Tokenização faz sentido para pequenos negócios? Parte III: WEB3, Tokenização e DAOS
Chegamos, por fim, ao terceiro texto da trilogia sobre tokenização para pequenos negócios. Agora vamos conhecer três exemplos de tokenização para expandir o nosso horizonte de possibilidades sobre este tema.
Falaremos sobre a tokenização de três coisas: dados de navegação, créditos de carbono neutro e da própria interação social. Porém antes de concluir nossa percepção sobre tokenização, é importante entender o contexto onde esta tendência avança.
WEB3 é o termo utilizado para se referir à tendência de descentralização do poder de decisão e da propriedade dos recursos que definem a internet. Mais especificamente, o termo faz referência à interação entre usuários e aplicações descentralizadas baseadas em tecnologia blockchain, os famosos DApps.
As unidades que transferem o valor entre os vários DApps da web3 são os tokens, que podem ser fungíveis (como no caso do BTC, ETH e BNB) ou não fungíveis, como no caso das Bored Apes e demais NFTs.
Um bom exemplo de DApp é a Uniswap, uma corretora descentralizada que te permite fazer operações com tokens emitidos pelas principais redes blockchain.
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A movimentação dos valores pode ser realizada mediante ferramentas centralizadas como o caso da corretora Binance, ou descentralizadas como é o caso da Metamask que pode ser integrada ao próprio navegador para que você pague ou receba tokens do próprio website que está acessando.
Um exemplo típico da Web3 é o navegador Brave. Nele a descentralização começa pela propriedade que você tem sobre seus dados de navegação.
Diferente da maioria dos navegadores que capturam seus dados para vender para grandes empresas de marketing, no Brave os seus dados geram dinheiro para você mesmo.
Isso mesmo, à medida que você navega utilizando o Brave, a captura dos seus dados (com sua autorização) é realizada e o montante de dados é convertido em um valor que é tokenizado e depositado em sua Crypto Wallet.
“ - Pera, deixa eu ver se entendi, eu uso o navegador e ganho dinheiro pra isso? Como? De onde vem esse dinheiro?”
Assim como todos navegadores, o Brave captura seus dados de navegação, com a diferença que nele você tem mais autonomia pra decidir quais dados são capturados. Esses dados são utilizados para direcionar conteúdo de anunciantes diretamente para você.
E isso tudo naturalmente gera dinheiro, só que no Brave ao invés desse dinheiro ficar 100% entre o navegador e os anunciantes, você usuário participa da divisão desse bolo.
Esse é um exemplo que mostra o quão profundamente a Web3 e a tokenização podem alterar nossa relação com bens e serviços online.
Imagino que o leitor tenha gostado da ideia de ganhar dinheiro enquanto lê notícias, assistir vídeos e navegar na internet no geral. Porém, vamos partir pra outro exemplo, ainda mais interessante.
O mercado de compensação de carbono é um ótimo exemplo de como a web3 e a tokenização podem acabar com uma velha rusga entre lucro x planeta.
Como funciona hoje?
O mercado de carbono foi viabilizado a partir dos acordos internacionais para reduzir a emissão de carbono na atmosfera. Tais acordos fazem com que os países passem a introduzir a redução da emissão em suas leis e como pré-requisito dos programas de incentivo para industria.
Na prática isso significa que as empresas terão limites de quanto carbono podem lançar na atmosfera e caso ultrapassem esses limites elas serão obrigadas a comprar créditos de carbono para compensar essa emissão.
Quem produz tais créditos são instituições e proprietários de terra que não lançam carbono na atmosfera. Você por exemplo, caso não seja proprietário ou sócio em uma indústria que lança carbono na atmosfera, é um emissor de crédito de carbono.
Quer dizer que você produz algo de valor ao não poluir o ar? Sim, produz.
Atualmente, para investir nesse mercado você precisa se expor ao mercado financeiro e adquirir títulos de fundos que investem nesse mercado. Ou seja, você não consegue comprar créditos de carbono, apenas títulos de propriedade de fundos que os comercializam no mercado europeu ou americano.
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Isso significa uma compra casada, pois para se expor ao mercado você necessariamente tem que se expor à competência dos gestores dos fundos. Nada contra, mas é bom ter opções.
Em protocolos web3 como Toucan, Regen Network você consegue negociar créditos de carbono tokenizados e lançados no mercado global.
Ou seja, você pode tokenizar os créditos de carbono emitidos ao não lançar carbono na atmosfera e comercializá-los em mercados blockchain.
Devemos lembrar que créditos de carbono são um ativo que tende à escassez, um ativo cada vez mais caro cujo preço mais que dobrou de valor nos últimos anos.
Desta forma, um mercado global tende a tornar esse preço cada vez mais alto até chegar o ponto onde poluir será mais caro que não poluir.
Isso pode inverter a tendência global de emissões e equilibrar o clima no planeta, e gerar alguns trilhões de reais no processo. Interessante, não?
Esse segundo exemplo nos mostra que a tokenização pode transformar a realização de uma responsabilidade geracional em uma oportunidade de lucro.
O terceiro exemplo de tokenização nos permitirá pular de cabeça no buraco do coelho, do NFT de coelho.
DAOs
As DAOS são Organizações Autônomas Descentralizadas, na prática significa uma nova forma institucional de cooperação baseada em automação e descentralização das decisões.
De forma mais simples: uma forma de organizar pessoas sem a imposição de uma hierarquia e com regras (relativas a premiações, punições, pagamentos, cobranças, etc) aplicadas de forma automatizada através de contratos inteligentes.
Contexto: muitas pessoas no interior da comunidade blockchain estavam cansadas das hierarquias típicas do mercado tradicional, não cansados de sua posição subalterna, mas cansados do sistema de hierarquia como um todo.
Daí algumas dessas pessoas começaram a experimentar modelos de cooperação e consenso baseados em contratos inteligentes registrados em redes blockchain.
O amadurecimento destes experimentos deu lugar ao surgimento das dezenas (centenas) de DAOs que surgiram desde o ano passado para este.
Eu poderia apresentar vários argumentos aqui falando o quanto as DAOs são ótimas formas de organização, mas sou parte interessada, uma vez que esse próprio que vos escreve está contribuindo na construção da ReFiDAO (uma DAO voltada para o tema das Finanças Regenerativas).
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Ou seja, tenho que me abster do julgamento e deixar o leitor descobrir por conta própria. O que o exemplo das DAOs nos expõe é que até a sociabilidade humana pode ser tokenizada. Pra que fazer isso? Para o que você quiser.
Porém, na maior parte das vezes, isso serve para reduzir o estresse da gestão do poder e da autoridade em uma organização, e facilitar a produção de consenso.
Porém nosso objetivo aqui não são as DAOS, nem o mercado de carbono, nem a web3, nosso objetivo é o pequeno empreendedor e a tokenização do seu negócio.
Os exemplos que trouxemos servem apenas para ampliar o horizonte do pequeno empreendedor em relação às possibilidades da tokenização e em relação à emergência da tokenização no que diz respeito ao público das gerações mais jovens.
Você pode tokenizar seu produto, seu não-produto, seu serviço, seu público, seu futuro, seu passado e mais o que você puder imaginar, porém lembre-se: O risco é o futuro do seu negócio, então antes de se aventurar é bom ter cautela.
Espero que tenha tirado um bom proveito dessa sequência de textos!
Este artigo foi escrito por Dr. Marcelo A. Silva e publicado originalmente em Prensa.li.