Transhumanismo já é seu óculos de grau
Scruton já dizia que uma das principais características dos seres humanos era a de pertencimento social e a de ligação individual. Por isso, o ser humano viveria em comunidade objetivando assegurar sua segurança e felicidade - que seriam aplicações práticas de pertencer a um grupo. Essa comunidade serviria como fonte para sua própria proteção, além de haver uma ligação individual, ou seja, uma identidade.
Huxley cunhou o termo Transhumanismo em uma palestra em Washington, EUA. A ideia era originalmente ligada a uma condição de evolução do homem, não mais meramente biológica, e sim, tecnológica. Ao contrário de Scruton, o homem não teria mais uma identidade física, uma aparência semelhante aos outros, e muito menos um senso de pertencimento social, ele seria um homem-máquina, oriundo de outro grupo, o dos transhumanos.
A ideia do homem-máquina já vem sendo prevista desde as Viagens de Guliver, com o motor, como cita CRUZ; CÂMARA, 2019. Entretanto, ao contrário do que se mostra em Altered Carbon, onde o humano agora muda de corpo quando ‘morre’ e sua ‘alma/mente’ é “bipada” em outro corpo através de um chip implantado, a tecnologia transhumanista está em nosso meio mais do que pensamos.
Os óculos de Grau é uma invenção do século 19, contudo, também é uma forma de “hackear” o corpo. No início dos tempos, era necessário para os humanos terem uma boa visão, principalmente os arqueiros e caçadores homens, senão, não conseguiriam comida para sobreviver.
A própria seleção natural fez modificações genéticas a fim de preservar a vista das pessoas, como os olhos “puxados” dos asiáticos ou de esquimós. Contudo, com a utilização de velas e leituras durante períodos noturnos, a vista cansada começou a surgir dentre a população.
Nas últimas décadas o número de míopes cresce cada vez mais, tudo por conta das famosas telas azuis dos Smartphones, computadores, tablets entre outros aparelhos. O próprio Kindle foi lançado pela Amazon com um propósito de ‘atenuar’ os problemas gerados pelas telas, trazendo uma tecnologia inovadora, todavia, ainda traz riscos à saúde.
Ao contrário do que a grande mídia propaga, o transhumanismo está nas pequenas coisas, como na implementação do ‘chip da beleza’, hormônios para impedir gravidez indesejada, ou até mesmo uma perna mecânica, trazendo melhor qualidade de vida a uma pessoa com deficiência. Essas pequenas implementações, em conjunto com o uso da realidade aumentada, já são formas de transhumanismo sutil e bem mais possíveis de serem vistas ao seu redor.
O pokemon go foi uma febre anos atrás, e agora, o próprio iphone trouxe uma funcionalidade de medir o tamanho dos objetos somente colocando o visor na frente deles. O pequeno aparelho que fica em nossas mãos é mais um exemplo de transhumanismo, visto que, muitos de nós, até levam o ‘pequeno’ para o banheiro.
Ele se parece muito mais com uma extensão de nós mesmos! Ainda que no último artigo tenha falado sobre a possível consciência de uma IA, a realidade é que no atual estágio da tecnologia- ou o que é contado para nós- estamos bem longe de uma dominação maquinária. Estamos bem mais perto de uma guerra civil do que uma matrix.
No meu outro artigo sobre os NFTs serem homens comuns eu comento que a possibilidade mais viável dessa tecnologia é a aplicação e implementação em casos ‘reais’ ou físicos, como utilizar NFTs em compra e venda de imóveis, automóveis e bens da população em geral.
As distopias e o cyberpunk, ainda que possa ser o desejo de muito, sempre traz a ideia de libertinagem e de infelicidade junto. As cidades são na maioria das vezes retratadas como sujas, desordenadas e com um caos político. Será que realmente queremos um futuro assim?
@renatadegoisoficial
Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.