Sua liberdade era ilusória
A Era de Ouro do Cinema Americano foi marcada por memoráveis artistas que levaram seu talento às telas do cinema em diversos filmes musicais. Se pudéssemos citar somente uma grande estrela durante os 40 anos dos tempos dourados, tenho certeza que o primeiro nome que vêm à mente é um dos maiores símbolos da cultura pop, a talentosa Marilyn Monroe.
Marilyn Monroe foi uma atriz, modelo e cantora norte-americana. Inicialmente, ficou famosa por interpretar personagens cômicos, tornando-se sucesso no cinema.
Apesar de nunca ser esquecida, Marilyn dificilmente é lembrada pelo público mais jovem por seus trabalhos cinematográficos, mas sim por sua beleza estonteante. A atriz faleceu aos 36 anos por uma overdose de barbitúricos.
No documentário “Love, Marilyn”, é impossível não notar a degradação que Hollywood causou à Norma Jeane Mortensen, e seu inocente e grandioso desejo de se tornar atriz, para construir a personagem Marilyn Monroe.
Norma Jeane passou grande parte de sua infância em casas de família e orfanatos. Sua mãe, Gladys Baker, tivera de ser internada diversas vezes por problemas psicológicos, o que a afastou de Norma durante sua adolescência e fase adulta. O maior receio de Marilyn era passar pela mesma situação que sua mãe, isso constantemente foi citado em diversas entrevistas cedidas pela atriz
Seu nome começou a ser reconhecido após ter o papel principal em “O Segredo as Viúvas” em 1951. A partir daí, Marilyn foi a estrela nos filmes “Os Homens preferem as Loiras” (1953), “O pecado mora ao Lado” (1955), “Quanto mais quente melhor” (1959) e entre outros.
Apesar de Marilyn aperfeiçoar sua atuação e desejar interpretar personagens mais complexas, seus desejos dificilmente eram atendidos pela produtora.
Norma infelizmente foi reduzida ao estereótipo de “Loira Burra” pelos papéis que interpretava. Suas personagens eram mulheres ingênuas, pensadas para agradar o sexo masculino.
Não é à toa que Marilyn Monroe é lembrada como o maior “sex symbol” de todos os tempos. Ninguém esquece seus cabelos platinados, seus olhos azuis hipnotizantes e seu corpo curvilíneo.
Mas todos esquecem a trajetória da mulher que lutou para conquistar sua independência e reconhecimento profissional em uma época cercada por homens poderosos que apreciavam somente a beleza feminina.
“A mulher é vista nos filmes da década de 50 da mesma maneira que nas décadas anteriores, uma mulher que renuncia aos seus próprios desejos em favor do desejo masculino. E os filmes a caracterizam como um objeto de desejo domesticável. Sempre precisando de um homem que a deixe “segura” contra suas próprias fraquezas femininas e que, além do mais, seja vulnerável economicamente.”
A citação escrita por Tatiana Cristina e Edson Ferreira na pesquisa “Cinema Hollywoodiano: A Imagem da Mulher Sob o Olhar da Lente Masculina” é um resumo tanto quanto didático sobre os clássicos filmes de época.
Apesar de Norma assumir a personalidade confiante e sensual de Marilyn, sua vida fora das câmeras não era só brilho. Todos que viviam à sua volta presenciavam uma mulher insegura com sua profissão, com vícios, depressão, ansiedade e que constantemente não apreciava seu próprio trabalho.
Em 1954, Marilyn era um dos maiores patrimônios dos estúdios da 20th Century-Fox, entretanto, ela recebia muito menos do que outras atrizes e não podia escolher os seus projetos e colegas de trabalho.
Hoje, sabemos que Marilyn recebia menos quesuas colegas de profissão simplesmente porque era vista como um objeto comercial que não merecia ser recompensada de forma justa. Afinal, ela era somente uma mulher bonita na visão dos grandes produtores.
Norma, que já estava descontente com os papéis estereotipados, decidiu fundar sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions (MMP). A atriz, que sempre fora adorada por sua simpatia e beleza, foi ridicularizada pela imprensa pela sua atitude.
Não é segredo para ninguém que Marilyn não ligava para as ofensas que surgiam quando outras mulheres falavam sobre sua suposta vulgaridade ou seus interesses sexuais em homens bem afeiçoados.
A imprensa adorava sua imagem de mulher sexy e corajosa, os homens à desejavam e não perdiam a oportunidade de passar uma noite ao seu lado, mas nunca uma vida ao seu lado.
Uma das frases mais marcantes na vida da atriz foi dita por Laurence Olivier, diretor e ator responsável pelo filme The Prince and the Showgirl. Na época, Marilyn não estava em seu melhor momento profissional. Em decorrência de seus problemas psicológicos a atriz tinha dificuldades de memorizar o texto.
Olivier estava irritado com a irregularidade na atuação, atrasos e insegurança da atriz que proferiu a seguinte frase: tudo o que ela tinha que fazer era ser sensual. Ninguém via nada além de um rosto bonito.
Apesar de sempre ser vista como uma mulher livre, inclusive no âmbito sexual, Marilyn estava presa a uma máscara que colocaram no íntimo de Norma Jean. A atriz se perdeu na intenção de encontrar a alegria e o sucesso.
Para o grupo feminista atual, Marilyn é um símbolo feminista ligado a liberdade sexual, mas, na sua época, a jovem atriz não era vista dessa forma por outras mulheres.
Marilyn Monroe teve uma vida na qual os homens a destruíram, sua paixão pelo o cinema a deformou, sua voz não era escutada e sua inteligência era testada diariamente. Após todos os traumas vividos, ela se matou.
Pode ser polêmico pensar dessa forma, mas, quando colocamos Marilyn Monroe somente na ótica de representação da liberdade sexual, cedemos à pressão que a atriz sofreu na intenção de realizar seu sonho.
Não devemos lembrar de Marilyn unicamente por sua beleza, sua coragem em se relacionar com os homens e associar esses tópicos à única representação feminina que a atriz simboliza atualmente.
Quando lembrarmos de Marilyn, devemos dizer que ela é um símbolo feminista completo por sua astúcia, sua inteligência que sempre foi abafada, por ser uma mulher que lutou contra Hollywood e seus estigmas, que criou uma produtora “de e para mulheres”, que de tão humana, foi oprimida tanto quanto todas nós, que tentamos realizar nossos sonhos.
As opiniões expressas no artigo não necessariamente remetem a opinião da Prensa.
Foto por: George Barris