Vendedores de quadros do Largo da Ordem
A Feira do Largo da Ordem, em Curitiba, abre espaço para que pintores apresentem seus quadros a um público variado. Foto: autoria própria.
Entre as muitas barracas da feira do Largo da Ordem, uma estrutura de metal, semelhante a uma grade. Nela, quadros coloridos que retratam cenários curitibanos e parisienses. Abaixo da grade, uma placa: “favor não fotografar os quadros”. Ao lado das obras, o seu autor, Plácido Fagundes.
Na feira desde 1997, Fagundes vende a turistas e visitantes locais suas pinturas, as quais, segundo ele, são inspiradas no Impressionismo. Com uma variada paleta de cores, o pintor retrata cenas vistas por ele em seu dia a dia e em suas viagens. A razão da presença da placa, afirmou Fagundes, são os problemas com plágio dos quadros.
Além de Fagundes, a feirinha do Largo conta com muitos pintores que, desde iniciantes a verdadeiros “veteranos” na prática de vender arte na rua, montam seus estandes todo domingo de manhã.
Enquanto Fagundes expõe seus quadros em meio às barraquinhas de artesanato, a maioria dos artistas concentra-se em frente ao Palácio Garibaldi. É ali, do outro lado da rua, que David Ribeiro exibe suas obras, inspiradas em diversos estilos, como disse o próprio artista, acrescentando que busca sempre a originalidade ao pintar. Ribeiro contou preferir as ruas, pois, “ao contrário das galerias, não são tão elitizadas”.
Imagem: David Ribeiro e suas obras
Próximos a Ribeiro, diversos quadros trazem imagens de algumas das principais ruas curitibanas. O pintor Paulo Darumá contou ter começado a pintar as cenas urbanas por conta da sensação de reconhecimento que elas geram nas pessoas, que já não possuem tanta identificação com as paisagens rurais, inspirações dos artistas anteriormente.
Darumá disse tirar as próprias fotos das cenas que deseja usar como base para seus quadros, falando em seguida sobre o tempo em que deixara a feira para fazer uma pós-graduação em Filosofia, matéria que leciona atualmente. “Uma coisa complementa a outra na renda”, afirmou o artista, referindo-se aos dois ofícios que exerce.
Imagem: Darumá e as cenas urbanas
Ao lado das obras de Darumá, Márcio Luiz expõe seus quadros, que mesclam pintura, escultura e colagens. Há 6 anos na feira, Luiz disse procurar temas variados como inspiração. “O preço depende mais do trabalho que tive no quadro do que do tamanho”, afirmou o artista, que contou também trabalhar com esculturas em madeira. Sobre as vendas, Luiz disse acreditar que o trabalho dos artistas da feira costuma ser desvalorizado, o que prejudica, principalmente por muitos, como ele, terem as obras como única fonte de renda.
Além da pintura, ele cria os próprios moldes, com os quais, posteriormente, modela os detalhes em resina. É o que dá o efeito de relevo e faz com que o trabalho do artista seja tão minucioso.
Imagem: as pinturas com relevo de Márcio Luiz
Ao contrário de vários artistas entrevistados, como Plácido Fagundes, citado anteriormente, Márcio Luiz não vê as fotografias como um risco para suas obras, no sentido de submetê-las a plágio, mas como uma forma de divulgação positiva.
Além de expor na feira, ele também vende suas obras na Internet. Entretanto, afirma que a procura online é muito inferior à demanda que há na rua, onde é direto o contato entre o artista e quem compra a obra.
Por acontecer em um dos principais pontos turísticos de Curitiba, a Feira de Artesanato do Largo da Ordem é o melhor lugar para se vender artes como pinturas e esculturas, segundo os próprios vendedores de quadros que expõem suas obras por lá. Eles afirmam que é melhor vender na feira por conta da facilidade e do preço, pois assim conseguem colocar um valor justo para suas criações.
As estruturas de metal ou de madeira, semelhantes a grades, onde os quadros são expostos, servem para que os visitantes da feira possam vê-los, apreciá-los e se interessarem por comprá-los.
Os vendedores ficam em lugares específicos da feira, na concentração em frente ao Palácio Garibaldi, ou perto do Cavalo-Babão (famoso chafariz curitibano). Para conseguir um lugar mais perto de onde os visitantes passam, é necessário ter mais anos de experiência, estar ali há mais tempo.
Este é o caso de Vanilda, uma pintora que está na feira há 35 anos. Vanilda conta que já tentou expor seus quadros em outros lugares, como na Rua XV de Novembro, mas considera a feirinha como o melhor lugar para isso, pois, por ser um grande ponto turístico, acaba se tornando um lugar estratégico para vendas.
Imagem: Vanilda vende alguns quadros menores
Ao lado de Vanilda, encontramos Sileny Arantes. Formada em Belas Artes, Sileny vive da arte, dando aulas e pintando quadros para expor e vender. Suas obras variam entre figura humana e meios urbanos, tendo como principal inspiração sua cidade natal. A artista conta que já teve seus quadros expostos em galerias, mas teve que "fechar as portas" quando entrou na feira, por conta da diferença de preço.
Imagem: Sileny e suas obras
Muitos artistas comentaram sobre a dificuldade de expor em galerias. Segundo eles, o lucro que o artista recebe não compensa o valor altíssimo ao qual o cliente é submetido e a visibilidade é bem inferior à mostra nas ruas.
Marcus Muller é um exemplo dessa situação. O artista expunha em galerias antes, mas acabou por retirar suas obras por conta dos preços a que eram vendidas. Começou a vender na Feira há 18 anos, e acredita que a venda de suas obras tenha melhorado muito, tanto por conta do preço quanto por conta da acessibilidade
Imagem: Marcus Muller com seus quadros
Adiante deles, encontramos Matilde. A pintora está na Feira há 10 anos com seus quadros floridos e com temas da natureza. Matilde conta que tem telas em outros países, sendo algo que a feira permite ampliar, por conta da quantidade de turistas e visitantes. Relata também que suas vendas são complementação do dinheiro da renda, e que além dos quadros, ela vende doces e bolos durante a semana. A artista não gosta de ser fotografada.
A Feira do Largo da Ordem acontece todo domingo, das 07 horas da manhã até as 02 horas da tarde. É possível encontrar os vendedores de quadros em muitas partes da feira, mas principalmente entre o Palácio Garibaldi e o Cavalo-Babão. Seus preços variam entre R$50 e R$3.000, mas esses valores dependem tanto do tamanho do quadro quanto do trabalho que os artistas tiveram para fazê-los, uma vez que utilizam diferentes técnicas. De modo geral, os quadros acompanham o mercado da feira, conforme disse o artista antes citado, Paulo Darumá.
Este artigo foi escrito por Giovana Lucas e publicado originalmente em Prensa.li.