Super Luta de Jiu Jitsu terá premio milionário, rivalidade entre nações e corrida pelo título de melhor da história.
Uma coroa contestada, rivalidade entre nações, provocações, prêmio milionário, uma batalha até a finalização e a chance de ser o melhor da história. A luta entre Felipe Pena e Gordon Ryan, marcada para o dia 06 de Agosto de 2022 no evento Who is number one (quem é o número 1), traz todos os ingredientes de um show épico e tem roubado as atenções de amantes das artes marciais pelo mundo.
O reinado de Gordon "king" Ryan
Os números não mentem Gordon Ryan é o atleta mais vitorioso de todos os tempos da luta agarrada sem quimono, também conhecida como Grappling, Submission e No Gi. Com um cartel de 101 lutas na faixa preta, 97 vitórias sendo 88% por finalização, e apenas 3 derrotas, o americano venceu algumas lendas do esporte como Marcos "Buchecha" Almeida, Lucas "Hulk" Barbosa, Yuri Simões e Roberto "Cyborg" Abreu.
Sua ascensão meteórica inclui uma corrida de 6 meses entre as faixas branca e marrom em 2016 e muitos títulos e resultados impressionantes na faixa preta. Entre eles o ADCC em 2017 e duplamente em 2019, em sua categoria de peso e na categoria absoluto, que permite a participação de qualquer atleta, e um duplo mundial sem quimono em 2018, no peso e no absoluto. Gordon literalmente chocou o mundo da luta agarrada.
De lá para cá, ele realizou diversas superlutas e venceu alguns dos melhores atletas do mundo, incluindo os campeões mundiais Matheus Diniz, Roberto Jimenez e Gabriel Gonzaga. Esses resultados validariam a coroa, que ele tão orgulhosamente exibe nos campeonatos, caso não existisse um adversário que o venceu 2 vezes e foi o único a finaliza - lo na faixa preta.
Melhores momentos de Gordon Ryan no Youtube
Felipe "Preguiça" Pena, uma lenda brasileira
Felipe Pena é um atleta completo que estaria em qualquer lista dos melhores do mundo de Jiu Jitsu e No Gi mesmo sem as duas vitórias sobre Gordon.
Entre seus títulos estão 3 campeonatos mundiais de Jiu Jitsu em 2018, 2019 e 2021, um ouro duplo na categoria e no absoluto no mundial sem kimono de 2015 e o título absoluto do ADCC de 2017 enfrentando Ryan na final em uma batalha de 20 minutos que terminou com um belo movimento do brasileiro, contra-atacando uma tentativa de chave de perna do americano, para se estabilizar nas costas do adversário e garantir a vitória por 4 pontos a 0.
Essa era a segunda vez que os atletas se enfrentavam, a primeira havia sido em uma luta casada ainda em 2016, quando o brasileiro deu ao americano as boas vindas a faixa preta, vencendo por finalização após uma situação muito parecida com a de 2017.
Clique aqui para acessar a página com o vídeo das lutas.
Uma nova vitória colocaria o brasileiro no posto de número 1 do mundo, e na trilha certa para, quem sabe, se tornar o maior da história.
Melhores momentos de Felipe Pena, o Preguiça.
Uma rivalidade entre nações
O fato de Gordon se dizer o melhor da história já seria suficiente para enlouquecer os fãs brasileiros, mas ele foi muito além, colecionando rivalidades com os principais atletas do país. Em seu Instagram onde é muito ativo, é comum vê-lo se gabando de ter vencido ou de ter resultados melhores que outros atletas. Entre as postagens, não se acha uma só onde os brasileiros não marquem o nome de Felipe, tornando inevitáveis as freqüentes provocações entre ambos.
A tensão levou o americano a apostar no combate 10 vezes qualquer valor que Preguiça apostasse contra ele. Neste momento os valores estão em 220 mil dólares, tornando a luta milionária mesmo antes de se falar em bilheteria, transmissão e patrocínio.
Em uma entrevista recente (em inglês) o americano falou sobre sua expectativa para a luta:
"2022 será um ano terrível para Felipe. Eu vou traumatiza - lo lá dentro e como não haverá limite de tempo, ele não poderá sair.
Parte dele acredita que ele vai enfrentar o mesmo Gordon de 2017, o que é uma péssima maneira de olhar esse confronto. Se eu me enfrentasse a 6 meses atrás eu me destruiría. O Gordon de 2017 não é em nada como eu sou agora. Estou maior, mais forte e muito melhor em Jiu Jitsu. Não existe um aspecto em que Felipe chegue sequer perto de se comparar a mim.
É a decisão mais estúpida da vida dele. Ele tinha 2 a 0, ele poderia simplesmente rolar isso e navegar para o por do sol. O dinheiro que ele vai receber, não vai valer o abuso que ele vai enfrentar no tatame.
Em nossa última luta, ele me falou uma série de besteiras, bateu o ombro na minha cara quando estava em controle, e essas são coisas que eu não esqueço. Agora não haverá tempo, então eu posso derretê-lo o quanto eu quiser.
Vai ser uma luta difícil de assistir, eu acredito que o Brasil deveria parar e ter um feriado para fazer um momento de silêncio pelo que eu farei ao Felipe."
Preguiça com seu estilo mais disciplinado respondeu com bom humor e sem perder o cavalheirismo.
Ao assinar o contrato, afirmou que se ganhasse pela terceira vez faria uma nota de 3 dólares com o rosto do americano. Em seguida postou em seu Instagram montagens dele imitando um bebê.
Recentemente em um video ao ser perguntado o que Gordon Faria quando perdesse pela 3 vez respondeu:
" A primeira vez ele falou falou falou e perdeu, continuou falando, continuou falando ai perdeu de novo e continuou falando. Pode me colocar com 60 anos que ele vai achar que nunca perdeu, que ele é o melhor de todos, que agora ele ta muito melhor. Ele vai continuar assim, é o jeito dele, meu bebê."
Uma luta até o fim no estilo dos Gracies
Um estilo notório da família Gracie sempre foi realizar combates até a desistência, e nunca desistir deles. O caso mais emblemático foi a última luta da carreira de Hélio Gracie, quando com cerca de 30 kg a menos de peso, enfrentou Masahiko Kimura, um dos melhores judocas da história, no Maracanã lotado e não desistiu da luta mesmo após ter seu braço quebrado, com a chave de braço que hoje leva o nome de Kimura.
Apesar das diferenças entre Gordon e Preguiça, existem algumas similaridades. Ambos iniciaram o Jiu Jitsu com 15 anos em escolas ligadas a família Gracie. Preguiça desenvolveu sua famosa guarda na Gracie barra de Belo Horizonte, enquanto Ryan aprendeu seu jogo de pressão diretamente do lendário mestre Renzo Gracie em Nova York.
Ambos aprenderam o Jiu Jitsu em uma linha sucessória que vem do próprio Hélio e quando entrarem no tatame em agosto sabemos que vão deixar tudo lá dentro, proporcionando um espetáculo para os fãs do esporte e definindo um capítulo importante na disputa entre Brasil e EUA pela hegemonia na luta agarrada.
Este artigo foi escrito por Marcel Hochman e publicado originalmente em Prensa.li.