Transformação Digital, você ainda vai ter uma
Transformação Digital está para o futuro próximo como a internet está para o presente. Imagem - Canva Studio - Pexels
Quem viveu a década de 70 certamente se lembra das chamadas na mídia sobre carro a álcool. Toda a publicidade do Proálcool (ao fim deste artigo) era baseada na ideia de que os carros a álcool assumiriam quase a totalidade do mercado de automóveis. Todos ouvíamos “carro a álcool: você ainda vai ter um”. Saltando-se o tempo, tem-se hoje algo semelhante com o conceito de Transformação Digital.
Assim como a publicidade dos carros a álcool há décadas, a mídia atual tem noção de que fala apenas para uma parte do mercado. Claro, uma grande parte, a parte maior e mais consistente. Ainda assim, uma parte.
A parte que vive, consome e respira tecnologia da informação.
O fato é que, de uma ou de outra forma, por um por outro caminho, a Transformação Digital acaba atingindo o dia a dia de todos. Nesse cenário, o atingimento vai chegar até a parte não consumidora. Afinal, sendo destinada a empresas e sendo empresas feitas por humanos para humanos, todos vão se beneficiar do conceito.
Daí vem a percepção inserida no título deste artigo: “você ainda vai ter uma”.
Transformação digital, o que é afinal
A partir do nome em si, talvez muitos confundam o conceito propriamente dito. Podem entender Transformação Digital como “processo de substituição de toda e qualquer atividade corporativa e pessoal por ferramentas digitais”.
Entretanto, não é bem assim. Trata-se conclusivamente de planejamento estratégico de uso de soluções em TI de qualquer nível. Como objetivo, tem-se melhoria em muitos aspectos produtivos - se não em todos - incluindo-se produção de serviços. O alvo é aumento do índice de eficiência com diminuição de custos.
No frigir dos ovos, é pura e tão somente um plano de negócios atualizado, roteirizado em detalhes segundo necessidades, missão e visão da empresa.
DX - Transformação Digital - visão básica
Essa possibilidade de confusão é notável até mesmo em pessoas que trabalham com TI de alguma forma - certamente não aqueles ativos em desenvolvimento. Muitos cujas atividades são, diga-se, paralelas talvez ainda não percebam a Transformação Digital.
“Basicamente, bem basicamente, DX é a ideia de aproveitar, incorporar todas as possibilidades digitais na rotina corporativa, sejam elas por projeto prático ou ideológico”, diz Ávallon Azevedo, First Lead Frontend Engineer no Bexs Banco. Para isso, há uma série de passos que especialistas chamam de disrupção organizacional. “Esses passos devem levar as empresas para um mundo de individualidade em softwares, ou seja, cada vez mais, as corporações vão precisar se tornar produtores de ferramentas digitais independentemente do ramo de negócio”, completa Azevedo.
Claro, tanto quanto o carro a álcool e a própria DX (sigla usada para Transformação Digital) não se destinou nem se destina a todos, a produção de ferramentas digitais mencionada por Azevedo não será para todas as empresas. A adaptação da rotina corporativa para produzir seus próprios softwares se destina às grandes e médias.
Indo aos poucos
Por um lado, “disrupção” dá impressão de interrupção instantânea e imediata, por outro, “disrupção organizacional” deve requerer algum tempo para ser completamente absorvida. Contudo, especialistas em economia tradicional e digital preveem grande pressão do mercado como um todo sobre as empresas mais expressivas em cada nicho.
Afinal, a iniciativa de permanecerem antenadas nas inovações, absorvê-las de maneira efetiva e ainda criar ambiente interno para inovações próprias custa caro. E leva tempo. E requer ações à parte dos setores ligados a TI, como RH, Marketing, Finanças.
Indo aos poucos, mas nem tanto. Wipro Technologies é uma empresa indiana com experiência em análise de mercado sob o ângulo de TI. São diretores de criação, estrategistas de mídia, pensadores de marketing etc. Algumas de suas pesquisas são reveladoras.
Descobriu-se que, em âmbito mundial no universo das médias e grandes empresas, 92% delas buscam a DX. Apesar disso, quase 40% dos CEOs interrogados relatam dificuldades na concepção do conceito, o que tem atrapalhado a criação e implementação da Transformação Digital. Assim, a capacidade digital de suas ideias e ações mostra-se um tanto prejudicada.
DX saudável
Para Laura Santos, sócia diretora da CaptaMercado, Sales & Marketing Lead Generation, “há maneiras e maneiras de se implementar a DX; sempre brinco dizendo que ‘criar uma estratégia DX requer algumas estratégias' preparatórias”.
A cultura
Como dito, a Transformação Digital é o aproveitamento de oportunidades tecnológicas. Nesse cenário, cada nicho de mercado de cada país detém seus próprios meios de oferta de e capacidade. Com isso, cria-se a cultura corporativa. É preciso entender que ela, a cultura, vai mudar.
Dessa maneira, a postura e a visão de CEO, CIO, CTO etc. devem acompanhar o sentido de transformação. Afinal, toda mudança - traduzida aqui por "transformação" - requer decisão humana. Sendo, certamente, esperado reações em contrário por parte de postos-chave na organografia, é evidente que o jogo de cintura de “postos-chave-mor” precisa ser eficiente.
Planejamento
O próprio nome do conceito, Transformação Digital, infere planejamento. Qualquer alteração em modus operandi corporativo precisa ser estudada, reestudada, analisada, reanalisada antes de qualquer iniciativa. Afinal, é uma mentalidade corporativa que está em movimento, em modificação.
"Os primeiros passos são essenciais na captação do conceito por parte dos colaboradores envolvidos”, Azevedo explica. “O mínimo indício de ineficiência pode levar tudo a perder.”
A melhor maneira de iniciar o planejamento da Transformação Digital é planejar (ou replanejar) a década seguinte da vida das empresas. Algumas menos preparadas planejam apenas metade desse tempo, mas tal não é aconselhável justamente em razão da intensidade da evolução tecnológica prevista para os próximos anos.
O não planejamento
Azevedo, de alguma forma, discorda da ligação entre “Transformação Digital” e “planejamento”. Diz ele: “Nem toda transformação digital é planejada. Aliás, poucas são. A grande maioria é apenas uma consequência natural de algum evento social ocorrido. O melhor exemplo em que posso pensar é a pandemia. No mundo pré-pandemia, poucos diretores de empresas acreditavam no home office. Hoje, é o inverso. Depois de observarem o avanço nos resultados da empresa decorrente da melhora de vida dos colaboradores, o home office e/ou o modelo híbrido de trabalho tornou-se um padrão para algumas áreas, como TI. Observa-se que isso não foi planejado, tampouco querido pelas empresas. Foi naturalmente impulsionado pelo evento social mais crítico que tivemos neste século”.
A confusão mencionada
Um resumo informal de opiniões de especialistas diversos pesquisados para elaboração deste artigo alude à confusão mencionada acima. Eis: “um dos maiores problemas da Transformação Digital é o alcance que o conceito impõe. Pode ser muita coisa e, ao mesmo tempo, quase nada”.
Nesse sentido, líderes podem eventualmente limitar a ideia às questões tecnológicas. Em verdade, como demonstrado, trata-se de mudança de cultura. Todavia, não apenas disso. Para Laura Santos, “a Transformação Digital começa com uma pergunta simples: ‘pra quê?’”.
Andanças
“Os diretores de qualquer empresa que tencione assumir a DX em seus processos precisam vê-la como uma andança e não como um passo”, aconselha Azevedo. É um caminho longo, não necessariamente árduo. É longo porque o fluxo de inovação é constante e exponencial; não é árduo se seguir um planejamento adequado.
Ainda que a empresa seja grande, o ideal é começar como pequena, paulatinamente.
Veja mais na Prensa
Há uma série de artigos que aborda a Transformação Digital publicados na Prensa. São abordagens diferenciadas que se tornam importantes para construção de visão prática, conceitual e fundamentada sobre o tema. “Transformação digital e o Cinema”, “Os três passos da transformação digital: estudo de caso Banese” e “Dados e plataformas: pilares da transformação digital” são três deles.
Já o site Brasil Escola informa que “o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) consistiu em uma iniciativa do governo brasileiro de intensificar a produção de álcool combustível (etanol) para substituir a gasolina. Essa atitude teve como fator determinante a crise mundial do petróleo, durante a década de 1970, pois o preço do produto estava muito elevado e passou a ter grande peso nas importações do país”.
Parece não haver paralelo entre o Proálcool e a Transformação Digital, observam aqueles especialistas de mercado. O primeiro parece ter arrefecido por estratégias político-econômicas destrambelhadas e desconexas da realidade; a segunda, esta sim, não apenas contempla a realidade como pode ser seu condutor.
Este artigo foi escrito por Serg Smigg e publicado originalmente em Prensa.li.