Tecnologia e inclusão de pessoas com deficiência
O tema tecnologia não é avesso a filosofia. O termo técnica – como conhecemos hoje – vem do francês technique que vem do grego technikós, que tem o significado “aquele que cria” ou aquele que desenvolve. A techné, que podemos traduzir como arte ou habilidade num contexto criativo, evidencia o indo-europeu teks, que quer dizer, fabricar ou criar.
Se, na essência, techné é a arte, a técnica sempre fez o ser humano inventar coisas para facilitar a sua vida e a sua dinâmica diante ao ambiente. Graças a essa técnica, o ser humano saiu do seu estado nômade, inventou coisas que facilitaram sua evolução e sempre inventava maneiras de facilitar a vida de pessoas doentes e deficientes dentro da história do mundo. Só que muito poucos tinham condições ou podiam usufruir das coisas que eram inventadas.
Ainda hoje – com todo esse aparato tecnológico – muito poucos tem acesso ao que mais tem avançado dentro das tecnologias acessíveis disponíveis. Isso não tem nada a ver com direita ou esquerda, pois, a tecnologia que temos hoje, muitas vezes, são pesquisadas e construídas pela iniciativa privada.
E muitas delas, ainda são caras e não tem acessibilidade para a camada mais pobre. Muitas cadeiras de rodas (pessoas com deficiência física), muitos aparelhos auditivos e até implantes cocleares (pessoas com deficiência auditivas), aparelhos diversos foram criados para diversificar e facilitar as pessoas com alguma mobilidade reduzida.
Uma amiga que é surda escreveu certa vez no seu Facebook, que é muito gratificante ter tecnologia para se inventarem uma maneira de colocar um aparelho numa operação para ouvir, como ela pode operar. Graças a gratuidade de um SUS e graças ao programa de fornecer aparelhos para as pessoas que precisam, muitas dessas tecnologias são fornecidas e dadas para facilitar que as pessoas com deficiência vivam uma vida como outra pessoa qualquer.
Por outro lado – isso tem muito na comunidade surda – “lendas” e preconceitos, levam muitas pessoas condenarem as pessoas que usam esse tipo de tecnologia dizendo que são “traidores da causa”. Ora, alguém diz que quem usa um carro é anti-pedestre? Como aconteceu agora com as vacinas – na pandemia de coronavírus – onde as pessoas começaram a inventar argumentos de não quererem se vacinar e outras pessoas começaram a temer as vacinas.
Não é de hoje que as pessoas temem mudanças – até mesmo, mudanças tecnológicas – porque não entendem, aonde poderiam chegar com elas e criam lendas. Concorrentes podem ter criado essas “lendas”? Talvez, mas, numa análise bastante profunda, sempre vamos temer aquilo que não entendemos como algo funciona.
Nem todo mundo é engenheiro eletrônico, biólogo ou cientista da computação e assim, ninguém pode entender o que esta por trás daquilo. Mas, por outro lado, se poderia dizer que nesse meio há ética? Por que a maioria não pode ter acesso a aparelhos de última linha? Será que ainda a tecnologia vai ficar nas mãos de alguns?
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.