Tem um Iphan no meio do caminho?
O Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, é um dos principais sítios aerqueológicos do país. | Imagem: Artur Warchavchik / wikipedia
De onde viemos? Para onde vamos? Essas perguntas movem todas as sociedades através da história. Não só as sociedades, entendidas como conjuntos de seres humanos, a própria individualidade é, também, atravessada por questionamentos parecidos. Faz parte de nossa forma de interagir com o mundo.
Pensando na constituição de uma nação, fundamos diversas formas e instituições que nos ajudem a balizar um jeito comum de ver o mundo.
Museus, parques, praças, monumentos, nomes de rua, feriados – órgãos especializados em preservação de florestas ou patrimônios históricos, como sítios arqueológicos.
Sobre este último, vale comentar sua importância na tentativa de entendimento do passado mais longínquo, distante não só no tempo. Sítios arqueológicos ajudam, através de minúsculas pistas, a compreender dinâmicas sociais.
Porque há hipótese de que a escrita tenha nascido através de registros matemáticos, dada a necessidade básica dos seres humanos de guardar informações quantitativas? Por resquícios perdidos numa pedra qualquer.
Um mísero azulejo pode explicar muito sobre como as pessoas se viam e se expressavam, que tipo de materiais manejavam, por onde andavam, se encontramos outros parecidos. Tudo isso pode soar supérfluo a muita gente. O que é a escrita ou um azulejo comparado ao
Progresso de um galpão travestido de loja, que emprega pouco e mal?
Essa ideologia de Progresso, qualquer seja o custo, remete a nossa formação antes como empresa do que nação. A “Empresa-Brasil”, de Darcy.
Por mais de 300 anos, todos os esforços foram canalizados exclusivamente para extração e exportação de riquezas. Sob o manto do cativeiro ergue-se uma Colônia.
A Independência nos obrigou a forjar um país. Todos os arranjos políticos, de então, foram em vias de manter, pelos mais diferentes modos, o padrão. No melhor estilo “muda-se tudo para que nada se mude”. Ou mudanças “para inglês ver”.
Seja no Império ou nas diferentes Repúblicas que tivemos, permaneceu o cerne do Progresso. O Progresso dos grandes homens, verdadeiros portadores do futuro. Mas mesmo o maior bilionário depende uma linha de pessoas alugando seus corpos pra fazer, de fato, girar a roda da economia. A reinante ideologia brasileira do Progresso nos mantém dependentes de quaisquer flutuações no câmbio internacional, a despeito de qualquer projeto de país. Não há nação sem memória, sem busca do passado perdido, sem projeção de futuro. Da mesma forma, não há nação com fome e desemprego.
Falar até papagaio fala. Um presidente pode falar de crescimento e progresso a grandes empresários, amigos em convenção. Pode “ripar” toda a “burocracia” que impede uma empresa de oferecer meia-dúzia de empregos de baixa remuneração a uma multidão de esfomeados. Há, aí também, passado e futuro projetados.
Confrontamos escolhas todos os dias. Emprego ou direitos, pode dizer um. História ou Progresso, pode dizer outro. Nessas horas, Dona Maria da Conceição Tavares pode ser um alento a quem não busca escolher o imediatismo maniqueísta: trabalhemos por tudo ao mesmo tempo! Distribuição não atrapalha o crescimento, pelo contrário. Uma economia “estabilizada” é aquela que busca justiça social.
Quem diz o contrário sofre de uma doença, variante da chamada “Holandesa”. A doença do “crescimentismo”. O nosso Progresso é crescimentista. Olha apenas o tamanho do PIB, puxado pelos mesmos desde sempre. Nossos barões da cana, do ouro, do café, e da soja.
Essa doença faz pensar que o crescimento, naturalmente, como num passe de mágica, vai distribuir a riqueza entre as pessoas. Talvez, se pensamos que crescimentismo com caridade vale mais do que uma Política Pública efetivamente pensada para combate de um problema real/estrutural.
Vendamos muito Brasil pra pagar o custo social desse Progresso. E nessa toada somem nossas florestas, nosso passado, e qualquer perspectiva de futuro.
Este artigo foi escrito por Matheus Dias e publicado originalmente em Prensa.li.