Uma IA venceu um concurso de Artes nos EUA
Que a Inteligência Artificial está se superando e se aperfeiçoando cada dia mais, todos sabem. Alguns meses atrás um engenheiro de software da Google soltou uma frase de que a IA deles pudesse estar criando consciência, e muitos disseram que era impossível pelo estado atual da tecnologia (você pode ler mais sobre isso aqui). Contudo, parece que o robô chegou a outro nível.
A Cosmopolitan, há algum tempo, publicou em sua revista uma capa feita por uma IA, mas parece que ela não vai ser a única a aderir isso. Existem vários sistemas de IA criando imagens exuberantes, e muito graciosas, algumas até sendo utilizadas comercialmente. Só que não para por aí: uma dessas imagens ganhou um concurso de artes no Colorado-EUA.
A Ira dos campeões
Alguns artistas e críticos de arte ficaram bem chateados com o resultado do concurso, afirmando que não se tratava de uma criação artística e sim de mero algoritmo. Ainda, uns disseram, que seria somente “apertar alguns botões" e, por isso, não poderia receber o título de obra de arte.
Para o Dr. Diogo Cortiz, os principais modelos de IA criam imagens a partir de uma descrição de texto. Ele ainda afirma que realizou um experimento para traçar sua tese.
Ele pegou duas ferramentas, o Daall-e 2 e o MidJourney, fez alguns testes e, nas palavras dele, “somente consegui gerar imagens que estavam longe de serem uma obra de arte”. Ele alega que foi devido a não ter tempo nem habilidade necessária para definir e lapidar a descrição da imagem que ele queria obter. Ainda afirma que a IA somente realiza o que está descrito, não sabendo o que gerar, ou como gerar. Basicamente, é uma ferramenta de trabalho que, segundo ele, “só obedece a ordens”.
O pesquisador ainda diz que:
“Os modelos são treinados com uma quantidade absurda de pares de imagens e de suas descrições. Então, quando pedimos algo, o que ela faz é combinar padrões apreendidos em imagens anteriores para criar algo novo. Se o usuário pedir uma coisa simples, assim será o resultado.”
Para ele, a IA seria uma ferramenta que ajudaria a criatividade humana, e ainda diz:
“Tinta, óleo e tela também são ferramentas, mas não é todo mundo que produz uma grande obra. O mesmo acontece com modelos de IA.”
O autor da obra que se utilizou da IA como ferramenta afirma que teve que realizar mais de 900 interações para chegar no resultado final, contabilizando uma dedicação de 80 horas. Seria um processo de construção, onde teria que lapidar a imagem em várias camadas, pedindo para a máquina adicionar X ou Y objetivando melhorar a obra.
Dessa forma, para o doutor, existiria um processo autoral por detrás, já que, na opinião dele, para se chegar a um resultado semelhante ao gerado pela IA, dependeria de muita técnica, habilidade, e desprendimento de tempo, além de, claro, talento natural.
Ele termina dizendo que
a criatividade não está na máquina, mas no artista que faz os pedidos de acordo com a intenção. A IA é como um pincel mágico. O mais excelente é que estamos entrando em uma fase inédita de coautoria humano-IA.
E quais seriam os desdobramentos disso?
Bem, ainda não temos certeza. Talvez, muita gente tente e em grande parte não seja considerada como uma obra de arte, mas isso depende dos críticos e do que é arte para a época.
DreamWriter, IA e direitos autorais
Em 2020 uma IA ganhou direitos autorais na China, a partir de uma decisão judicial. As empresas estavam brigando pela patente da criação, e a corte chinesa decidiu que era propriedade autoral da própria máquina.
O ponto nodal é que: direito autoral, pela convenção internacional, é classificado como sendo “obra do espírito criativo do ser humano”, ou seja, a legislação literalmente afirma que só pode ser algo advindo de um humano. (parece que aquele macaco de Caras & Bocas da Globo não poderia ser um artista :c)
Dessa forma, a pergunta que fica no ar é: se é uma interação humano-máquina, depois dessa decisão chinesa, os direitos autorais dessa obra que ganhou o prêmio no Colorado deverão ser repartidos?
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Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.