Uma crônica sobre crônicas
As crônicas são um espelho do que acontece no nosso dia a dia, um retrato do que acontece e também do que deixa de acontecer.
Das dores da vida até as questões mais profundamente filosóficas, as crônicas parecem mesa de bar, onde se discute de tudo um pouco, como por exemplo: quem nasceu primeiro? O ovo, a galinha ou a espiga de milho?
Por ter um texto mais simples e ser utilizada para descrever fatos do cotidiano, a crônica facilita a aproximação do leitor, como uma conversa entre amigos, tornando a leitura leve e divertida. Em geral, as crônicas tratam de temáticas comuns sobre assuntos que estão na “boca do povo”, apresentando uma crítica de forma objetiva, sem muitos detalhes e, muitas vezes, fora dos padrões textuais com que estamos acostumados. Ou seja, a crônica não tem muita frescura.
Em resumo, ela pode ser entendida como um retrato verbal particular dos acontecimentos urbanos (ou rurais). E, embora não seja uma regra, a crônica relata de forma diferenciada as ocorrências, em tom crítico, com humor ou até mesmo lamentações.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples e espontânea, situada entre a linguagem oral e a escrita.
Elas trazem impressões, ideias ou visões da realidade, em textos curtos e de fácil compreensão, numa linguagem despojada e simples, totalmente compreensível para o leitor comum. Normalmente as crônicas possuem caráter crítico sobre comportamentos e situações. E muitas vezes carregam um humor irônico e até mesmo sarcástico.
O Brasil sempre teve grandes cronistas, como Vinicius de Moraes, Machado de Assis, Clarice Lispector, Lima Barreto, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade etc.
As crônicas são grandes e antigas companheiras minhas, fazem parte de um momento só meu. Funcionam como um mergulho dentro de mim mesmo, como uma oração, uma reflexão sobre tudo o que acontece e pode acontecer nesse mundo louco em que tentamos viver a cada dia.
A crônica serve ao espírito como alento. Trata-se de um ato de reflexão compartilhado com o leitor, como se fosse um diálogo, embora de uma pessoa só.
Na realidade, a crônica é, por parte do autor, uma doação de sentimentos, de pensamentos que vagueiam por sua mente, frutos que são do que viveu e vive. O leitor é o porto onde tudo isso pode estacionar, tocar. Ou não.
Um brinde às crônicas, essa conversa, esse bate-papo entre autor e leitor sobre o mundo em que vivemos. Ou melhor, sobrevivemos.
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.