Tokenização faz sentido para pequenos negócios? Parte II: o processo de tokenização.
Imagem - Team Guerreras
Este texto é o segundo de uma trilogia sobre tokenização no contexto de pequenos negócios.
No primeiro exploramos a pergunta sobre se a tokenização faz sentido para pequenos empreendimentos, agora vamos conhecer o básico sobre o processo de tokenização.
Tal processo pode ser iniciado e finalizado de várias formas, o que trazemos aqui é um conjunto de precauções e indicações para que ele ocorra da maneira mais segura.
A primeira decisão é sobre qual ativo vai ser tokenizado, este processo deve ser observado de duas perspectivas diferentes.
A primeira é a perspectiva do seu negócio atual e seus consumidores atuais, a segunda é na perspectiva do novo público que você deseja acessar. Na primeira perspectiva você deverá prosseguir de maneira que seja mais fácil para o seu cliente atual acessar seu produto. Neste caso, a tokenização deverá ser uma alternativa, não uma obrigação. Lembre-se que nem todo mundo vai querer aderir a esta tendência.
Na segunda, você estará levando seu produto até um novo público, então antes de tokenizar deve saber quais ferramentas esse novo público já utiliza.
O programador Matthew Vernon, por exemplo, é um especialista em projetos relacionados à tecnologia Blockchain, então ele tokenizou suas horas de serviço.
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Parte das pessoas e empresas que vão contratá-lo já têm, ou estão passando a ter, familiaridade com o ambiente blockchain, então poder contratar serviços usando essa tecnologia é interessante para elas.
Lembre-se que o token é um atestado de direito e geralmente traz consigo a ideia de oportunidade de participar da propriedade de algo de valor.
Então, para vender seu token, você precisa vincular a compra dele no momento da emissão a uma oportunidade única de acesso a um valor que estará cada vez mais escasso. Lembre-se que o Bitcoin, por exemplo, é um token cuja escassez elevou gradativamente seu valor para cerca de 342mil reais.
Outra forma de valor atrelada à tokenização diz respeito à oportunidade de participar em um grande feito coletivo. Um bom exemplo disso é o ConstituitionDAO, cuja ideia surgiu quando a Sotherbys passou a aceitar Ethereum como forma de pagamento.
Um grupo de pessoas lançou um token que tinha como objetivo reunir recursos para fazer um lance no leilão de um original da constituição dos EUA.
Ao adquirir o Token o recurso gasto na aquisição era convertido em Ethereum e alocado em um contrato inteligente que faria o lance.
Enquanto o comprador do token iria se tornar proprietário de um pedaço do exemplar da constituição. O item físico seria repassado a um museu para acesso público. Tudo isso estava pré-definido no contrato inteligente do token.
O token foi um sucesso arrecadando cerca de 50 milhões de dólares, porém não foi suficiente para cobrir o maior lance.
Hoje quem adquiriu o token pode receber de volta os recursos alocados. Além de mostrar um exemplo de um grande feito coletivo, este exemplo nos mostra que é possível tokenizar uma simples ideia ou intenção.
Independente do que você vai tokenizar, é adequado que você descreva o token pelo seu valor atual e futuro. O valor atual é o que vai justificar o preço do token e o futuro é o que vai atrair pessoas a comprá-lo.
É comum dividir as coisas que podem ser tokenizadas entre produtos, serviços e projetos. Os produtos provavelmente vão carregar o valor atual de seu próprio valor de mercado mais o valor futuro da sua escassez.
Os serviços carregam o valor atual da hora de trabalho, mais os bônus e benefícios de quem comprar o token. Já os projetos tem valor atrelado ao seu valor futuro, seja de mercado, seja de escassez, seja de privilégios ao proprietário.
Escolhendo uma rede blockchain
A escolha de uma rede blockchain diz respeito a três aspectos: custos, acessibilidade e funcionalidade.
Para calcular os custos totais você deverá levar em conta não apenas a taxa de rede, mas também a taxa do protocolo de segunda camada, caso vá usar um.
A acessibilidade é um tanto quanto mais complexa de ser calculada, afinal de contas, se você chegou até aqui é porque já entende conceitos básicos sobre a tecnologia Blockchain. Logo, a facilidade que você tem para compreender e utilizar as ferramentas pode não ser compartilhada entre seus clientes. Duas dicas para resolver isso:
Busque exemplos de outros pequenos empreendimentos na sua área de atuação que estão tokenizados e veja como é realizado o acesso.
Escolha um pequeno grupo de clientes e teste com eles.
O terceiro aspecto, a funcionalidade, diz respeito ao conjunto de ferramentas que você terá acesso ao decidir por uma rede específica. Aqui vão alguns exemplos:
Na rede Bitcoin, você terá a vantagem de estar na rede cujo token exerce dominância sobre o mercado cripto como um todo. Ou seja, há bastante gente e dinheiro circulando.
A desvantagem é que a dominância desta rede tem diminuído gradativamente ao longo dos anos.
Já na rede Ethereum você estará no berço das Finanças Descentralizadas, a rede com o maior número de soluções de segunda camada.
Por outro lado, caso queira acessar a primeira camada da rede os custos de rede são altos e costumam afastar consumidores.
Embora os custos da rede sejam bastante altos, você poderá recorrer às soluções de segunda camada para obter preços mais acessíveis.
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Na rede Binance você terá acesso a uma rede completamente funcional, em um ambiente controlado e com custos baixos. Porém, a BNB não é uma rede descentralizada, ela possui donos e pessoas cujo interesse define o desenvolvimento da rede.
Então se chegar o momento em que haja a escolha entre satisfazer o interesse dos donos vs satisfazer o interesse dos usuários, você não poderá reclamar se optarem pelo primeiro.
Você pode também fazer sua própria rede blockchain, devemos lembrar que tudo produzido no ambiente blockchain é open source, então você poderá consultar os modelos já existentes.
No entanto, fazer sua própria rede pode ser um passo que você queira tomar apenas após conhecer as redes existentes e a tecnologia como um todo.
Se preparando pra dar o start no processo
Agora que você já entende quais questões devem ser compreendidas antes de dar início ao processo de tokenização, podemos partir pra compreensão de como ele se dá.
O primeiro passo da preparação, após ter escolhido o que você vai tokenizar e a rede a ser utilizada é reunir todas informações que considerar relevantes para definir o seu token.
Essas informações são de três classes, a primeira referente ao seu produto-serviço-projeto a ser tokenizado, aqui valem todas informações que você considera importantes, mais as informações legais que garantem o seu direito de tokenizar o item.
A segunda classe de informações diz sobre o seu token, aqui você vai descrever todo o caminho desde sua decisão até o lançamento do token e o que você pretende fazer após isso.
Este processo será consolidado em um roadmap que será público, então muito cuidado com as expectativas que você criar.
A terceira classe diz sobre o que podemos chamar de engenharia monetária do seu token, aqui você vai descrever todos benefícios para quem comprar o token e como você pretende garantir eles.
Com todas essas informações você estará preparado para iniciar o processo de tokenização. Lembre-se que isso não é um tutorial, é um conjunto de cuidados para você ficar atento.
No terceiro, e último, texto desta trilogia apresento alguns casos disruptivos de tokenização para expandir nossos horizontes sobre o tema.
Este artigo foi escrito por Dr. Marcelo A. Silva e publicado originalmente em Prensa.li.