Sweet Tooth: aclamada HQ vira série da Netflix
A história de Sweet Tooth
Há dez anos surgiu o Flagelo, também conhecido como vírus H5G9, que se propagou pelo mundo e que tem como sintoma característico o mindinho trêmulo da mão esquerda. Algo bem incomum e que denunciou muitos contaminados e até os condenou à morte. Afinal, estamos falando de uma doença altamente transmissível e sem cura (até o momento).
Agora imagine se deparar com “O Grande Esfacelamento”, como a época ficou conhecida, e ainda descobrir que seu filho não é completamente humano. Na mesma época em que o vírus se alastrava, todos os bebês nascidos eram híbridos.
A dúvida diante da origem do Flagelo fez com que a culpa recaísse sobre os novos seres, temidos e caçados desde seu surgimento.
O mundo se depara com o nascimento de crianças que não eram mais completamente humanas - Imagem de reprodução
Isso nos leva ao protagonista da história, Gus (Christian Convery), um menino-cervo que viveu estes dez anos em segurança, longe dessa realidade em sua casa isolada na floresta., com seu pai Richard Fox (Will Forte), carinhosamente chamado de Paba.
Quando seu pai morre, a promessa de ‘jamais cruzar a cerca’ se aproxima cada vez mais de ser quebrada, principalmente quando Gus toma para si a missão de encontrar sua mãe Birdie (Amy Seimetz), que nunca conheceu.
Para isso ele tem ajuda da pessoa menos provável possível, Tommy Jepperd (Nonso Anozie), um ex-último homem, ou seja, um caçador de híbridos. Mesmo que estranho e incomum, ambos formam um laço familiar.
Juntos, eles partem em uma aventura extraordinária pelas ruínas dos Estados Unidos em busca de respostas sobre a origem de Gus, o passado de Jepperd e o real significado de ter um lar.
Acima de tudo, Gus aprende que o mundo além da floresta é muito mais complexo do que ele imaginava.
Tudo começou em uma HQ
Ilustrações da HQ - Créditos: DC Comics/Divulgação
A produção é inspirada em uma HQ de mesmo nome da DC Comics, publicada entre 2009 e 2021 pelo extinto selo Vertigo, que trazia tramas originais com abordagens mais sombrias e adultas como Preacher, Sandman e Y, o Último Homem.
O canadense Jeff Lemire não só é responsável pela história de Sweet Tooth como também ilustra a obra. O premiado quadrinista também é autor de Essex County, Underwater Welder, além de ser cocriador das obras Descender com Dustin Nguyen, Black Hammer com Dean Ormston e Gideon Falls com Andrea Sorrentino.
Além de trabalhos mais intimistas, envolvendo família e paternidade (como em Black Hammer, O Soldador Subaquático e Sweet Tooth) Lemire escreveu regularmente tanto para a Marvel, em títulos como Thanos e Cavaleiro da Lua, quanto para DC Comics nas revistas Arqueiro Verde e Superboy.
E para quem já acompanha o trabalho de Jeff, pode ficar tranquilo, pois ele esteve fortemente envolvido na adaptação de seus quadrinhos.
Capas da HQ Sweet Tooth - Créditos: Amazon/Divulgação
Mesmo que Sweet Tooth tenha sido publicado pela DC Comics, famosa pelo seu mundo de heróis como Superman e Batman, toda a trama se passa em uma outra realidade.
Entre 2009 e 2013, o título original lançou ao todo 40 edições. Já ano passado, a HQ retornou com a minissérie Sweet Tooth: The Return dividida em seis edições.
O que mudou da HQ para a série
Ilustrações da HQ - Créditos: DC Comics/Divulgação
A versão de Sweet Tooth da Netflix com certeza tem seus momentos de tensão, mas ela é voltada para o público jovem (classificação para 14 anos). Isso faz com que o leitor da HQ tenha a visão de um mundo muito mais sombrio, frio e brutal.
O lado pós-apocalíptico nos quadrinhos leva seus personagens a situações extremas e violentas. Além do tom, outras alterações foram feitas ao longo da adaptação para as telas. Confira as principais:
Motivação de Gus
Gus vê uma foto de sua mãe pela primeira vez - Imagem de reprodução
Na série Gus escolhe deixar a floresta em que vivia há anos para encontrar sua mãe Birdie, que ele acredita morar no Colorado. Já na HQ, ele se junta a Jepperd por medo de mais caçadores e por não querer se sentir solitário. Vale mencionar que Birdie não aparece e nem é citada pelo pai de Gus nos quadrinhos.
Personagens novos
Aimee é surpreendida durante um passeio com sua filha - Imagem de reprodução
Birdie não foi a única personagem inédita da adaptação. Um dos destaques é a criação de Aimee (Dania Ramirez), a responsável por fundar uma reserva para híbridos, a fim de mantê-los seguros. Rami Singh (Aliza Vellani), esposa do doutor Aditya, também é outra adição à série.
Exército Animal
O primeiro encontro entre Gus e o Exército Animal - Imagem de reprodução
O Exército Animal existe tanto na HQ quanto na série, mas suas versões são bem diferentes. Se por um lado em ambas versões eles creem que os híbridos sejam seres superiores e capazes de salvar a humanidade, por outro, nos quadrinhos, o grupo se aproveita para criar um exército que mata e escraviza híbridos.
Na série, o Exército Animal é composto por jovens que não confiam nos adultos. No lugar de um grupo bem sangrento, vemos adolescentes que, nas horas vagas, quando não estão lutando para proteger os híbridos, jogam videogame, assistem filmes e brincam em seu próprio parque de diversões.
Personagens mais sombrios
Capa de uma das HQs de Sweet Tooth - Créditos: DC Comics/Divulgação
Vemos Gus como um jovem confiante na série da Netflix, mas na HQ não é bem assim. A educação que seu pai Paba, lhe deu não foi tão sofisticada, sendo que Gus mais parece um menino do interior com vocabulário repleto de abreviações. Já Paba deixa de ser um fanático religioso com visões apocalípticas, como é na HQ, para se tornar alguém mais comunicativo e atencioso na série.
Curiosidade da Adaptação
A série Sweet Tooth estreou na Netflix dia 4 de junho deste ano, mas seu piloto já havia sido filmado em 2019, na Nova Zelândia. Certamente ninguém imaginava naquela época que o clima tenso da série, falando sobre um mundo lutando contra um vírus mortal, viria a se tornar a nossa realidade também.
E mais, não era a pioneira do streaming quem levaria inicialmente os quadrinhos para as telas, mas sim a Hulu (famosa por sua produção The Handmaid's Tale), que havia encomendado o piloto em 2018 e tinha os direitos de adaptação.
No fim, em abril de 2020, a série saltou para Netflix, de acordo com um relatório do site ComicBook. Na sequência, a Netflix encomendou uma temporada completa de 8 episódios.
Dúvidas para a segunda temporada
Últimos momentos em que Jepperd passa com sua esposa antes do desaparecimento da mesma - Imagem de reprodução
O final de Sweet Tooth deixou algumas questões para a segunda temporada e uma delas envolve a família de Tommy Jepperd.
Descobrimos que o ex-jogador de futebol americano tinha não só uma esposa, Louisa (Luciane Buchanan), como um filho híbrido. Estes sumiram do hospital enquanto Jepperd decidia se conseguiria ou não lidar com aquela situação. Eles foram mortos ou levados para experimentos? Conseguiram fugir do hospital?
Outra personagem que desperta curiosidade é Wendy (Naledi Murray), uma híbrida de humana e porco, que foi abandonada ainda bebê em um antigo Zoológico (futura sede da Reserva).
Quem a teria deixado lá? Muito provavelmente era de conhecimento dessa pessoa que Aimee vivia no local. Logo Wendy não ficaria desamparada. Resta a dúvida também acerca de sua origem. A ex-líder do Exército Animal, Becky revela que sua irmã — uma híbrida de humano com porco — fora levada de sua casa. Isso tornaria Wendy e Becky irmãs.
E não são apenas personagens que nos deixaram querendo saber mais. As plantas e a relação entre híbridos e Flagelo representam parte do mistério em Sweet Tooth. Flores de coloração lilás sempre surgem próximo a lugares com pessoas contaminadas. Elas poderiam esconder um segredo, talvez uma cura para a doença? E ao final da temporada nos questionamos sobre os híbridos e o Flagelo. Estariam eles associados? De que maneira?
Ainda não sabemos os planos da Netflix, mas aguardaremos ansiosos pela confirmação da segunda temporada. Por ora, só nos resta criar as mais variadas teorias sobre as questões que a primeira temporada deixou em aberto e quem sabe nos aventurar na sombria realidade dos quadrinhos de Sweet Tooth.
Este artigo foi escrito por Luana Brigo e publicado originalmente em Prensa.li.