Telescópio James Webb - É ver para crer
O telescópio James Webb. Crédito: NASA/Chris Gunn.
O telescópio espacial James Webb enviou sua primeira imagem. Na verdade, dezoito, uma de cada espelho. Todas foram coladas numa única foto, mas capturam a mesma estrela. É apenas o início de algo que não conseguimos ainda dimensionar.
As fotos serão, em breve, apenas uma, basta completar o processo de sincronização dos espelhos. A captação em infra-vermelho protege as imagens, para nossos olhos, de nuvens de poeira, por exemplo, dispersas em meio a bilhões de anos-luz.
Seu formato - dezoito hexágonos dourados encaixados – permite o maior aproveitamento desses espelhos, e o ouro é o melhor condutor de raios infra-vermelhos que conhecemos.
Essa lição geométrica não é invenção nossa, a vemos nas colmeias.
Orçado em dez bilhões de dólares, promete inspecionar os confins do espaço sideral. Sua missão é captar a maior distância conhecida até hoje. Teoricamente, flagrar o mais próximo possível do início de nosso universo.
Dinâmica espaço-tempo
Quando miramos nossas retinas na direção do sol, não o vemos simultaneamente ao nosso tempo presente. Na verdade, é o sol de oito minutos atrás – tempo que sua luz leva para tocar o olho. O mesmo se aplica a estrelas milhões de anos luz de distância.
Se habitantes de um astro na galáxia NGC 1365 olhassem agora para a Terra, por sua distância, veriam a luz que esta emanava há mais de 60 milhões de anos atrás. Eram os dinossauros nossos protagonistas.
O smartismo contemporâneo pode ter nos deixado um pouco mal-acostumados. Mas, seguindo essa lógica, quanto maior a distância que conseguimos ver no espaço, menor o tempo que se passa no objeto que emite luz.
Em outras palavras: olhar para longe é olhar para o passado. Dentro de nossa perspectiva humana de tempo, claro. A missão do James Webb é se aproximar do início de tudo. Big Bang? Não sabemos, ainda não chegamos lá.
Daí tiramos que o tempo é relativo, depende do espaço entre quem emite e quem recebe a luz.
Curioso o quanto nos esforçamos para separar áreas do conhecimento, quando na verdade isso é impossível. O tempo também é relativo socialmente.
Na virada do século XIX, graças a revoluções técnico-científicas, enormes espaços geográficos foram cobertos com malha ferroviária. A vida sobre o trilho do trem mudou completamente nossa concepção de tempo. O que antes eram dias passam a ser horas.
Afetou inclusive nosso discernimento das formas. A vida em alta velocidade percebe diferente o ambiente. Basta olhar da janela do carro em movimento. Isso inspira movimentos artísticos: o impressionismo, por exemplo, dilata em pinceladas rápidas os contornos na tela.
O que dizer da possibilidade atual de enviar informações simultâneas ao outro lado do planeta? Somos acelerados porque nossa dinâmica social se acelerou.
Não preciso mais ir à casa de um parente em outro bairro saber se está tudo bem, nem mesmo esperar toques de telefone. Passo uma mensagem, enquanto faço milhares de outras coisas, e recebo resposta instantaneamente – a depender da generosidade fraternal.
As descobertas do novo telescópio podem (ou não) mudar nossa ideia de espaço, universo, até de tempo.
Tudo isso para dizer que, se James Webb for bem-sucedido em sua missão, estaremos ainda mais próximos de respostas, graças à capacidade de olhar mais longe.
Este artigo foi escrito por Matheus Dias e publicado originalmente em Prensa.li.