Tudo sob controle
Preciso admitir. Sou de uma geração onde controle remoto era ficção científica. Algo para controlar robôs malignos que dominariam a Terra. Plano de cientista maluco.
O primeiro controle remoto ao qual tive acesso era justamente num robozinho que meu avô trouxe do Paraguai, ligados por um fio. Apertando um botão ele andava, outro ele acionava uma metralhadora dupla presa no peito, que fazia barulho e piscava luzinhas. Por sorte, eu não era um cientista maluco.
Filhos remotos
Havia outro tipo de controle remoto. Para a TV. Mas não como esses de hoje. Por muitos anos, filhos foram um tipo precioso de controle remoto, sofisticados a ponto de obedecer – quase sempre – a comandos vocais.
Você estava ali, assistindo TV em família, aí sua mãe, pai, avós ou qualquer um com o mínimo de autoridade sobre você pedia… “coloca no 5… coloca no 4… coloca no 13…”. E lá ia você, até o televisor, rodando o barulhento seletor que fazia “plec, plec, plec”, até o canal desejado.
Este tipo de controle remoto era muito usado também para regulagem de imagem. Quando você mudava do 5 para o 13, por exemplo, era necessário ajustar a antena para melhorar a recepção dos sinais. Parece loucura agora, nos tempos da televisão aberta digital, mas na era analógica, era assim que funcionava. Ou não funcionava. A posição de antena para o canal 2 nunca era a mesma para o canal 4; talvez fosse para o 13 ou para o 5. Com sorte, o 7 estaria razoável. Em São Paulo, se sintonizasse o 11 com perfeição era certeza ter desregulado os demais.
Isso foi corriqueiro por anos a fio. Então imagine meu espanto – e alívio – quando em meados dos anos 1980, surgiu o primeiro controle remoto. Com fio. Era um avanço, e os televisores com este recurso eram caríssimos. Demoramos para ter um em casa.
Pulando corda
Na verdade, o controle remoto em casa só foi aparecer mesmo em 1988, com o nosso primeiro videocassete. Duas cabeças, VHS, da Sharp. Comprado em consórcio, com dois anos de prestações. E o controle remoto? Com fio, claro!
O controle remoto com fio tinha uma vantagem. Dois metros de cabo, te permitia ficar no sofá confortavelmente, enquanto dava play na fita de vídeo (que você alugou numa videolocadora). Ele também avançava, retrocedia, um assombro!
O revolucionário e perigoso controle com fio | Imagem: Mercado Livre
E a desvantagem? O fio. Pensa no meio da sala, aquele baita cabo estendido. Se o recinto em questão fosse passagem para outro cômodo da casa, como uma cozinha ou banheiro, era tragédia anunciada.
Vi com certa frequência pais, irmãos e até eu mesmo saltando aquele comprido cabo atravessado, com talento acrobático. E diversas vezes, fracassando miseravelmente.
Um tropeção naquilo nunca acabava bem. Ou um tombo constrangedor na sala, ou o tombo somado ao aparelho de videocassete caindo da estante, não raro levando junto a pessoa que estava com o controle na mão na outra extremidade.
Tudo ao mesmo tempo agora, simultaneamente!
Quando chegou o controle remoto sem fio, finalmente, foi um alívio! Usamos tanto que as pilhas acabaram logo. Descobrimos os efeitos benéficos e maléficos do zapping.
Foi mais ou menos na época da multiplicação dos canais, e da chegada da TV paga. Era mais ou menos como agora, que ficamos duas horas procurando o que assistir no streaming. Mudávamos incessantemente de canal e acabávamos não assistindo nada direito.
Dos joguinhos ao celular
Finalmente, chegamos na era do streaming. Era o início da década de 2010. Tínhamos um lendário Nintendo Wii. Sim, aquele videogame com joysticks que se comunicavam por um sensor. Você podia jogar boliche (eu era muito bom nisso), beisebol, dirigir, viver aventuras e batalhas, jogar bola, e eventualmente num momento de entusiasmo, jogar o joystick na tela do televisor, causando um belo prejuízo. Não à toa, os gadgets vinham com uma cordinha para prender no pulso.
Controle do Nintendo Wii: a cordinha não estava aí à toa | Imagem: Netflix
E não é que além de tudo isso, os Nintendo Wii eram excelentes set top boxes para a Netflix? Pois é, aí foi meu primeiro contato com a famosa empresa do N vermelho. Muito antes de Stranger Things, La Casa de Papel e outras coisas. Tínhamos muitos filmes (alguns bem desinteressantes), algumas séries e enfim, aquele controle remoto servia para outra coisa além de jogar e despedaçar televisores.
Algum tempo depois, entrei nesse caminho sem volta do streaming, comprando uma Apple TV. Um dos primeiros modelos. Funciona até hoje. E o controle remoto? Ah, que controle remoto! Três botões. Minimalista e absolutamente eficiente. Até algum botão resolver dar uma engripada. Aí, não há o que resolva.
Foi aí que descobri um app muito interessante, da própria Apple, chamado Remote. Funciona que é uma beleza, controlando a Apple TV ou qualquer outro periférico criado pela Grande Macieira. Funciona mesmo. Quando quer. O meu perdeu contato com a Apple TV há uns três anos, e não há quem o faça entender.
Um muito de tudo
Discorri todos estes parágrafos falando dessas maravilhas controle remotianas, para entrar finalmente no que interessa. Acho que todo mundo aqui já ouviu falar no YouTube. Não? Você que tá lendo aí no fundo, não conhece? Bem, é um serviço de vídeo que nasceu como rede social, e hoje em dia é muito mais próximo de um grande provedor de streaming, com todo tipo de conteúdo. Tudo mesmo.
Os vídeos do YouTube podem ser assistidos numa SmarTV, com qualidade de imagem até 4K. Coisa linda. Podem ser acessados também por notebooks, desktops, tablets, celulares… se brincar, até na monitoração das geladeiras inteligentes. Se embora, quem assiste a um vídeo na geladeira? Enfim…
Há um porém, que se tornou um tremendo problema na vida do YouTube. Ele permite comentários, chats ao vivo, função de likes e dislikes, mas isso não funciona (e nem seria confortável) na imensa maioria das SmarTVs; logo se detectou que 80% dos espectadores usavam o celular como segunda tela para interagir. Mas para isso, precisavam acessar o mesmo vídeo tanto no televisor quanto no mobile.
Conexão total
Como diriam as Organizações Tabajara, seus problemas acabaram! Em 1 de junho, a plataforma anunciou um novo recurso, chamado “YouTube para Sala de Estar”. A partir de agora, é só acessar a mesma conta do YT tanto no televisor quanto no celular. Ok, isso você já faz, certo? Mas agora, vem a mágica!
É necessário apenas ativar a opção “Conectar” no app do celular e voilá, ambos trabalharão como uma coisa só, inclusive como controle remoto (só pra fazer sentido com todo o resto deste artigo!).
O SmarTV passa a receber todos os comandos do celular, e todas as ações, como comentários, likes, outras interações, serão feitas diretamente via segunda tela. Tudo muito mais simples e objetivo.
Essa integração mostra um posicionamento importante do YouTube, um olhar mais atento a quem continua fiel à velha tela grande da TV, caminhando cada vez mais para a dita convergência das mídias, que ouvimos falar há mais de uma década.
Tudo caminha para a inter-relação dos dispositivos. Quanto mais iniciativas nesse sentido surgirem, o consumidor e usuário agradecem.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.