.
Acredito ser a nossa mente quem tem todo o poder para destravar o nosso potencial. Eis a chave para destravar todas as portas que queremos e precisamos para viver: tudo está na sua mente.
Alguns são perfeccionistas demais e demoram mais para escrever, ou pensam que nunca está bom o bastante - e eu acho que esses são a maioria dos casos. Pensam que após publicar vão ser livres desse TOC de ficar revisando e revisando incontáveis vezes. O que pode levar à loucura. Acham que a saída está no ato de publicar.
Sinto muito lhes afirmar que não é bem assim. Pelo menos para mim. Sempre vamos querer revisar, enquanto estivermos aqui para ler ele.
A parte mais difícil você já fez: escreveu. A partir desse momento, o que acontecer é lucro. Qualquer tempestade que chegar, chegou, qualquer tempo será bem-vindo.
Escrever um livro é pôr em palavras seus anseios, sonhos, medos, emoções. É transpor um mundo de dentro de você para fora. É uma vontade de desabafar com o outro, de contar-lhe segredos e sonhos.
Escrever um livro é como colocar um tijolinho neste mundo. E, assim, ajudar a ir construindo o mundo. Acho que enquanto houver os escritores, o mundo nunca estará construído por completo. Sempre estará em uma eterna construção. Livros são tijolos colocados no mundo em construção. Os escritores são construtores natos. Pela palavra o mundo foi construído e é por ela que continua a ser construído.
Um livro é o espelho da parte da alma do escritor. Aquele que escreve apresenta-se ao leitor da maneira que mais lhe agrada. Ou, talvez, com a sua verdadeira imagem.
Não se escreve um livro sem o desejo de que o outro olhe por este espelho que você colocou diante dele. É por isto que desejamos tanto ser lidos. O escritor escreve porque tem que escrever, porque nasce essa urgência de dentro de si mesmo. Porém, o escritor quer os olhos atentos do leitor para o ler, pois o escritor quer saber o que o leitor acha de sua obra.
O escritor já está tão acostumado com suas palavras, com a sua escrita, já conviveu tanto com o seu livro antes de lançar ele para o mundo, que ele precisa do olhar do outro, daquele para quem suas palavras ainda são novas, são desconhecidas. Daquele que vai colocar o pé pela primeira vez neste mundo que ele criou. Ele precisa do leitor para, talvez, enxergar o que ele não conseguiu estando tanto tempo imerso em suas palavras.
Eis o papel fundamental do leitor na vida do escritor. Sem ele, o escritor está andando apenas com uma perna. Já com o leitor, ele consegue andar com as duas.
É verdade, escrevemos porque o animal dentro da gente urge por esta floresta da vida. Procurando sua caça, o seu alimento diário. Mas a mesma fera selvagem, faminta, precisa de alguém que lhe coce a barriga após estar alimentado.
Escrever um livro é um deleite e um inferno. Mas um inferno impossível de resistir.
Escreva!
Kaique Britto.
Este artigo foi escrito por Kaique Britto e publicado originalmente em Prensa.li.