The Batman - Uma história de detetive em Gotham
Imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Review sem spoilers.
A DC costuma ter problemas com o uso de suas propriedades intelectuais no cinema. Geralmente causados justamente pelas péssimas decisões dos executivos da Warner. Para nossa sorte, The Batman conseguiu driblar isso e fazer algo realmente novo.
The Batman nos traz mais uma vez as aventuras do homem-morcego lutando contra os bandidos na cidade de Gotham. Com menos acessórios e mais das habilidades dedutivas que renderam-lhe a alcunha de maior detetive do mundo, esse filme poderia fazer da trilogia do Nolan, sendo tão realista quanto possível.
E para um Batman sem poderes e sem a aura sobre-humana que costuma lhe ser atribuída, nada mais apropriado que um vilão estritamente humano, sem nada de especial, místico, ultratecnológico ou atlético. O Charada desse filme poderia ser um serial killer presente nos podcasts de true crime, quase como um Dexter que resolveu ir atrás de corruptos ao invés de assassinos acreditando ser a forma de melhorar Gotham.
Atuações morcegônicas
Inicialmente, seria o próprio Ben Affleck quem dirigiria e estrelaria The Batman, porém ele saiu do projeto muito antes das filmagens serem agendadas. Dito isso, é realmente bom ver Robert Pattinson sumir quase que por completo sob o manto do morcego. Sua atuação é simples, crua e muito adequada ao papel.
Esse Batman tá pokas ideia. Acho que se fosse mudo o filme aconteceria igual. (imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures)
Outras propostas poderiam exigir um Bruce Wayne mais desenvolto, só que o Batman roteirizado, produzido e dirigido por Matt Reeves não tem qualquer intenção de existir como o herdeiro milionário. Sua razão de viver é única e exclusivamente combater o crime como forma de vingança pessoal.
A única piada no soturno filme acaba sendo a metalinguagem de Pattinson, seu protagonista, ter ficado mundialmente famoso ao interpretar o papel de um vampiro na franquia Crepúsculo. O importante é que sua atuação está no lugar certo, e o queixo marcado, também.
Jeffrey Wright (conhecido pela série Westworld) fez um bom trabalho no papel de Jim Gordon antes de ser o comissário de polícia, especialmente ao demonstrar certa surpresa com a revelação de que até mesmo figuras públicas nas quais ele confia são corruptas.
Não fazemos ideia do que motiva sua fé no Batman, mas é certo que o futuro comissário acredita que o vigilante mascarado faz bem à cidade. Quanto as reclamações por um homem negro atuar como Gordon, são tão vazias quanto a cabeça de quem as faz. Jeffrey fez bom uso de seu tempo de tela sendo um exemplo de policial honesto e dedicado a fazer um bom trabalho.
Por falar em representatividade, Zoë Kravitz interpretou uma Mulher Gato quase justiceira, dentro do escopo da personagem, mesmo que ignorando seu lado vilanesco e a colocando como uma espécie de sidekick involuntária do morcegão.
A filha do cantor Lenny Kravitz interpretou muito bem o papel. Dadas algumas entrevistas que concedeu, parece não ter lido histórias da Mulher Gato como parte do laboratório para interpretar a personagem. Ainda assim, o roteiro de The Batman a coloca próxima da Mulher Gato vista na graphic novel Ano Um, menos focada em roubos grandiosos e mais preocupada em cuidar de sua companheira.
Criminosos, políticos e vigilantes góticos
O plano de fundo da história é um conflito entre mafiosos e figuras públicas pelos lucros com a venda de uma nova droga chamada “gota”. Falcone, Pinguim e Maroni (nomes conhecidos por quem acompanha os quadrinhos do Batman) estão tão envolvidos nisso quanto notórios servidores públicos da cidade de Gotham.
Em meio a todo esse cenário, com a criminalidade ainda mais alta agora do que quando o Batman surgiu, o conhecido vilão Charada resolve agir. No passado, ele foi interpretado pelo comediante Jim Carrey e agora tem uma excelente cara de maluco feita por Paul Dano — ator cujo rosto ficou marcado em filmes como Pequena Miss Sunshine e Um Show de Vizinha — aqui tem a chance de sair do papel de “esquisito” e ser um vilão, e dos bons.
Essa imagem dele com o rosto todo coberto é só para não assustar ninguém com as expressões faciais sinistras que esse psicopata de feições arredondadas faz durante o filme. (imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures)
Tudo começa com o Charada assassinando uma figura pública que acredita estar ligada a um esquema sujo. A partir daí é ele quem dita o ritmo com suas pistas, recados e vítimas. Se já é complicado acertar em um filme de super-heróis onde o protagonista não tem poderes, imagine um onde o vilão não conta com nada além da própria inteligência. Não sei como isso deu certo, o importante é que deu.
Entre cenas de luta em boates e cenas com mais balas disparadas que nos filmes do Rambo, The Batman chegou como uma abordagem muito diferente das já realizadas no cinema. Certamente vale a pena assistir, mesmo que (ou especialmente se) você não for muito fã dos filmes da DC.
O novo filme do Batman chegou aos cinemas brasileiros no dia 1º de março e já tem data para chegar ao catálogo da HBO Max, 17 de abril.
Este artigo foi escrito por Gustavo Borges e publicado originalmente em Prensa.li.