Trago um conselho dos Mortos
"Você não é daqui não Jessé..."
"Você é de outro mundo..."
"Meu, você não existe..."
Sempre ouvi essas coisas, desde pivete.
Hoje, aos trinta e três, concordo essas sentenças.
Não sou daqui, desse mundo de vocês.
"o mundo
não é feito de rosas, balas não são de açúcar, na terra
do futebol a violência nunca murcha..."
Desejamos a Eternidade porque não aprendemos a lidar com Morte.
Temos medo da Morte porque não aprendemos a Viver.
E enquanto pra quem não sabe Viver a Morte é carrasca, para aqueles que sabem pelo que Viver, ela sempre será companheira.
Pelo quê você está vivendo?...
"...Não aprendi dizer adeus
Mas tenho que aceitar..."
É impossível não ter lágrimas no olhar, principalmente quando são pais enterrando seus filhos.
Não dá.
Muito embora eu saiba que a Energia não morre, apenas se transforma e que noutro espaço-tempo encontrarei meus mortos...
Até Jesus chorou.
Afinal, mesmo não sendo daqui, ainda estamos como humanos, sujeitos as suas emoções terrenas.
Pra quem cresceu no Vale da Sombra da Morte, nem todo falecimento comove.
É fato.
Estamos acostumados com caixões.
Ainda assim, sempre tem alguma que te abala.
E as vezes, você nem conheceu a pessoa...
Trago um conselho dos Mortos.
Aproveite a Vida, não pra juntar cifrões, mas para acumular Momentos, Recordações.
Pois esse é o único modo de ser Eterno, se tornar inesquecível.
Pelos nossos Mortos.
Por todos eles.
Pelos mais de seiscentos mil levados pela pandemia.
Pelos mais de sessenta mil anuais mortos de forma violenta.
Pelas nossos curumins e pelos nossos artistas.
Por aqueles anônimos.
Pelos que nos eram próximos e pelos que eram distantes.
Não aprendi dizer adeus...
Aprendi dizer que "logo mais nóis se tromba..."
Até breve.
JVS
Dentre essas notícias de morte que nos abalam, algumas vezes de pessoas desconhecidas, a do Artista Jaider Esbell, Parente do Povo Macuxi, me deixou particularmente balançado. Não pude conhecê-lo aqui, mas um dia te encontro pra trocar um papo. Você abriu Mentes quando estava aqui, sei que continuará abrindo.
E também uma criança, com a qual pouco convivi, mas que tinha uma presença de espírito singular.
Que os Ancestrais lhes recebam.
Este artigo foi escrito por Jessé Vinicius e publicado originalmente em Prensa.li.