Tendencias do BaaS no Mercado Brasileiro em 2022
Em 2014 passei como Trainee na Rede (antiga Redecard), e foi aí que me apaixonei pelo impacto da evolução do mercado de pagamentos na rotina das pessoas e recentemente pelo Banking as a Service (BaaS), quando enquanto Head de Parcerias no BaaS, tive acesso real e contato direto e na prática com parceiros, stakeholders e plataformas que desenvolvem Bancos Digitais, saindo completamente da teoria e indo a prática, conhecendo estratégias e práticas em comum.
E foi exatamente na prática que pude conhecer principalmente pessoas.
Não se fala de BaaS, ou de qualquer outro assunto, se não falarmos de pessoas. É partir daí que surgem estratégias, planos, sonhos e propósitos, além da capacidade criativa de desenvolver soluções com foco exatamente em pessoas, no cliente.
Acompanhei em 2016/17/18 um aumento significativo no número de subadquirentes no mercado. 80% delas não tinham qualquer diferença significativa umas para as outras, com propostas de valor muito parecidas, logo ficaram para trás. Dos 20% que tinham propostas claras, relacionamento, tecnologia, entre outros atributos em comum, tiveram alguns movimentos: se expandiram e tornaram-se referencias, e/ou foram incorporadas por outras instituições, e/ou mudaram de modelo de negócios e tipo de relacionamento.
Enfim, falei tudo isso, pois existe uma mensagem... O mercado atual de meios de pagamentos digitais evolui e em uma velocidade alta. Acompanhar isso exige conhecimento histórico e concordo que não tenho talvez nem 10% da bagagem do que grandes figuras de mercado como Alessandro Raposo, Edson Santos, Barthô, entre outras referências e que pude dividir uma ou mais vezes uma sala de reunião com eles, possuem e podem contribuir, mas posso compartilhar ideias e falar de uma maneira lúdica para quem quer, assim como eu, aprender cada dia mais.
Quando recebi o convite da Prensa para escrever esse artigo, fiz uma proposta aos meus colegas de Linkedin e (de propósito) coloquei 4 tópicos: Embedded Finance, Tendências do BaaS, Evolução do mercado de Payments e a Relação BI x BaaS.
A real é que todos elas se correlacionam.
As grandes tendencias do BaaS no mercado brasileiro passam por esses 12 tópicos :
Cripto, Blockchain, Tokens, o Metaverso e demais
Cambio/ Conta Internacional
Evolução e a importância do PIX
Embedded Finance (O BaaS 2.0) : Soluções financeiras embarcadas em mercados não financeiros
Open Finance e os Iniciadores de Pagamentos
Sobrevivendo as mudanças do Bacen
Experiência do Cliente e Atendimento
Ofertas segmentada para nichos e públicos
Monetização dos dados
Parcerias relevantes
Fusões e Aquisições
Mercado restrito = Menos players
Cripto, Blockchain, Tokens, o Metaverso e demais
Se vimos que os meios de pagamentos ficaram cada vez mais digitais e os meios que nos relacionamos também, um banco digital precisa estar atento ao mundo Cripto e o que deriva.
Há um papel educacional para o cliente, orientando das inúmeras (novas) possibilidades de investimento, principalmente.
Plataformas de Cripto as a Service já estão dando as caras, facilitando que bancos digitais possam oferecer o serviço. Ou ainda ferramentas/plataformas de motor de negociação de Cripto, possam oferecer o serviço de negociação para seus clientes, vide Mercado Livre, via Paxoos.
O Blockchain tem substituído algumas funções arcaicas e tem me impressionado a adesão ao modelo, que vai desde a transmissão de dados de pagamentos aos contratos imobiliários.
A Tokenização, uma das derivadas, é algo que relaciona diretamente ainda ao Embedded Finance (3ª assunto), podendo fazer com que as próprias Fintechs optem por antecipar seus recebíveis, por exemplo, via Tokens e ver esses ativos negociados e remunerando os inúmeros investidores.
O grande cuidado aqui esta na quantidade de pegadinhas, vulgo pirâmides financeiras, que estão mais afastando as pessoas do mundo Cripto do que aproximando. Exemplos não faltam.
Ainda vejo o Metaverso como algo um tanto quanto “distante” da nossa realidade, mas como pai de uma menina de quase 4 anos, sei que será uma realidade para ela. Alguns bancos já se mexem para que ofereçam soluções no Metaverso. Como ainda há um abismo cultural no Brasil ainda nos conceitos de Bancos Digitais, volto a falar: temos um papel fundamental de educar nossa população neste tema e na educação financeira.
1. Cambio/Conta Internacional
A internacionalização das empresas é uma realidade e as dos bancos também.
Bancos (Tradicionais e Físicos), disputam de maneira sadia, soluções para a ponta e para o cliente.
No câmbio a tendencia é por desenvolver soluções “as a service” e oferecer experiências 100% via API para que os demais bancos se conectem e ofereçam esse serviço ao publico PF e PJ.
Ou ainda a conta internacional, algo que algumas Fintechs, como a Avenue, já realizam e outros Bancos, como o C6 e o BS2.
Para quem quer se adequar ao mercado Cripto, por exemplo, ter a inteligência de câmbio é essencial, portanto cabe a relevância desse assunto.
2. Evolução e a importância do PIX
O PIX veio para ficar e não adianta remar contra. Mas também não teremos a exclusão do TED.
Todo banco digital que se preze, precisa oferecer esse serviço e com excelência. E aí que aparecem as dificuldades.
Alguns pontos. Especialistas no assunto não raros e as tecnologias que dão o suporte também, portanto, disseminar conhecimento técnico é uma tendência para não ter gargalo no processo. Preze pelos melhores fornecedores, seja você um participante indireto procurando uma instituição direta que ofereça o serviço, até ferramentas de acompanhamento e gestão.
A agenda do PIX é aberta e necessita estar atento aos movimentos, seja testando o modelo de forma paliativa, vide a Saque Pague via Banco Topázio no Saque PIX, o que depois migrou para o modelo Bacen.
3. Embedded Finance (O BaaS 2.0) : Soluções financeiras embarcadas em mercados não financeiros
Chamo isso de BaaS 2.0, pelo simples fato de até os grandes entusiastas do BaaS terem migrado a esse modelo após verem que a sua ideia de Banco Digital ter pouca ou baixa relevância ao público, sendo que o grande chamariz era justamente um dos seus serviços oferecidos e que poderia ser replicado “as a service”.
Aqui o movimento vão desde uma experiência de pagamento simples, ágil e segura, a venda de seguros, opções de investimentos, contratar empréstimos e ao Buy Now Pay Latter, em que não seja necessária a adesão a uma conta corrente para contratar o serviço financeiro. Com o inicio do Open Finance (próximo tópico), todas essas funcionalidades serão melhores utilizadas pelos Iniciadores de Pagamentos.
4. Open Finance e os Iniciadores de Pagamentos
Ao vermos a corrida em 2020 por quem trazia o melhor benefício por cadastrar a chave de PIX em seu arranjo, talvez tenham que se replanejar. A grande corrida será por ter seu cliente ainda mais próximo da sua conta e soluções que precisam contratar.
Inicialmente as fintechs que queiram se adequar ao Open Finance, precisarão aderir e adequar a serem Iniciadores de Pagamentos. Através dessa prática, em seu próprio arranjo o cliente não somente transacionará sua própria conta e contratará serviços, mas também poderá cotar e contratar de outros bancos pelo próprio aplicativo sem sair de lá.
A grande tendencia para os Bancos, será oferecer o serviço de Iniciador de Pagamento “as a service”, além das fintechs contratarem melhores ferramentas de Core Bancário ou investirem ainda mais em suas próprias. Aqui a oferta é pequena e a demanda será grande.
5. Sobrevivendo as mudanças do Bacen
Ok, foi forte falar em “sobreviver” ao Bacen.
O órgão vem sendo pressionado por mudanças que possam equilibrar as partes interessadas e pouco impactar o cliente na ponta.
Ter um time ou membros do time dedicados a assuntos do Bacen, tanto para o report, quanto a representa-los no Bacen, é um empoderamento mais do que necessário. Engana-se que é papel somente do jurídico, mas também comercial, tecnologia, produtos, operações, entre outros.
Com as mudanças de forma recorrente, estar atento a elas e adaptá-las, inclusive alterando o roadmap de outras soluções, exige sangue frio e trabalho em equipe.
O recado é: esteja atento, tenha bons assessores
6. Experiência do Cliente e Atendimento
Não é bem uma tendencia, certo?
Investir em uma melhor jornada e experiencia do cliente é um catalisador do negócio. Por mais que a ideia e os produtos oferecidos sejam muito interessantes, se não conseguir levar em uma melhor jornada, nada adiantará.
Além disso, a experiência vai do início ao final da jornada. O atendimento, seja na interação humana (via telefone) ou virtual (via URA, Whatsapp, etc), precisa ser simples, objetiva e que sem resistência consigam resolver problemas e/ou contratar novos serviços.
7. Ofertas segmentada para nichos e públicos
“Quer nadar com Tubarões? Não sangre!”
Ouvi a frase em uma reunião recentemente e faz o link não somente com essa tendencia, mas também com toda a estratégia que um novo player quer levar para o mercado e saber que vai sim concorrer com os Bancos mais tradicionais e consolidados.
Veremos cada vez mais Contas Digitais segmentadas e atendendo nichos e públicos específicos, seja para a PF e/ou para o PJ. Exemplos como o ITI, do Itaú, um banco digital para um publico mais jovem, demonstrou que uma boa parte dessa base não tinha nenhuma relação com o próprio banco, mas optou por se relacionar com o ITI.
Outros para PF, temos o Banco do Caminhoneiro (entre algumas gestoras de fretes que expandiram seus negócios), o Banco da Comunidade Negra para trazer atendimento, benefícios e acesso a crédito de forma única. Para o PJ, o Ifood junto a Zoop, com a concepção do Banco do Restaurante e até mesmo a Cora, para o PME que possui diversas dificuldades e burocracias para abrir sua conta corrente.
O que eu chamo de “intrabanks” também são relevantes. Essa estratégia não é tão publica e aberta e são grandes geradores de negócios para ecossistemas e “facilitam” o trabalho das áreas financeiras e tesouraria. Os “intrabanks” oferecem soluções desde crédito a diferentes formatos de pagamentos de duplicatas, seja para o recebimento ou a cobrança, com uma gestão facilitada. Aqui o publico varia desde grandes indústrias até redes atacadistas.
Um grande exemplo, em tese, é a Donus, da Ambev, que se comunica com o lojista na ponta, oferecendo do terminal de pagamento, a formas de liquidações diferenciadas, conta corrente e o crédito, e também são soluções para os revendedores e distribuidores.
8. Monetização dos dados
Ok, desenvolvo e coloco para rodar um banco digital, tenho um ótimo atendimento, UX, CX, entre outros pontos, mas... e os dados?
O volume de informações que giram nessas contas é imenso. Portanto, ter pessoas e sistemas para fazer gestão desses dados, facilita e muito a tomada de decisão, estratégia de implantação de serviços e até mesmo antecipa possíveis tendencias.
De uma maneira segura, íntegra e em conformidade com LGPD, monetizar essas informações geradas, seja pelo hábito de consumo ou os locais que consomem, por exemplo, tem um link com o próximo tópico (Parcerias Estratégicas). O que posso oferecer ao meu público? O que é realmente relevante para ele? Quem são as personas? Será que um programa de afiliados, cashback e/ou pontos? Como eu interajo com meu público e conquisto a interação dele com meu serviço?
Monetizar os dados não significa vender esses dados e sim criar significado para o que você gera.
9. Parcerias relevantes
A concepção de negócios do Banco Digital, deve levar em consideração logo no planejamento quem e quais são as empresas que se correlacionam e ao entrar em parceria eleva a experiência ao meu usuário e/ou geram investimentos e um maior retorno financeiro também.
O grande sonho dos Bancos Digitais em Early stage é se relacionar com a Amazon, Oracle, entre outras Big Techs, além de ter os melhores fornecedores de serviços bancários no BaaS, como Itaú, BTG, BV, Original, entre outros. Isso cria relevância e ao se conectar nesses bancos e techs, significa que você passou no crivo de relacionamento e não é “qualquer um”.
As Parcerias Estratégicas não são exatamente tendencias também, certo? Mas cada vez mais teremos um cenário restrito de operações no mercado e as relações precisam ser pensadas e planejadas para não gerar confusão no mercado.
10. Fusões e Aquisições
Com o mercado se restringindo e ao mesmo tempo demandando, nos próximos dias/meses/anos teremos grandes fusões e aquisições, algumas delas estratégias que partem exatamente do que falei no tópico anterior.
Veremos ainda mais Bancos adquirindo Plataformas/Facilitadores/Enablers, como foi o caso do Bradesco em set/20 com a Dindin, que resultou em uma maior participação e ações geradas no Bitz (aliás, golaço da Sthefany Fleury e todo time, sou fã!). E ate mesmo Fintechs investindo e incorporando outras fintechs ou Bancos, destaque aqui para o Ebanx que em 2021 oficializou incorporar o Banco Topázio e no final daquele ano, a Remessa Online.
A restrição se deve ao fato de grandes empresas querem se adequar ao movimento de fintechrizar suas operações ou ainda preencher gaps incorporando outras empresas, ou ate mesmo investindo em outras fintechs, como Venture Builder, com intuito de no futuro colher frutos, ou investindo nelas para diminuição de despesas diretas.
11. Mercado restrito = Menos players
Chegamos ao fim, exatamente pelo fim que alguns Bancos Digitais, Plataformas/Enablers e demais da cadeia de negócios podem chegar, infelizmente.
Como tudo no mercado e no mundo de negócios são feitos de ciclos, alguns se encerram.
Acompanhei, como disse na introdução, diversas subadquirentes que não sobreviveram nem a 1 ano de operações e por não estarem atentas as tendencias, não se adequarem as mudanças, não tinham estratégias claras e muito menos proposta valor, por mais que as ideias e propósitos sejam relativamente bons.
Menos players podem vir pelas Fusões como mencionei no tópico passado, mas também pelo fechamento das mais variadas empresas da cadeia de BaaS. E isto já é uma realidade enquanto estou fazendo este artigo, exatamente pelos mesmos motivos das tantas subadquirentes de maquininha que existiam há alguns anos. Recentemente o BS2 divulgou que não operará mais para o PF, passando a fechar as contas e oferecer a solução do Next, por exemplo.
Veremos as cenas dos próximos capítulos e que não sejam traumáticas.
Essas foram as minhas percepções, um tanto quanto longa, mas que me deixa feliz de compartilhar.
Se você chegou até aqui e tem dúvidas ou pontos a acrescentar, me escrevam! Será um prazer dialogar com vocês, tomar um café/chopp falando do tema.
Uma coisa é certa: em 2023 as percepções serão totalmente outras.
Este artigo foi escrito por Victor Duek e publicado originalmente em Prensa.li.