TOP 10 FILMES de 2021
CHEGA DE 2021!
A parte II de 2020 demorou para terminar. Já estamos ansiosos para um ano que traga renovação e uma população mundial plenamente vacinada.
E apesar do vigésimo primeiro ano do novo milênio ter torrado a paciência do ser humano médio, também trouxe uma safra deliciosa de filmes para todos os gostos.
Teve fantasia, teve super-herói, teve dramalhão, teve musical, teve horror bizarro.
Primeiro, algumas menções honrosas, sem ordem definida:
MALIGNO, CENSOR e CANDYMAN
Divulgação - via IMDB
Três filmes de horror com ideias, conceitos, orçamentos e intenções completamente diferentes.
O britânico Censor é um filme sobre filmes, sobre o impacto que o cinema gore pode ter e como a sociedade leva o conservadorismo ao extremo quando teme algo. É também um filme sobre loucura e o uso da violência como resposta.
Tanto este quanto Candyman querem dizer algo sobre os medos profundos que temos do “outro”. Embora Candyman foque bem mais no aspecto da divisão racial, e como as lendas diferentes que são criadas traduzem horrores muito próximos.
Maligno é um filme tão maluco que quando o conceito “do que está acontecendo” de fato aparece, é meio difícil de acreditar. Mas o filme abraça a própria ideia com tanto prazer, e tem uma missão de evangelizar a todos para a igreja giallo, que é impossível não se divertir.
HOMEM ARANHA - SEM VOLTA PARA CASA
Divulgação - via IMDB
A essa altura, você já ouviu tudo o que dava para ouvir sobre este filme.
Cheio de surpresas (embora o hype não prepare o espectador para as surpresas de verdade), o filme é um “produtão da Marvel”, com exatamente tudo o que a audiência poderia querer. Chegou a bater mais de meio bilhão de dólares na bilheteria mundial no final de semana de estreia.
São números que assustam muito, e geram discussões que vão muito além do carisma de Tom Holland ou o quanto Willem DaFoe está se divertindo no filme. Lembraremos muito mais do marco do que do filme em si, mas esta é a sina dos fenômenos do século XXI.
A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS
Divulgação - via IMDB
A animação mais charmosa, expressiva e divertida do ano é também a mais corajosa.
Finalmente um personagem LGBTQIA+ que simplesmente existe, não está lá para ser panfletário ou para ser um tipo de “olha só como somos modernos”.
A protagonista Katie é a nerd pária que não se encaixa em nenhum rótulo, e lidera uma resistência contra “produtos Apple desgovernados”. Uma carta de amor à diversidade não só de “gente diferente na tela”, mas na diversidade interna de famílias disfuncionais.
E é muito engraçado também.
E agora, o top 10.
10. SEM TEMPO PARA MORRER - Cary Joji Fukanaga
Divulgação - via IMDB
Uma despedida merecidíssima do James Bond mais transformador de todos.
A série que mais precisava de updates em suas engrenagens - quer seja na política global, quer seja na agressiva misoginia - encontrou o mundo #metoo e o levante do progressivismo na cultura Pop através dos olhos penetrantes e do carisma-carrancudo de Daniel Craig.
O ator conclui sua saga com muito mais nuance, humor e graça que qualquer predecessor, mostrando porque é um dos caras mais requisitados do ramo. Vamos lembrar que este é o sujeito que fez Entre Facas e Segredos e Logan Lucky.
Depois de quatro filmes, dos quais dois eram de uma qualidade alta demais para a série, a produção chama a estrela em ascensão Cary Fukanaga para o grand finale cheio de momentos sem precedentes para o agente secreto mais famoso do mundo.
9. CRUELLA - Craig GIllespie
Divulgação - via IMDB
De quem raios foi a ideia de chamar o diretor de Eu, Tonya para dirigir uma adaptação de um desenho de 70 anos?
Bem, foi uma ideia muito boa. A energia punk e a trilha de devastação da carreira de Tonya Harding informa muito das escolhas encontradas na mais ousada “refação em carne-e-osso” da Disney.
Emma Stone parece ter nascido para interpretar a personagem, que aqui não é uma psicopata hedonista, mas sim uma brilhante artista que não tem freios ou (muitos) escrúpulos.
Definitivamente, não é o filme que espera quem acabou de ver Aladdin ou A Bela e a Fera.
Duas únicas lamentações: apesar da performance ótima de Emma Thompson, fico imaginando Cate Blanchet naquele papel. E, é claro, mesmo com as inclinações mais produtivas possíveis de Gillespie, muito desse filme pedia a mão de Edgar Wright.
8. PIG - Michael Sarnoski
Divulgação - via IMDB
Tem uma lenda esquisita que corre por aí, dizendo que “Nicholas Cage é um ator ruim”. Alguém precisa fazer algum artigo (aqui na Prensa, quem sabe!) explicando que Nicholas Cage é um gênio. Um gênio com dívidas, o que explica a sucessão de filmes terríveis dos quais fez parte.
Mas isso trouxe Cage mais próximo do cinema experimental o qual ele - por falta de definição melhor - talvez nunca deveria ter deixado. Quem lembra de Adaptação, ou do recente Mandy? Filmes onde Cage entrega personagens contidos chegando a limites extremos e, às vezes, explodindo.
PIG é a história de um ermitão que só tem uma porca caça-trufas como amizade. Essa porca é raptada, e ele vai recuperá-la, custe o que custar.
Mas ao invés de ir pela via John Wick, o personagem de Cage machuca seus interlocutores com uma profunda percepção. Ele é capaz de olhar na alma de seus adversários, e o faz através de linguagens distintas e muito inesperadas.
PIG é um filme humano sobre criatividade, comida, amizade e solidão. E Nicholas Cage continua um gênio. Esperamos que com menos dívidas.
7. AMOR, SUBLIME AMOR - Steven Spielberg
Divulgação - via IMDB
O que que acontece com esses diretores que, com mais de 70 anos, ainda estão dando voltas ao redor da concorrência? Scorcese, George Miller, Ridley Scott, gente da “velha guarda” que ainda lança filmes extraordinários.
Steven Spielberg não fica para trás.
Ele diz que sonha em refilmar o clássico Amor Sublime Amor há décadas. E no ano da pandemia, consegue lançar um filme tecnicamente impecável, com um elenco afiado (incluindo uma das estrelas do filme original, Rita Moreno), cheio de dança, música, amor e ódio.
A câmera do Spielberg precisa ser estudada. O que esse sujeito faz com enquadramento e movimento é inigualável. Com Spielberg, até filme ruim é bom. E este definitivamente não é um destes casos.
6. DUNA - Denis Villeneuve
Divulgação
Dennis Villeneuve se tornou o queridinho dos fãs de Sci-Fi logo depois de seu extraordinário A Chegada e do divisivo Blade Runner 2049. Mas sempre teve desejos muito mais ambiciosos.
Adaptar aquilo que nunca tinha sido bem adaptado é sempre arriscado (Peter Jackson quem o diga!). E sendo Duna um dos marcos mais importantes do gênero de ficção científica, a responsabilidade pesava nos ombros do canadense.
Mas ele matou no peito e chamou uma coleção sensacional de talentos para a frente (e para trás) das câmeras.
Criou um filme de proporções imensas, místico e eloquente, que pula um monte de explicações desnecessárias para entregar uma aventura bem mais focada que aquela outra adaptação.
É, discutivelmente, o maior filme do ano. E também aquele com mais potencial de charme, dada a fama do elenco.
A continuação, já anunciada, é provavelmente onde a história vai realmente chamar mais atenção.
5. THE SPARKS BROTHERS - Edgar Wright
Reprodução - Paul McCartney
O primeiro filme de Edgar Wright nesta lista é um documentário musical sobre a vida e a carreira de Ron e Russell Mael, dois irmãos que compõem os vocais e teclados de uma banda de poprock americana chamada Sparks.
E praticamente ninguém ouviu falar deles.
Formada em 1970, a banda manteve-se à frente de quase todas as ondas pioneiras da transformação musical. A dupla nunca se conformou em fazer “mais do mesmo”, sempre esbanjando alta irreverência, reinventando sua sonoridade a cada passo.
A quantidade de participações especiais no filme é o testemunho de como essa banda da qual ninguém ouviu falar influenciou praticamente tudo da música pop do final do século XX.
Uma viagem hilária e um poema visual sobre criatividade e amor pela música. Com o “bônus” de ter Edgar Wright testando o tipo de linguagem que não poderia usar em filmes mais tradicionais. Tem até stop motion nisso aqui!
4. INSIDE - Bo Burnham
Divulgação - via IMDB
O comediante Bo Burnham é conhecido por trazer música, luz e angústia millenial a seus especiais.
Decidiu então usar a pandemia como desculpa para experimentar algo diferente: se trancou em seu estúdio por um ano para escrever, planejar, filmar e editar, praticamente sozinho, um especial musical de comédia. O resultado é, discutivelmente, o filme que melhor representa a nossa era atual.
Talvez com um toque de habilidades proféticas, Burnham decidiu não abordar o assunto mais quente do momento - a pandemia em si - mas foca em algo muito mais perene, a sociedade online e como ela nos afeta. É o mesmo tema do primeiro longa-metragem narrativo que dirigiu, o brilhante Oitava Série.
Em Inside, no entanto, ele não segue uma linha narrativa. Prefere criar esquetes musicais, sempre acompanhadas por efeitos de luz surpreendentes e uma crítica à nossa dependência da internet que deprime ao mesmo tempo que nos faz rachar a cabeça de rir.
A tese de Burnham é que, mesmo que a Internet seja capaz de nos fazer sobreviver a uma quarentena interminável, ela é um portal ao inferno de nós mesmos. E ele atinge o alvo com tanta força que é difícil ignorar um “filme” como esses.
3. NOITE PASSADA EM SOHO - Edgar Wright
Divulgação - via IMDB
Edgar Wright, né, fazer o quê?!
Mesmo antes de terminar sua excelente Trilogia Cornetto, Wright já começara a flertar com gêneros bastante distintos.
Passou por ação, com o ótimo Baby Driver, por super-heróis (ou romance adolescente?) com o seminal Scott Pilgrim Contra o Mundo, e agora vem abordar o Horror com Noite Passada em Soho.
E traz todo o seu baú de truques para uma história sobre memória, abuso, criatividade e nostalgia. Wright parece incapaz de entregar um filme sem um visual arrojado e cuja trilha sonora não seja imediatamente memorável. Algo como um Tarantino um pouquinho mais acessível.
Thomasin McKenzie evolui de seu papel “soco na cara” em Jojo Rabbit para uma expressão de inocência “não tão inocente assim”.
E a Dama do Gambito, Anna Taylor-Joy exerce sua onipresença junto com esse feitiço que faz em todos os seus trabalhos com seus olhos imensos. Só que criando um olhar diferente para cada personagem.
Um filme divertidíssimo, que ainda funciona como uma despedida da eterna Diana Rigg, que faleceu logo após as filmagens. A Bond Girl de A Serviço de Sua Majestade tem um papel incrível e tocante (e aterrorizante) aqui, sem o qual não haveria filme.
2. A CRÔNICA FRANCESA - Wes Anderson
Divulgação - via IMDB
Wes Anderson cria uma homenagem a uma das profissões menos glamurosas e mais necessárias dos últimos tempos, o jornalismo.
Reprisando o estilo “Boneca Russa”, de histórias dentro de histórias, que trouxe tanto charme ao espetacular O Grande Hotel Budapeste, aqui Anderson está interessado no dia a dia de uma publicação jornalística independente.
Uma revista sobre acontecimentos diários de uma cidade fictícia no meio da Europa, com mais aventura e emoção do que se poderia imaginar.
São três pequenos contos, que seguem os acontecimentos inspiradores de três artigos da revista, assim como seus autores. São histórias sobre amor, descoberta, solidão, criatividade e a necessidade constante de se comunicar.
De muito longe, é o elenco mais absurdo do ano. Além de contar com veteranos da trupe de Wes Anderson, como Willem DaFoe, Bill Murray, Mathieu Almaric, Luke Wilson, Tilda Swinton, Frances McDormand e Adrien Brody, ainda traz Jeffrey Wright, Benício Del Toro, Timothée Chalamet e muito mais gente.
É um filme para assistir de mente aberta e coração entregue.
1. O CAVALEIRO VERDE - David Lowery
Divulgação - via IMDB
A fantasia é um gênero muito complicado.
Ao mesmo tempo em que tem o potencial de trazer exércitos ao cinema, procurando escapismo e diversão total, ela também é capaz de explorar os calabouços da alma. Muitas vezes, explora questões através de poesia visual, ou através de horror extremo.
O Cavaleiro Verde é baseado em um poema medieval que conta a história de Sir Gawain, cavaleiro da Távola Redonda, desafiado por um sujeito de armadura verde. David Lowery pega o poema original (que é bem divertido por si) e cria uma fábula sobre o medo e o tempo. E o medo do tempo.
O mundo criado aqui é um de fantasia sutil, mas cheia de mágica e mistério. Há muita tragédia e pesar no ar, em especial na voz quebrada do rei Arthur de Sean Harris.
Lowery insere jovialidade, sensualidade e carisma através do protagonista, Dev Patel, aqui um jovem cavaleiro sem freios para o que acha que pode realizar. Atrás de feitos de honra, aceita o desafio de um homem sem entender a extensão do que aquilo virá cobrar.
Uma aventura ponderada, profunda e belíssima, com destaque especial para o papel duplo (?) de Alicia Vikander, e para a presença eterna (?) do sinistro homem-planta, cujo machado há de cantar depois que um ano passar.
E esses foram os melhores filmes do ano.
Mas preciso chamar a atenção para o fato de ainda não ter visto os seguintes títulos, que poderiam entrar na lista:
THE MATRIX RESSURECTIONS | LICORICE PIZZA | ATAQUE DOS CÃES
TITANE | PETIT MAMAN | DRIVE MY CAR | THE WORST PERSON IN THE WORLD
TICK… TICK… BOOM | O BECO DO PESADELO
Um brinde ao cinema de ontem e de amanhã.
Boas Festas!