Topa tudo por dinheiro
Ele estaria disposto a se desfazer de seu brinquedo mais precioso? | Divulgação: SBT
Nos bastidores, o rumor é ouvido há meses. Sílvio Santos teria colocado à venda o SBT, segunda maior rede de televisão do país.
Conhecendo o estilo folclórico de seu proprietário, a história era considerada pouco mais que um boato. E nem seria a primeira vez. Entretanto, a notícia saltou das páginas de fofocas para publicações dedicadas a negociações empresariais de grande porte, caso da revista Istoé Dinheiro, ou o portal Fusões & Aquisições. Também apareceu em sites que cobrem entretenimento com um tantinho a mais de credibilidade, caso do Notícias da TV, do jornalista Daniel Castro.
Todas as fontes consultadas, desde a popular rádio peão até alguns funcionários na Anhanguera que preferiram não se identificar, são unânimes em confirmar: Silvio agora pede um valor fechado, e bastante salgado. Um bilhão de reais. E nem precisa ser em barras de ouro que valem mais do que dinheiro.
Não contavam com minha astúcia!
Nos corredores do CDT ouve-se que alguns grupos empresariais foram contatados. Um destes seria a Televisa, parceira de longa data do SBT, desde os tempos da TVS.
Crédito: Divulgação Televisa Noticieros
Décimo oitavo maior grupo de mídia do mundo (o Grupo Globo é o décimo sétimo), o conglomerado dirigido pela família Azcárraga detém o controle de quatro redes de televisão aberta no México, um sem número de canais independentes e pagos, e mais uma miríade de empresas, a maioria em segmentos de comunicação. Sabe-se que diálogos são mantidos, mas ainda sem conclusão.
Interesse recorrente
Não é de hoje o interesse do Grupo Televisa no mercado brasileiro. Em 1990, fez ofertas ao mesmo Silvio Santos para a aquisição da TV Record de São Paulo, na ocasião pouco mais de uma emissora estadual. Cerca de dois anos mais tarde, demonstrou intenção na compra da TV Manchete. Em ambas ocasiões, as negociações emperraram, sobretudo pela legislação brasileira que impedia que um canal de televisão fosse controlado por sócios estrangeiros.
Os mexicanos da Televisa tentaram uma sociedade com parceiros brasileiros para viabilizar o negócio através de uma joint venture, sem sucesso.
Sem Deus no meio
Em 1990, Silvio Santos preferiu vender a Record à Igreja Universal do Reino de Deus, segundo sua biografia, acreditando que uma igreja evangélica não administraria uma TV de modo a criar concorrência ao SBT. Pela lógica, a Record se tornaria apenas uma igreja eletrônica e definharia até ser vendida novamente. Foi o famoso tiro que saiu pela culatra.
Uma coisa se sabe: Silvio não pretende e não quer vender o SBT a igrejas ou entidades religiosas, já que tem a firme convicção que a televisão deve ser um espaço laico. Repare que é a única rede brasileira de televisão que não exibe conteúdo religioso em sua programação própria.
Clube do Mickey
Outra possibilidade tem até cheiro de notícia velha, pois é público o interesse da Walt Disney Company em adquirir a empresa. Em 2018, ao final de uma parceria bem sucedida na programação do SBT, a empresa do Mickey chegou a propor uma sociedade de 50% na TV.
Crédito: The Walt Disney Company
As partes não chegaram a um acordo, porém muita coisa mudou no mercado desde então. Um canal de TV aberta (onde a Disney pode efetivamente ser dona de 30%, seguindo a legislação atual), gerido por uma empresa “testa de ferro” nacional, garantiria um escoadouro perfeito para as milhares de horas de conteúdo que o grupo dispõe, nos mesmos moldes do que faz nos Estados Unidos com a ABC, de sua propriedade e uma das líderes de audiência.
É importante ressaltar que a Disney detém direitos de inúmeros campeonatos esportivos nacionais e internacionais (até mesmo a milionária Fórmula 1), através de sua operação da ESPN. Ter o SBT como um de seus “braços” poderia ser uma janela massiva para estes campeonatos, além da TV por assinatura e do streaming Star+.
O SBT agregaria dois valores importantes para a Disney: produção de mais conteúdo nacional, do qual a empresa necessita para preencher a grade obrigatória dos canais pagos, e o “plus do plus”, teria sob suas asas todo o poder de fogo do CDT. Oito grandes estúdios com estrutura de produção completa. Para uma empresa que vive de conteúdo, nada mais providencial.
A questão financeira não parece também ser um problema para a empresa norte-americana, pois, ironias à parte, dispõe de um caixa comparável à Caixa Forte do Tio Patinhas.
Rapaaaaz!
Outra vertente apurada diz respeito ao empresário Carlos Ratinho Massa, que não é o Mickey mas também fareja bons negócios. Nos últimos dias, seu nome apareceu com frequência nos radares.
Divulgação SBT
Ratinho não disporia do valor necessário, e buscaria se aliar a empresários para adquirir a rede. Não é demais recordar que ele detém a Rede Massa FM, com abrangência nacional, e todas as afiliadas do SBT no Paraná, com uma estrutura técnica invejável e programação popular. Estas empresas lhe rendem bons dividendos financeiros e principalmente, políticos. E Ratinho pensa grande.
Não tem crise para quem… é amigo dos poderosos
Outra hipótese aventada seriam conversações diretas entre o apresentador e Luciano Hang. Assim como Ratinho, o empresário, dono da rede de lojas Havan, conta com a simpatia do Governo Federal, do próprio Silvio Santos e também do Ministro das Comunicações, Fábio Faria, coincidentemente um dos genros de Silvio.
Hang já manifestou o desejo de controlar uma emissora de TV. O valor ainda parece distante das suas possibilidades, apesar de não termos noção do peso dessa influência política. Entretanto, essa possibilidade soa muito remota.
Aconteceu… virou Manchete?
No rol de possibilidades fantasiosas, um caso curioso. Em outubro de 2021, um misterioso empresário adquiriu em leilão público todo o acervo da extinta TV Manchete, além da marca da antiga emissora.
A TV de Adolpho Bloch pode ganhar uma segunda chance? | Imagem: Observatório da TV
Tentei confirmação com várias fontes sobre esta figura misteriosa, se haveria algum interesse na aquisição de uma rede pronta de TV, mas não obtive nenhuma informação conclusiva. É certo que o patrimônio foi adquirido com intenção de relançar a marca, mas entre o pouco mais de meio milhão investido na aquisição, e o um bilhão pedido por Silvio Santos, há um abismo profundo. Precisam se abrir muito mais que as Portas da Esperança.
Vamos aguardar os próximos capítulos dessa história.
Eu volto.
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.